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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ninguém merece ser estuprada pelo sr bolsonaro

Existe uma categoria de políticos que aguarda pronta deposição por falta de decoro.
Nela há a sub (bota sub nisso) subcategoria dos políticos estupradores. Aquele indiano que disse recentemente que estupro é geralmente lamentável mas às vezes necessário (a vítima tinha por sinal falecido). Bem, pode ser que lá na Índia já seja um ex-ministro.
Aqui no Brasil o que precisamos incluir na subcategoria é o nobre deputado Bolsonaro, cujas proezas contra a deputada Maria do Rosário se tornaram notórias. Censurá-lo, como foi censurado, por falta de decoro não basta. Parece que ela o vai processar. Não basta. Fora com o futuro ex-parlamentar.
Que na Índia a posição da mulher tem muito para ser melhorada ainda, sabemos. E o Brasil pode pensar que está muito à frente; aí chega o deputado e abre a boca no plenário.

Nem você, nem eu. Nem a deputada Rosário. NINGUÉM merece ser estuprada pelo deputado Jair Bolsonaro.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

sempre os ventos de oyá

A mais recente crônica aqui era sobre a chuva, que parecia não querer vir- e veio.
Hoje, dia Dela... dia de Santa Bárbara... as nuvens voltaram, e que sejam bem-vindas pois do início da semana para cá estava esquentando.
Temos que agradecer que apesar de todos os desmandos humanos ainda chova, que ainda haja ventos frescos. Implorar a Ela e a São Francisco- hoje é o último dia 4 do ano- que se refloreste, que se plante em sacadas, varandas, terraços, quintais  e calçadas para atrair mais água.
Venerar cada gota que cair.
Pedir vergonha na cara para tanta gente cara de pau, inclusive os que fingem esquecer, ou preferem ignorar, como foi a ditadura, como são as ditaduras, e pedem absurdos que me recuso a escrever.
Iansã nos sensibiliza para VER a injustiça; mesmo se em geral pedimos a Xangô que nos ajude a resistir a elas. Na verdade trabalham juntos.
Salve o vento que traz a nuvem, a nuvem que traz o trovão, o trovão que traz a chuva, a chuva que traz a água, sem a qual não há vida. Que os ventos tenham muitas folhas onde se perfumar ao passar...
Epa Hei Oyá.

sábado, 15 de novembro de 2014

salve a chuva

Paulinho da Viola em mais um recital histórico no Circo Voador, onde se apresentou tantas vezes (sem contar que nos Arcos, ao ar livre, lançou "Bebadosamba"...). Platéia de todas as idades, coreando parabéns nos intervalos, casa lotada. Lá fora, muita chuva.
É sexta-feira, Paulinho trajado de branco, e por coincidência a data oficial do nascimento da Umbanda é dia seguinte (hoje). É certo que não é a maior data nossa, a maior é Treze de Maio e pronto; a maioria dos terreiros nem festejam o 15 de Novembro, sabendo bem que o batuque e a magia existiam antes da chancela do nome, e que a vibração não parou de evoluir e se entretecer desde aquele século e pico. (E que lástima: a casa de São Gonçalo , do nascimento "oficial",foi demolida poucos anos atrás...)
Não se repetem iguaizinhos os shows deste ano, mudam a ordem dos sambas, podem vir brindes preciosos como o ponto de Boiadeiro que Clementina entoava. Não falta a homenagem á antiga jaqueira da Portela, que hoje só vive no samba e talvez ainda nas folhas que Paulinho levou para casa no bolso.
Mas um espetáculo maravilhoso de Paulinho não é novidade alguma, todos emocionam sempre. De certa forma o ponto alto veio antes quando o apresentador do velho e novo Circo mandou:
- O carioca costuma torcer o nariz quando chove... mas eu peço: em tempos de seca, água faltando nas torneiras, que bom esse tempinho, esse frio, essa chuva boa. Vamos bater bem alto palmas para a chuva!
No que foi atendido com entusiasmo.
Sem chuva, nem jaqueira, nem boiadeiro. Saravá Umbanda, salve o imenso brilho de Paulinho da Viola. Acima de tudo salve a chuva, salve a água:
Ko se ewe, ko si omi, orixá ko si.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

onde canta o sabiá

Uma coisa agradável e útil teve o segundo turno da eleição: sem ele uma senhora de Botafogo não teria ficado sabendo qual era aquele passarinho que ela sempre ouvia e nunca identificava.
Olha que identificar canto e nunca ter achado quem lhe dissesse o nome do cantador indica muita ignorância entre todos os contatos da senhora, o que deixa a gente pesarosa.
Por um acaso nos cruzamos, ela e a amiga (no referido perfil de ignorância) eu e o canto do sabiá-laranjeira, saiu felicíssima com a informação e ainda levou a descrição física e do canto do sabiá-branco, para reconhecê-lo quando o vir.
Parecido com o laranjeira é fracionalmente menor e tem o peito claro, vagamente esbranquiçado; embora não chegue a ser branco não tem nada do tom vibrante do peito do primo.
E o sabiá-branco canta o Peixe Vivo.Ou por outra, ensinou o compositor mineiro a compor a melodia. O passarinho só canta o equivalente a "Como pode o Peixe Vi?" e o moço fez o resto. Espero que em Minas seja tido como ave emblemática do estado.
Falando de cores esse segundo turno, no Rio, teve roupa tomate pros partidários do PT, azul escura pros do adversário, verde-amarela pros que nesse iam votar não por convicção mas contra a presidente, e preta pros que iam anular, indignados por ter de escolher entre essas duas opções. Pior que esse segundo turno seria não voltar, então votei serena no sol do meio-dia....








sábado, 4 de outubro de 2014

salve (o) São Francisco

Hoje é dia de luto.
A quinta decapitação foi noticiada (por que será que as vítimas repetem o que lhes mandam recitar?), ou a 4a, dependendo da conta de cada um -mas por que não contar a da Argélia que indignou árabes (e) franceses? também é dia de São Francisco, santo venerado por gregos e troianos mas cujo nome não bastou para salvar o seu rio.
Riacho do navio vai cair no Pajeú, o rio Pajeú vai despejar no São Francisco, o rio São Francisco vai bater no meio do  mar...
Sem água na nascente isso vai ficar difícil. Vergonha!
Também ficamos cientes, pela Avaaz, pois o jornal aqui não noticia, da sinistra prática sul-africana que consiste em matar leão pra torrar os ossos, ingerir o pó e aumentar potência sexual. E existe um documentário premiado em que o diretor viu emergir um gatinho de uma obra e nada fez para ajudá-lo a evitar o soterramento que sabia ele ser iminente. Se fez, não registrou. Clio não quer saber de gatinhos, é fato; gatos, cidades e pessoas, criação e construção lhe são sacrificados, mas daí a não intervir...   
São Francisco está triste e como diz o meu primo, o mundo está muito ruim.

sábado, 27 de setembro de 2014

Beijada

Umbandistas tendem a confundir ao falar o Dia das Crianças, data comercial puramente, que pessoalmente faço questão de ignorar; e dia das Crianças, dia com d pequeno e Crianças com C maiúsculo, que vem a ser hoje 27 de setembro. Para nós hoje é o dia das Crianças real.
Quando era muito pequena e assolada por pesadelos aterrorizantes, sopraram-me dentro do meu sono uma forma de fugir deles acordando. Consistia em berrar a palavra PÃO!
Não tenho ideia se berrava alto ou só no sonho, mas berrava, e acordava, interrompendo o pesadelo.
 Muito, mas muito depois, soube que quem me ajudava era o meu primeiro guia, Miguelzinho do Pão, que só se deu a conhecer numa das duas ou três noites em que tomei ayahuasca, pra conhecer. O chá trouxe à tona os integrantes da "coroa" que nunca tinham trabalhado em meu corpo, esse menino, o Vovô, o Marinheiro. Pois todos carregam um "casal" de Pretos Velhos, de Exus e de Crianças mas muitos morrem sem conhecer um das metades de cada casal ou dupla.
Minha gratidão pelo Miguelzinho e pelas Crianças em geral, que trabalham muito, é imensa. Precisamos agora de um Miguelzão que nos faça despertar deste pesadelo que vivemos de decapítações, intolerância e depredação.
Para o dia de amanhã nascer bonito, DOCE, BEIJADA!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

pau-de-chuva

Pau-de-chuva é aquele instrumento roliço, fechado nas duas extremidades e contendo areia e cascalho miúdo, fabricado por diversas etnias indigenas no Brasil.
Em algumas serve para interromper tiradas inconvenientes em roda de conversa (não peçam que cite a fonte, não lembro onde ouvi relatar mas foi evento ao vivo há alguns anos, no Rio).
Noutras, e talvez sem prejuízo do outro uso, tem algum vínculo com o elemento que lhe dá nome, fora emprego musical que gente da cidade ou de nação deseje dar.
O meu está perdendo a areia; parei para falar com o indígena que vende artesanato pataxó perto do Largo do Machado. Senti que devia ter feito o contato há bem mais tempo. Mas pau-de-chuva não tinha, e me explicou o porquê.
Os pataxós (o vendedor é guarani, a esposa é pataxó e ele domina os três idiomas, absolutamente não aparentados) não estão podendo fabricar o instrumento, porque a touceira de onde provém o caule roliço está ameaçada de extinção e o Ibama não permite o corte (de onde deduzimos com alegria que os pataxós respeitam a natureza. além do Ibama).
Perguntei se não dava pra fazer com taquaras, respondeu que já tinha sido tentado e não dava certo. relatou ainda que os indígenas pataxós normalmente ao cortar árvore, plantam outra igual, mas que algo deu errado mesmo assim: madeireros? desmatamento?
Bem, veio o Ibama que pelo visto algo faz de útil e todos aguardam que se possa novamente cortar algum pé para fabricar pau-de-chuva.
E até lá é rezar para chover nas cabeceiras do Paraíba do Sul, do São Francisco, do Paraná, e chover logo. Uma boa forma de conseguir chuva é plantando perto dos rios, viu gente....
Felicidades para o vendedor poliglota e que a tal planta vingue formosa e forte e possa trazer muita chuva...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Claro que o delegado não devia ter atirado no tal provocador que o perseguia. Acidentes acontecem e quem anda armado precisa tomar ainda mais cuidado para não provocar algum- como bem sabe o ilustre delegado, que é bacharel em direito como são os da categoria.
Talvez tenha tentado desviar na última hora pois o homem foi pro hospital lúcido e está fora de perigo já. O policial responderá em liberdade.
Agora dez ou doze pessoas em volta de uma só, gritando "vou te pegar, macumbeiro" até eu, se tivesse algo à mão, usava para retaliar. Isso não é nada: na rede virtual as ofensas se acumulam há meses. O pastor que as iniciou declarou ali que "estava enrolado no pescoço [da vítima] e não ia soltar nunca mais nessa vida" ou palvras de igual sentido.
E como se sabe a rede virtual vem sendo usada para multiplicar ofensas à fé de quem não cai nas graças dos pastores.
Então a situação que tínhamos é de meses de provocação e injúrias virtuais, coroadas por cerco vociferante de sujeitos com camisetas pretas onde se lia "Morro pela Bíblia, não morro pela pátria" e diante disso e inteiramente irrelevante se houve ou não cabeçada, e de quem. O lugar dessas pessoas é num palco, fazendo rock metálica, camiseta preta e tudo. E há bandas de rock pauleira muito mais paz e amor do que eles aparentaram ser.
No Levítico se lê que "não deixarás viver o feiticeiro" e muitas outras normas que não se aplicam mais por obsoletas ou ilegais. No Novo Testamento também se lê que sem amor nada somos, mesmo falando a língua dos anjos. E nem sequer é essa que vem falando o grupo de perseguidores de camisa preta.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

desafios

Na fotografia tirada pelo ex-ISIS exibindo os prisioneiros sírios que iam executar se notam vários SEM a clássica mão cruzada atrás da nuca. Como muito bem disse o Che Guevara ao soldadito boliviano que lhe mandava levantar, - Para qué, igual me vas a matar.
E ficou sentado.
 Por que obedecem aos seus algozes as vítimas, ajoelhando, cruzando as maõs, caminhando em grupos? Na ilusão de que possam sobreviver? E isso acontece mesmo às vezes, para um ou outro; não porque foi obediente, mas porque foi esperto e abençoado, fingindo-se de morto e conseguindo fugir depois. De medo de sofrer fim mais cruel ainda? O fato é que dois ou três dos vinte que se viam (foram mais de 200 fuzilados) caminhavam com as mãos do lado, desafiando.
Apostando tudo na ficha restante que era essa apenas, o desafio; e assim celebraram a vida em meio à morte.
Desafiam a destruição e morte também os botos que voltaram a dar cambalhotas perto do cais da Pça XV. Lembro de tê-los visto brincando grudados ao cais ainda nos anos 80, e agora voltaram. Mas nem por isso está boa a situação da Baía, só o fundo próximo a Guapimirim tem ágau mais limpra. Se os botos nadaram onde foram fotografados é porque os esforços de recolher lixo rendem algum fruto. Melhor seria não precisar recolher.
Ninguém foi preso por desvio de fundos nesses anos todos, nem por deixar apodrecer usinas de tratamento de lixo. A Baía continua recebendo lixo e esgoto inclusive de indústrias. Ninguém foi preso por ameaçar de morte o biólogo que de tanto ouvir ameaças foi cuidar da Lagoa Rodrigo de Freitas como alternativa. E os botos hoje são bem menos de cem.
A Olimpíada se traz uma vantagem é essa, pôr os governantes cara a cara com a vergonha.
Águas limpas. Botos crescendo e multiplicando. Vergonha na cara. Disso precisamos; pontuação na competição de 2016 é inteiramente secundário.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

urubu-servando

Existe uma modalidade de limpeza energética muito interessante chamada Tenda do Suor, aplicada no Brasil por alguns mestres que seguem versões da religião xamânica. Os interessados que os procurem, pois estou aqui pra falar de aves de rapina.
Justamente a caminho de uma Tenda destas, a única de que participei, todo mundo amontoado numa van, a vizinha de banco declarou com deslumbramento ter visto uma águia. - Impossível, aqui não tem águia. - Mas eu vi.
Não era possível, no melhor dos casos teria visto um gavião. No Brasil não tem águia, insisti. Logo veio o chato de plantão, espremido na kombi, lembrar que existe uma, muito rara, no extremo norte, parece que em Roraima.
- Uma águia em Roraima não são águias, e não há águia nenhuma por aqui, portanto ela viu foi outra coisa.
- Ali! ali! vai dizer que aquilo não é uma águia?!
- Não- encerrei- é um urubu.

(E isso que dá ficar se traduzindo para fauna alienígena... Que me desculpem os adeptos). Urubus, aves utilíssimas, águias e gaviões são todos aparentados.
Pois leio que o Galeão já conta com uma equipe de quase vinte gaviões e falcões treinados para impedir que os sempiternos urubus passeiem pela pista e sejam sugados pelas turbinas.
Acho fantástico. É perfeitamente possível que algum deles almoce um urubu, que o RJ possui em profusão; esse urubu iria a óbito dentro da turbina, mais vale alimentar o belo predador e parente longínquo.
Vivam gaviões, urubus, águias e falcões (diz que treinaram falcões também, esse é outro que não temos a menos que contem o carcará; ou os peregrinos que nos visitam) e que todas as religiões respeitem a avifauna. Sempre é possível substituir. Entre os hindus brâmanes, um exemplo entre muitos, o homem mais velho era chamado à cozinha para abrir a abóbora. Por quê? porque antigamente havia sacrifícios humanos, e no ritual a abóbora os substituía, daí até no dia a dia ser venerada.
Ainda quero ouvir que NINGUÉM para ritual NENHUM está caçando e sacrificando bicho de penas que não seja galinha ou pombo. Será raro, mas nunca sera raro o bastante...Vamos respeitar a natureza.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

rosário de flores

A igreja de NS do Rosário, no centro antigo do Rio, é uma das mais bonitas que temos aqui (também adoro NS dos Mercadores, NS do Desterro da Lapa e por causa da simpatia e vibração Sta Efigênia e-São Elesbão...  e várias outras menos lindas mas charmosas).
Como se sabe, foi erguida por negros libertos  ou forros de nascimento, e alguns ainda escravos que iam pagando sua pataca à Irmandade; e quando a Familia Real aportou por aqui, além do famoso "Ponha-se na Rua" com que se apoderava das residências que melhor lhe apraziam, pediu essa igreja pra ser catedral temporária e ouvir missa ali, obviamente nos primeiros lugares, relegados os donos legítimos aos bancos do fundo.
Quando o governo fez a antiga Sé, foi trabalhoso aos negros conseguirem de volta o  que era seu; tinham a posse mas o papel timbrado que restituia á Irmandade os seus direitos exigiu até advogado.
O nome é Nossa Senhora do Rosário e São Benedito; tenho impressão que a Aparecida não aparecera ainda e essa era, e é, a Virgem amada pelos negros. Diz o jongodo quilombo de São José da Serra ,
"Saravá São Benedito, Nossa Senhora do Rosário!". Nesse quilombo rezam missa afro aos domingos, com mãe de santo e mãe pequena paramentadas ao lado do padre, e ogã tocando tambor.
Aqui, a igreja do Rosário recebe católico, umbandista e todos os matizes religiosos aparentados. Perto das datas de São Lázaro/ São Roque, põem pipoca para Omolu ao pé da imagem (no caso a imagem é de São Lázaro). É como se lhe florissem a imagem.
Isso é ter a cabeça aberta. Vive cheia a igreja (pena que o museu por falta de verba foi fechado e o acervo ia pra Sta Efigênia, perto dali). Perto das datas dos santos sincretizados, fica mais.
Atotô Obaluaiê. Salve doboru, as suas flores.  Salve a harmonia entre religiões.
Atotô.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

na hora da criação ela já estava

Saluba.
Dia 26 de julho é dedicado a Nanã, sincretizada com Santana. Uma das mais antigas paróquias da antiga capital. Uma das maiores igrejas do Rio, não a mais bela sem sombra de dúvida mas talvez erguida daquele jeito pra conter todos os moradores da então pantanosa Cidade Nova. A igreja, larga, baixa e cor de terra me parece sempre o ideograma da própria orixá, como se dançasse curvada em dois à beira d´água, na terra molhada, saias abertas arrastando. Mais uma vez, Saluba!
É também o dia Nacional do Jongo. "Galo cor-de-rosa, suas penas são douradas. Tenha pena de im, galo sereno, tenho medo de me bolar n´angoma".
Jongo paulista esse, ouvido no Quilombo de Sao José.
E dia 25 vejo que é da internacional da mulher negra. Festeja-se Thereza de Benguela, dirigente quilombola. O quilombo dela, infelizmente, foi desbaratado após uns meses, como a maioria dos quilombos. O de São José era realmente muito bem escondido e sobreviveu.
No mais que me perdoem o mau jeito, mas eu já acho que Dia da Mulher é todo dia. Agora vamos ter o Dia da Mulher Negra, da Mulher Nissei (exijo um da Mulher Mestiça Descendente de Indígena) e francamente quanto mais divisões se criem, pior me parece. Asseguram-me também que existe, em réplica, um Dia do Homem. Eles também vão querer especificar. Dia do Homem Sansei. Dia do Homem de Pai Judeu.
Irei aos dois eventos para que me convidaram, nem que seja pela amizade que tenho pelos realizadores. Viva a memória de Thereza de Benguela, todos os dias.
E que Nanã nos dê sabedoria para criar amálgamas e não divisões, assim como água e terra amalgamadas viram a lama de que se fazem os tijolos para construirmos; as vasilhas que contêm o alimento que compartilhamos. Vivam os seres vivos.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

"não é competição de sofrimento"

Não se tem vontade de escrever diante do que aí está e não se trata de Copa, a divulgação desta vai de vento em popa e é natural que assim seja. Se falta vontade de escrever e mesmo de respirar é porque o horror vem crescendo de forma descontrolada.
Como aceitar a execução a sangue frio de três adolescentes de uma vez porque estudavam para rabino? Faz a explosão do homem-bomba parecer gentileza, não menos porque ele vai junto. A bomba não escolhe. Decidiram que três garotos deixariam de fazer parte do mundo e deu-se seguimento à decisão.
Os que somos de paz sempre repetimos que se deve respeitar a todas as religiões, e venho acrescentando, As que respeitem as demais. Acrescente-se, As que respeitem a vida.
Sem vontade de apontar dedos. Mas quase todas as agressões por religião no Brasil provem de evangélicos mal orientados- os bem orientados não agem assim. O termo se torna sinônimo de intolerância, e é uma lástima que assim seja. Mas a intolerância parece inerente à crença ou à forma como é vivida. E o paralelo com o Islã mais guerreiro é doloroso de ver. Temo um mundo governado por esses e aqueles. Não quero vê-lo.
 Já comentei aqui as palavras de VS Naipaul, percebendo a impossibilidade de ser um muçulmano convicto e ao mesmo tempo respeitar a cultura alheia; são termos que se anulam, fez ele notar. Na mesma semana que vemos um casal decapitado no Paquistão por familiares (a mulher devidamente envolta de pano negro, que pouco lhe valeu) mais esta violência, de tantas de ambos lados, não se sabe quantificar.
Quem declarou "pensem antes de agir, do outro lado há um ser humano; não é competição de quem sofre mais" para ambos lados de uma vez foi um palestino que perdeu o pai fuzilado por engano.
O Profeta que seguíamos dizia, "O guerreiro santo é aquele que luta consigo mesmo"  escreveu Saira Shah, autora de "Por trás do Véu". Em tempos de Boko Haram, de conversões forçadas e seqüestros vale dizer, "haram" é não respeitar a vida.

sábado, 21 de junho de 2014

bíblico e justo?

Leio que na cidade de Fortaleza querem implantar a leitura da Bíblia nas escolas públicas como parte da cultura geral.
Seria muito bom se não fosse suspeito.
Argumentam que a Bíblia traz conhecimentos de História, geografia e cultura geral. E é a mais pura verdade. No nosso país o volume é tão associado às religiões pentecostais que só os membros destas têm o hábito de o ler. Eu sempre li e sempre recomendei a leitura, pelos exatos motivos alegados no Ceará.
Mas para que a leitura proposta seja sã, imparcial e transparente, escolha-se muito bem quem vai fazê-la.
Sugiro sempre dois docentes por vez, um judeu e um ateu, um professor de História e o outro sacristão, assim por diante. Com muito cuidado para ninguém, católico ou outro, tentar impor não apenas o seu ponto de vista mas dar como certo pontos que a arqueologia refutou há muito; e existem seitas mundo afora que os dão como certos.
Não é viável? Então rodízio de docentes. O rabino hoje, o maçom amanhã, a professora atéia depois de amanhã, o membro da Igreja Batista mês que vem. Que as aulas "de Bíblia" sejam gravadas e os docentes que se excederem, confundindo sala de aula com púlpito, afastados.
Porque se não tomarem cuidado teremos um palco senão para conversões forçadas, pelo menos para lavagens cerebrais, e os que discordemos da prática seremos obrigados a concordar com aqueles que, da Cúria ou de outras linhas, se opuserem com vigor à medida.
Que Xangô cuja festa se celebra estes dias no dê um pouco de justiça, em Fortaleza e em toda parte.
Lembro que no Levítico existe, para ficar num só exemplo, o versículo, "Não deixarás viver a feiticeira." Imagine isso na boca de alguém mal-intencionado.
Cauô Cabiecile, olhe por nós.

terça-feira, 10 de junho de 2014

não é brincadeira, não é caçoada

Tão forte é entre nós a imagem de Santo Antônio que o Dia dos Namorados brasileiro não macaqueou as estranjas (que é em fevereiro; não direi quando senão daqui a pouco vira que nem famigerado halloween) e colou no dia dele. Bem, a Copa tem o suposto poder de deslocar o dia dos namorados... mas não o de Santo Antônio.
Aos pés do convento de Santo Antônio na Carioca, a única peça bonita daquele imenso largo hoje tão feio, os escravos lavavam roupa no tanque colonial e estendiam pra corar até nas pedras do cruzeiro que havai ali. Cavalos bebiam, mulheres de roupa arregaçada até as coxas lavavam dentro d´água (em dia de chuva faziam geralmente barrela).
O Império, esquecendo que modernidade não combinava com escravatura, ergueu depois, ali onde fica a saída do metrô aproximadamente, outro chafariz absolutamente magnífico- imperial!- onde dia e noite na então capital se ouvia sempre gente a lavar, batendo o pano  nas pedras.
A República, que esquecera infinitamente mais do que o Império como escravo e modernidade não podiam dar certo, preferiu ir proibindo de lavar nas ruas e demolir, até antes do chafariz, quase todos os cortiços onde se refugiavam as lavadeiras, que então subiram o morro. Nasciam as favelas (nome de planta abundante no hoje Morro da Providência, como se sabe).  Ali, longe dos olhos e mais ainda do coração, não incomodavam tanto o poder.
E esta hoje metrópole cheia de favelas, onde o poder público tem dificuldade de se impor, que herdamos desta cegueira engravatada e encasacada, é a que recebe a enxurrada de turistas para ver os jogos.
Que Exu abra caminho para políticas públicas cada vez mais sãs, para o fim da intolerância e para a valorização dos patrimônios públicos.
Santo Antônio é ouro fino, arria a bandeira e vamos trabalhar.

sábado, 31 de maio de 2014

papo mulher

Faz sangrar o coração o estupro e assassínio das duas meninas Dalit (Intocáveis) na Índia. Assim como ocorria com indígenas e negros nas colônias, intocável só na hora dos direitos civis; na hora do estupro tocam, encostam, e tocam terror. Tentaram mascarar como suicídio. (Nas cidades indianas, agora os direitos dos Dalits valem; mas no campo os outros dão bem pouco valor à letra da lei. Se então se tratar de mulher...).Há um ano aquele estupro-e-morte horroroso indignou a Mãe Índia; muitos outro ocorrrem por lá, e no vizinho Paquistão outro dia a família matou a moça que ousara casar com quem queria... e se soube que esse amado assassinara a esposa para poder casar com ela (não foi por isso que a família "justiçou" a noiva grávida diante do tribunal).
A vida das mulheres parece que segue valendo bem pouco, haja vista o seqüestro e conversão forçada na Nigéria, cujo segmento norte é dominado por islâmicos há décadas.
Tem-se nojo de estar viva.
Uma das raras coisas positivas resultantes do tráfico negreiro no Atlântico terá sido - e isso o poeta esqueceu de cantar- o surgimento de mulheres sacerdotisas cumprindo funções mais abrangentes do que do lado de lá. Não que lá inexistissem ou inexistam; porém é mais restrito.
E a esse respeito lembro de um amigo senegalês lamentando que a batalha conra a excisão e circuncisão feminina, que ele apoiava, não tivesse o discernimento de separar a excisão do saber daquelas mulheres que a praticavam; notadamente o conhecimento de ervas que elas tinham e é de se esperar ainda tenham.
Creio que as feministas dos anos 70 podiam ter voltado os olhos para muita coisa que ficou então sem dizer..

quinta-feira, 22 de maio de 2014

juízo, sr juiz...

O juiz que inicialmente declarou que Umbanda e candomblé (pra não dizer nada do omolocô) não são religiões já se retratou. Talvez ainda mais importante do que a retirada dos vídeos. Os que vi no ato me pareceram retratar (imagem e som não muito bons) a intolerância já consabida nas igrejas neopentecostais, onde a tônica é mesmo "tirar a Pomba-Gira das pessoas".  Havia gente comentando que esses eram os mais brandos, pode bem ser.
Insisto que é preciso acabar com o ensino religioso nas escolas públicas porque criam diferenças onde o uniforme deveria aplainá-las, num Estado laico; aceito que se removam de espaços públicos os crucifixos até, com que estivemos acostumados, em troca disto. (Penso inclusive que já saíram?) Acho mais essencial do que retirar os vídeos, que idealmente não deveriam jamais ter sido postados.
Porque JOVEM preconceituoso é pior do que o mais velho. Foram jovens, que o pastor, sincero ou hipócrita, desautorizou post-factum, que destruiram o templo umbandista no Catete. Foram jovens que aderiram à Marcha das Vadias ano passado, formando ala evangélica, declarando serem a renovação contra a caretice dos pastores, e... levando imagems santas para quebrar.

As declarações do juiz e a não retirada dos vídeos mantiveram o ato na ABI conforme marcado. Sala cheia. Estiveram presentes entre outros representantes de Dom Orani Tempesta, da Federação Israelita, da Federação Muçulmana do Brasil, dos Bahai, dos Hare Krishna e o que é muito importante, do Movimento Indígena que hoje diz encontrar boa acolhida nos terreiros de ambas religiões. Cantou-se. O candomblé sabia cantar o hino da Umbanda. Os umbandistas sabiam cantar Oni Saruê.
Entre os integrantes da mesa que vieram a ser aplaudidos de pé, os três pastores, presbiteriano, luterana e mais ainda um pentecostal. Mais que eles, ou pelo menos tanto quanto eles, só Mãe Beata de Iemanjá que declarou, "Esse moço, o juiz, precisa de amor, gente."
Depois de Mãe Beata, o que dizer?


domingo, 11 de maio de 2014

carlos gomes, rebouças e o 13 de maio

Tive a oportunidade de ouvir o quarto movimento de uma sonata de Carlos Gomes, chamado esse de "Burrico de Pau"; quer saber por quê, vá escutar e me conte. Muitas vezes é executado a parte; porém mesmo a sonata inteira é muito palatável, ao contrário de peças mais famosas do maestro, pesadas para o gosto de hoje.
Rubens Fonseca escreveu uma biografia muito pesquisada sobre o mesmo, apelando em raros casos para a ficção e só para dar liga. Por isso não creio ser senão verdade  terem pedido ao músico, em visita ao país, para libertar dois escravos ainda criançolas, nascidos cedo demais par se beneficiar com o Ventre Livre.
Entendamo-nos, Carlos Gomes apenas subiu ao palco, estendeu as cartas de alforria prontas e recebeu as palmas. Quem libertou de fato mediante negociação foram os abolicionistas e em última instância, o senhor. Carlos Gomes apesar de mestiço prezava mais o seu lado indígena; e tão confuso abolicionista era que tentou comprar outra escrava... para si. Tencionava levá-la para Milão, onde certamente não pensava pô-la no tronco.. "apenas" não lhe pagar salário, coisa que exigiam os complicados fâmulos italianos. Não se puseram ele e o senhor de acordo quanto ao valor da alforria.
E o que aconteceu com os dois quase adolescentes? largados no mundo, viraram mendigos. Pois a alforria parecia suficiente, e se indenizava apenas o senhor pela perda do objeto, não o escravo pela perda da liberdade. Davam-se melhor os que custeavam a própria liberdade, e foram muitos, pois esses tinham trabalho certo e amparo de amigos.
Tudo isso sem querer denegrir nem o confuso e genial maestro, nem a Princesa, que perdeu o trono por defender as idéias que achava corretas (para os inocentes: os republicanos tupiniquins eram geralmente A FAVOR da escravatura). Amigo íntimo de Gomes, o engenheiro negro Rebouças era monarquista e chorou com a proclamação da república.
Mas...em 2014 basta de tanta boneca loura num Brasil mestiço. Basta de tanta modelo loura. Dia 13 de maio, dia dos Pretos Velhos, no Santíssimo haverá um ato na praça que lhes leva o nome, contra o racismo ainda vigente e o que existe fora daqui.
E salve o velho feiticeiro Pai Benedito!!

Post Scriptum: fui falar de Rebouças e dois dias depois, na data sagrada do 13 de Maio, enfim inauguram o busto duplo dos dois irmãos, pelo escultor Duvivier. Já não era sem tempo...



sexta-feira, 2 de maio de 2014

frutas vermelhas, é? tá certo...

Há meses adquiri no impulso uma caixinha de chá em saquinhos da maior marca brasileira, dizia que de frutas vermelhas.
Em casa li que continha: Casca de laranja, casca de maçã, pedaços de maçã, folha de hibisco, rosa mosqueta e saporizantes ARTIFICIAIS.
Levei um bom ano pra terminar aquilo, pois a química dos saporizantes (que não conseguiam dar sabor de framboesa, morango etc) ardia na boca. Com os meses o ardor passou: a química deve ter caducado.  O sabor ficou igual, vaguíssimamente frutado: a rosa mosqueta, laranja e tal.
Aí outro dia vi outra caixinha na mesma loja, chá de frutas vermelhas em saquinhos da maior marca... ...inglesa dessa vez. Aquela mesma que você está pernsando. Comprei no impulso pra me desagravar da primeira compra. E tirar a teima.
Em casa li que continha: pedaços de casca de laranja, casca de maçã, pedaços de maçã, folha de hibisco, rosa mosqueta e saporizantes dessa vez NATURAIS, o que faz uma diferença enorme no sabor e na ardência, que não há mais.
Não há problema com a folha de hibisco, que é inclusive medicinal. Quiabo é um hibisco também.
Só acho que chá de fruta vermelha deveria conter fruta vermelha.. ainda que a marca inglesa supostamente até posso conter, ocultos nos "saporizantes naturais".
Agora minha filha por razões de família na França me escreve que achou um SEM maçã e tal... aguardo com curiosidade!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

bendito seja o santo nome de são jorge...

... "que no Rio é Ogum e na Bahia é Oxóssi" como diz o samba.
 Na Bahia Ogun é São Bento Pequeno, cuja imagem é de assustar, com o devido respeito: um Cruzado deixando assolado o campo de batalha atrás de si. Bem, são-bento-pequeno é também um toque de capoeira, e assim entendemos o porquê.  Talvez a intenção fosse exatamente esta, assustar: "Ogun já venceu demanda" e acabou com os inimigos. Continuo preferindo, carioca que sou, a imagem do santo matando o dragão.
Uma prima já viajou pra Turquia diversas vezes com a família, quero crer que seja lindo. Numa dessas foi à Capadócia e me trouxe um São Jorge combinado com aquele olho turco de vidro azul, amuleto pra não se botar defeito.
Ah.. igualzinho à tradição carioca... Não é bem assim. O São Jorge que as raras igrejas dali cultuam é "tipo um monge" me disseram; pode ser que na tradição o santo em algum momento após matar o dragão se tenha feito eremita no planalto capadócio, depondo as armas.
Mas os turistas não reconheciam a imagem familiar do soldado romano e os turcos, com invejável tino comercial, passaram a fabricar e vender com grande êxito o São Jorge cavaleiro que tão bem conhecemos. O tal monge não combinaria nada com a imagem de Ogun.

Salve Ogun de Ronda; salve Ogun Iara. Salve muito o Beira-Mar! Salve o outro padroeiro do Brasil!
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quinta-feira, 17 de abril de 2014

"journée de la jupe"

Existe um excelente filme com Isabelle Adjani, já na fase botocada, assim entitulado. No colégio do subúrbio parisiense em que leciona, as professoras (pra nem falar nas alunas, essas então...) sofrem pressão da maioria de alunos muçulmanos para não usar saia, que é imoral para os padrões deles  por deixar as pernas de fora. O figurino tolerado pras francesas é calça comprida, pras alunas muçulmanas é ideal mesmo o hijab, túnica por cima da calça.
Claro que a personagem reverte isso no filme, e até as garotas começam a usar saia. O "Dia da Saia", "Journée de la Jupe" em que a saia vence e se afirma.
Pois aqui no Rio, um colégio público decretou que o figurino tem de ser calça para todos.  Acho bem abusivo mas enquanto ninguém reclama não hemos de ser mais realistas do que o rei. Agora reclamaram. Uma aluna evangélica foi suspensa por causa da indumentária.
Não estou aqui pra defender os evangélicos enquanto evangélicos e sim, como já fiz e farei, como seres humanos. O direito da menina a vir trajada de saia- direito extensivo às demais, ao meu ver- não lhe pode ser negado.
Estão comparando á proibição do uso da burca na mesma França do filme. Não é igual. A burca oprime, oculta, anula. Impede a identificação; tem mais é que ser proibido (proibiram lá também o véu nas escolas públicas). Proibir uma garota de usar saia na escola é ridículo. Tomemos pro exemplo o Pedro II, excelente colégio público, modelo para os demais. Meninas de uniforme, saia e a famosa blusinha com debrum azul marinho.

E falando em ensino público e religião, mais uma vez e sempre: abaixo o ensino religioso. O Estado é laico e deve amenizar e não acentuar as dissensões.

Boa Páscoa!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2014

arria a bandeira e vamos trabalhar

Que Santo Antônio é sincretizado no Brasil com  Exu, todos sabem. Que a Quaresma pertence a este, muitos sabem também, já que os orixás e guias estão em seu descanso (parece que para o candomblé estão sim em Aruanda, mas resolvendo as suas diferenças, guerreando ). Para nós é assim mais pacífico...
O que nem todos sabem, mesmo morado no Rio, é da existência no centro da cidade, na região da Cruz Vermelha, há uma igrejinha de Santo Antônio dos Pobres; vê-se o piso antigo de ladrilhos hidráulicos, a cerca de um metro abaixo do piso atual.
Vidro temperado permite a visão deles aos sortudos que sentarem nas primeiras filas. ´Da igrejinha original é o que parece ter restado, com algumas imagens. A diferença de nível é devida ao fenômeno bem conhecido na arqueologia: as cidades vão acumulando sedimentos e ficando mas altas. Acumulando também, dirão alguns, muitos pecados....
Vale a visita ainda mais nesses dias antes da chegada da Páscoa. É uma área onde vibra o nosso passado.
E salve Santo Antônio, o ano inteiro:
"Santo Antônio é ouro fino,
arria a bandeira e vamos trabalhar!" 
Laroiê....

sábado, 5 de abril de 2014

tempo de fazer e de tempo deixar de fazer

Pois é. Outro dia me arrepiei com a coincidência. Demorou mas aconteceu.
Certa artista plástica do tempo em que eu vendia cristais na praça da Glicério, ao lado do Chorinho da Feira (isso foi antes do mafuá e da cerveja tomarem conta; foi bom enquanto durou) eu nunca mais vira.
E estava com algumas coisas atravessadas na garganta pra lhe dizer... esquecera do rosto mas não das desculpas que lhe devia, pois ela me comprava pedras "hoje vou pintar o jaspe e amanhã pinto a rodocrosita"  e eu internamente me horrorizei com essa coisa de pintar pedra.
Mas ela queria dizer RETRATAR, me explicaram depois- só que nunca mais a vi.
Ela nem lembrava e se lembrasse talvez nem tivesse percebido a minha reticência. E ao sentar do meu lado no 184 me reconheceu e se identificou...

E enquanto desenrolávamos essa história e ríamos do fato, lembrei que por outro lado a mesma pessoa me prognosticara que eu "não ficaria na Umbanda, uma vibração tão baixa".
Contei o fato em UMBANDA GIRA1 e o relatei com a maior cara-de-pau, fingindo não lembrar que fora ela quem me "avaliara" dessa forma.

Doze anos e pouco, foi o tempo necessário a limpar esse obstáculo duplo no astral. Mas limpou!
Saravá Umbanda.... e salve,  pedras de cura.

sexta-feira, 21 de março de 2014

intolerância e folha

Vivemos num momento de grande desamor, bsta ver as manchetes. traficante de quinze anos matando garoto por desfastio  (vai lá, compra a sua maconha dele, compra... alimenta o tráfico, alimenta!...) polícia atirando gente baleada na mala do carro e saindo arrastando o corpo...
Fora a compulsão de querer que os demais pensem igual a si. Lá fora, o fundamentalismo islâmico. Aqui, o fundamentalismo neopentecostal, que se pega com as folhas, como se Deus ao criar o mundo tivesse deixado as plantas para o Outro criar.
Enquanto seja apenas uma recusa de mexer,  de tocar, até de tomar um chá pra dor de cabeça, só lamento, e lamento muito, pois os laboratórios certamente engordam com essa escolha. Mas esse estado de espírito vai além, o que é decorrência lógica. Se as plantas são tão ruins, então vamos destrui-las. Certamente o Senhor levará pro céu os fiéis e deixará os outros estrebuchando num mndo árido e seco...
Neste blog já falei da nim que o homem do minhocário plantou na esquina. Como atravessamos período de seca anormal (corta árvore, vai, corta!) eu a tenho regado de manhã cedo a não ser quando chove ou choveu.
O que já me valeu injúrias de duas viznhas diferentes. Pois se eu, umbandista notória, rego uma planta (que nem é minha, veja que requinte de perversidade!) isto só pode ser macumba da braba.
Durante doze anos acima do meu apartamento viveu um evangélico. Nunca tivemos problemas e inclusive bateu-me à porta pra dizer que me respeitava e que eu "era legal"; mencionei por alto e sme dar nome a  boa convivência em "UMBANDA GIRA!." Não é a religião, é como a pessoa decide viver a sua. O mesmo vale pros islâmicos.  Em breve citarei  por aqui (novamente) Saira Shah, autora de "Por Trás do Véu".
E até lá e sempre, Salve as Folhas.



terça-feira, 4 de março de 2014

origem do lero-lero

No carnaval quem gosta está pulando e bebendo, dos não gostam  muitos viajaram, alguns ficam em casa e vou trazer um tema mais ameno e bem apto: a origem do termo lero-lero, adotado em português. O excelente Aurélio que em geral fornece etimologia confiável e história da palavra, desta vez apenas define como gíria.
No século XVII um poeta irlandês compôs "Lillibullero", canção satírica a cujo sucesso estrondoso se atribui a queda do rei Jaime, alijado de seus "três reinos", Escócia, Inglaterra e Irlanda. O autor era católico e indignava-se com a covardia de Jaime deixando desprotegidos os correligionários. Os ingleses amaram tanto o ritmo (embora nem tanto a letra) que saíram contornado esse probleminha: atribuindo a melodia a Purcell; inventando outra letra, em que Vênus e Baco são louvados; e por fim incorporando "Lillibullero" nas mais diversas grafias ao acervo de música militar do Exército ingreis.
É aquela melodia que se você viu no cinema um irlandês tocando, tocava essa.
O filme "Barry Lyndon", com o recém-falecido Peter O`Toole, mostra os soldados de Sua Majestade desfilando ao som de "Lillibullero".
E o que vem a ser isso afinal? Nada, são sonoridades que agradaram ao ouvido irlandês do compositor na hora do refrão:
"Lero, lero, lillibullero, lillibullero, bullen a la; lero, lero, lero lero, lillibullero, bullen a la!"
Atribuo a entrada e popularização da expressão entre nós ao uso disseminado do piano em casas públicas e de família no século XIX e além;  aí a melodia cativante já se desfizera da carga satírica e política para virar "música inglesa = chique". Com três ou quatro lero-leros por minuto.
Pois é.

As plantas estão morrendo. deixem todos de lero-lero.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

primos em segundo grau - ewé folha

O homem que vende minhoca plantou uma nim, árvore medicinal indiana, no que ainda é minha esquina.
Nim é da mesma ordem que a cajazeira mas são de famílias diferentes; por isso digo "primos em segundo grau". Se bem me lembro a nim está sozinha em sua família, é filha única.
Pobre da nim, não gosta da atroz seca que nos assola e perde muitas folhas, que amarelecem no meio do galho. Eu a tenho regado e constatei comportamento parecido  com o do cajá, foi aí que Santa Wikipedia me revelou o que acabo de dizer. São parentes.
Ignoro o que signifique em hindi o termo nim. Mas vejam que interessante o trecho da jornalista afegã Saira Shah; ela é falante de idioma da mesma família qu o hindi. e o persa. Primas todas estas em primeiro grau.
"... [A rainha, distraída, comeu só metade da maçã encantada que deeria ajudá-la a engravidar.] Nove meses depois, rainha deu à luz um menino. Ele tinha um olho, uma orelha, um braço e uma perna e saltava por toda parte. Por isso o chamaram de Nim, o que em persa siginfica a metade."
Qualquer praticante de religião de base africana terá pensado no orixá Ossãe, que detém o segredo das folhas e é o orixá da cajazeira. Ele, no mito, só tem meio corpo.
Talvez por isso, as plantas precisem tanto de nossos cuidados. Somos a outra metade delas, e amiúde esquecemos disso.
Mas como há mais de uma forma de ver a verdade, a metade que falta ao corpo de Ossãe pode ser a  nim, isolada pela Atlântico do cajá-manga e agora aproximada por obra e graça do acaso.
Cuide de todas as suas metades, ou a sua integridade se dissolverá.

Ewé Folha. Ewé Assá.




domingo, 26 de janeiro de 2014

vamos chamar os ventos

Problemas técnicos  aqui e outros alhures, vontade de dormir no fundo da Baía... miolos derretendo de calor.. mas aqui estou, a respeito exatamente da sensação térmica. Janeiro faz calor, estamos conversados, porém...
Saiu no jornal no início do ano/mês. A Prefeitura renovou o contrato com a fundação que tranca chuva.  Pra não ficar só na critica, acho excelente demolir a Perimetral. Pena, pena é que chegou a ser construído o mostrengo pela ditadura, botando abaixo o lindo Mercado que muitos só conhecemos de fotos. Ficou o Albamar preservado,  a parte lembrando o todo. E deste atentado à nossa História é inocente o representante eleito da cidade.
Indigna-me mais do que o pedido é prestar-se quem se presta a semelhante serviço, ou desserviço, e prestar-se a tamanha falta de respeito com a natureza. Já comentei em UMBANDA GIRA!  e segue o despautério. "Uma grande força a serviço de um grande equívoco".
Chuva, gente, tem mas é de cair.  As aves e as árvores estão com sede. E falando em aves e árvores,
 mais uma vez assistimos ao corte (posto Seis) de árvores frondosas que supostamente serão "substituídas" noutro bairro. Prefeito, plante cem árvores em cada bairro.  A fauna agradece.
Se eu tirasse o seu carro e seu apê, e lhe dissesse que em Benfica outras pessoasvão receber carro e casa, o senhor gostaria?
Parem de trancar a chuva. Eparrei Oyá: "Vamos chamar o vento..."
E que fim levaram as árvores bicentenárias cortadas e largadas ali no Campo de Santana, onde fica  outra Fundação,  esta oficial, a Parques e Jardins?