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terça-feira, 10 de junho de 2014

não é brincadeira, não é caçoada

Tão forte é entre nós a imagem de Santo Antônio que o Dia dos Namorados brasileiro não macaqueou as estranjas (que é em fevereiro; não direi quando senão daqui a pouco vira que nem famigerado halloween) e colou no dia dele. Bem, a Copa tem o suposto poder de deslocar o dia dos namorados... mas não o de Santo Antônio.
Aos pés do convento de Santo Antônio na Carioca, a única peça bonita daquele imenso largo hoje tão feio, os escravos lavavam roupa no tanque colonial e estendiam pra corar até nas pedras do cruzeiro que havai ali. Cavalos bebiam, mulheres de roupa arregaçada até as coxas lavavam dentro d´água (em dia de chuva faziam geralmente barrela).
O Império, esquecendo que modernidade não combinava com escravatura, ergueu depois, ali onde fica a saída do metrô aproximadamente, outro chafariz absolutamente magnífico- imperial!- onde dia e noite na então capital se ouvia sempre gente a lavar, batendo o pano  nas pedras.
A República, que esquecera infinitamente mais do que o Império como escravo e modernidade não podiam dar certo, preferiu ir proibindo de lavar nas ruas e demolir, até antes do chafariz, quase todos os cortiços onde se refugiavam as lavadeiras, que então subiram o morro. Nasciam as favelas (nome de planta abundante no hoje Morro da Providência, como se sabe).  Ali, longe dos olhos e mais ainda do coração, não incomodavam tanto o poder.
E esta hoje metrópole cheia de favelas, onde o poder público tem dificuldade de se impor, que herdamos desta cegueira engravatada e encasacada, é a que recebe a enxurrada de turistas para ver os jogos.
Que Exu abra caminho para políticas públicas cada vez mais sãs, para o fim da intolerância e para a valorização dos patrimônios públicos.
Santo Antônio é ouro fino, arria a bandeira e vamos trabalhar.

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