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domingo, 21 de agosto de 2011

chalmugra e sapucainha

Lepra, ou hanseníase que é o termo mais recente (de Hansen, médico norueguês que identificou na década de 1870 a bactéria causadora; não foi o primeiro estudioso mas ciência é isso, vale-se de trabalhos anteriores. Hansen, no afã de associar o micro-organismo à doença, tentou infectar a enfermeiros e pacientes também, não obtendo felizmente êxito nesse quesito e sim uma ação, que compreensivelmente alguém moveu contra ele!) lepra em suma é tema que desde a saga alto-medieval de Tristâo e Isolda volta e meia fascina aos escritores (vejam Vargas Llosa em "A Casa Verde"). No caso dos amantes acima, Isolda tem de jurar que foi fiel ao seu esposo o rei Marcos; não lembro se era ordália completa, com água fervente ou barra incandescente, ou se o não ser fulminada pela ira divina valia prova. O castigo seria normalmente perecer na fogueira; mas num requinte de perversidade o rei decide entregá-la à colônia de leprosos ali perto para que lhes sirva de objeto sexual.
Isolda se livra! Como? jurando que nunca houve além de Marcos, outro homem entre as suas pernas a não ser o campôneo nas costas de quem atravessou o rio. E este, claro, era o disfarçado Tristão.
Pois se na Europa por muitos séculos não existiu mesmo remédio algum para a lepra, no subcontinente indiano e no Brasil havia. No nosso caso, não tão difundido que evitasse a existência da colônia descrita por Vargas Llosa, na fronteira amazônica. Trata-se lá, da chalmugra e aqui, da sapucainha, ou chalmugra brasileira; cujo uso tópico da pasta das sementes ou do óleo cura males da pele e em particular a lepra. Há quem a considere melhor do que a chalmugra, notadamente para tratar de doentes locais; há quem tenha achado tal preferência mero ufanismo do Estado Novo. Até hoje os médicos brasileiros não se acertaram quanto a este ponto. Em ambos casos, a observação de animais ingerindo folhas e sementes levou ao uso empírico coroado de sucesso.
Aqui fica a homenagem aos curadores ancestrais, aos médicos pesquisadores, aos animais que abriram o caminho; e estando como estamos ainda em agosto: mais uma vez, Ah toto!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

flor de pitanga, curadores e licantropia

Tão pouco valorizada é a leitura no nosso país que consegui um livro de contos brasileiros clássicos, em perfeito estado, linda peça de colecionador, por dois ou três reais, não me lembro, ano passado num bazar onde qualquer livro valia menos que qualquer peça de roupa puída.
O texto do carioca Gastão Cruls, médico sanitarista e escritor, "emérito estudioso das coisas do Além", diz o prefácio, foi escolhido no seu derradeiro volume de contos, "História puxa História". Os trabalhos que nos deixou sobre a flora, fauna e costumes da Amazônia eu confesso que não li... ainda! e farei de tudo para encontrar agora. O mais elogiado, o romance "A Amazônia Misteriosa" inspirou um filme nos anos 1970 com a temática do lobisomem.
E ao redor dos lobisomens gira o conto da antologia, em que para fugir da sua sina o narrador se vale dos conhecimentos de Mãe Felisberta rezadeira amiga das ervas, que ela cultiva e com que conversa. Infelizmente Cruls não nos revela o nome de nenhuma! nem reproduz as orações. Refere a existência dos remédios e meizinhas todos feitos de plantas do quintal da Mãe e sempre preparados por ela, e nos deixa na saudade (mais um motivo para ler a obra toda de Cruls). Gostaria de pensar que uma das ervas fosse folha ou flor da pitangueira, que sempre se enfeita para a festa de Omolu. Mas não creio, o conto é ambientado na Quaresma. Porém não contando os pormenores do milagre, conta sim o nome do santo; São Roque é quem a rezadeira invoca para amenizar o destino do narrador.
São Roque, sincretizado com Obaluaiê (literalmente o Senhor do Mundo e orixá da cura e da medicina) é que tem a sua festa a 16 de agosto. Uma pesquisa rápida pelos caminhos virtuais (com destaque para as fotos de Marcelo Reis na Bahia) revela que São Lázaro, o mais associado ao orixá no RJ, tem a sua festa nas mais variadas datas (como São Benedito e talvez como outros) todas no PRIMEIRO semestre porém. Defende os fiéis contra doenças contagiosas e em particular a peste, que contraiu e de que se curou; e um cão, trazendo-lhe pão todos os dias, permitiu que não morresse de fome durante o isolamento. Por causa desse cão é que São Roque curador também cura licantropia...
Salve os curadores, médicos e rezadores, sem esquecer os terapeutas holísticos; salve pesquisadores e fotógrafos, os cães e as ervas, salve o 16 de agosto: Obaluaiê me dê o seu chapéu, a peste anda no mundo, olha as estrelas lá no céu. Ah to to!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

de bichos e dutos

Leio que na região de Mauá onde asfaltaram a estrada de terra, motivo de antiga polêmica, construíram sete zoopassagens, ou bichodutos, aproveitando trilhas escolhidas pelos animais. Isso é um mínimo, creio. Será também necessário fiscalizar sempre, acredito, para evitar que essas "passagens para pedestres" tenham destino igual às do Rio, em que só as que contam com segurança permanente não são evitadas pela população. Não sou entusiasta do asfalto, mesmo assim. Porta aberta para a degradação. Querem viver no verde mas o verde como paisagem, montados em automóvel, computador, banda larga e tudo mais.
Leio também que enviarão ao cosmos missões conjuntas de limpeza espacial, para recolher o lixo que o ser humano atira no espaço há décadas. Antes tarde do que nunca... Mas não esqueçam de levar a faxina para os oceanos, outro lugar onde o lixo fica longe dos olhos e dos corações. Atenção: afundar propositalmente estruturas de cimento ou metal que não apresentem contaminação é recurso adotado por biólogos e oceanógrafos para estimular o crescimento de mexilhões, a vinda de peixes e tal. Não é isso que vem ocorrendo nos mares de países africanos como a Somália, países onde os poderosos ocupam-se unicamente de permanecer no poder e outros de arrancá-los dali em benefício próprio. A Somália é o mais castigado por apresentar maior carência de poder público. Ali países europeus e asiáticos vêm despejando de lixo hospitalar a lixo nuclear passando por todo tipo de dejeto que assim não precisam tratar. Os mesmos países PESCAM desenfreada e ilegalmente ali; principalmente atum. Atum esse que nada nas águas contaminadas pelos dejetos.
Pense nisso quando lhe falarem de piratas na Somália. E pense nisso quando pensar em comer atum.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Atraca atraca

Em UMBANDA GIRA! escrevi, no capítulo sobre orixás, o que todo mundo diz e propaga no Rio de Janeiro sobre Nanã, que é um orixá de origem jeje. Essa informação também já achei escrita nos mais diversos textos, inclusive na Cacciatore para citar um só. Pois na Casa das Minas de São Luiz, casa jeje, é o contrário, vejo no recente e excelente trabalho sobre a Casa das Minas que a Pallas publicou. Para as religiosas de lá, Nanã seria o orixá mais velho da "casa de nagô"! Os jeje não a considerariam jeje, em suma.
Vá entender o mistério! que merecerá, no que depender de mim, pelo menos um pé-de-página em UMBANDA GIRA! quando houver reimpressão. Sincretizada com Santana, que tem a sua igreja carioca muito perto da Presidente Vargas, não porém no seu traçado, o que a poupou de ser demolida como um ou dois belíssimos exemplares de arquitetura postos abaixo pelo governo de então; perto, também do centro cultural onde se deu a linda festa africana dos últimos dias, à senhora da terra molhada, da lama origem do mundo, pertencem a lentidão, a seriedade, a cor roxa (e as flores roxas como quaresmeira, manacá, trapoeraba e thumbergia roxas) e o dia da semana que tomou para si é a terça-feira. Pois este ano o dia 26 de julho cai numa terça-feira.
Quem tem o orixá em sua coroa não se preocupa muito se a origem foi nagô ou jeje. Quer é revenciá-la com carinho, dobrado em 2011.
Saluba Nanã!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Atraca atraca

atraca atraca
Em UMBANDA GIRA! escrevi, no capítulo sobre orixás, o que todo mundo diz e propaga no Rio de Janeiro sobre Nanã, que é um orixá de origem jeje. Essa informação também já achei escrita nos mais diversos textos, inclusive na Cacciatore para citar um só. Pois na Casa das Minas de São Luiz, casa jeje, é o contrário, vejo no recente e excelente trabalho sobre a Casa das Minas que a Pallas publicou. Para as religiosas de lá, Nanã seria o orixá mais velho da "casa de nagô"!
Vá entender o mistério! que merecerá, no que depender de mim, pelo menos um pé-de-página em UMBANDA GIRA! quando houver reimpressão. Sincretizada com Santana, que tem a sua igreja carioca muito perto da Presidente Vargas, não porém no seu traçado, o que a poupou de ser demolida como um ou dois belíssimos exemplares de arquitetura postos abaixo pelo governo de então; perto, também do centro cultural onde se deu a linda festa africana dos últimos dias, à senhora da terra molhada, da lama origem do mundo, pertencem a lentidão, a seriedade, a cor roxa (e as flores roxas como quaresmeira, manacá, trapoeraba e thumbergia roxas) e o dia da semana que tomou para si é a terça-feira. Pois este ano o dia 26 de julho cai numa terça-feira.
Quem tem o orixá em sua coroa não se preocupa muito se a origem foi nagô ou jeje. Quer é revenciá-la com carinho, dobrado em 2011.
Saluba Nanã!

sábado, 16 de julho de 2011

tarraxacum officinalis e o dr Sachs

Minha filha se surpreendeu quando soube que dente-de-leão, Tarraxacum officinalis, era amarelo. Ela achava que a bola branca de sementes nascia assim... Ou os dentes do leão são amarelos como as pétalas bicudas da flor, ou a menção é, como creio, para a folha serralhada. É planta comestível da família das Compostas como a sua irmã serralha (não falei?!), cuja florzinha é vermelha.
Outro dia falando aqui de males crônicos do estômago mencionei que ele e/ou espinheira-santa agem muito beneficamente. Recomendo variar, dar pausas e sobretudo lembrar que por si só a erva ingerida, qualquer erva, não tem o poder de consertar o que está errado na vida da pessoa que foi arrumar uma gastrite. Para isso há, entre outras coisas, os remédios florais.
E justamente, “Tarraxacum” é um floral da linha de Minas. Não tem tradução no sistema Bach. Ajuda, simplificando muito, a enxergar as sombras e a morder a vida. É um floral dito de aprendizagem. Entra na “Fórmula de Aprendizado” que pode trazer muita ajuda a excepcionais (não apenas a eles) tanto autistas como portadores da síndrome de Down.
Por isso me chamou a atenção, ao reler O Homem que confundiu sua Mulher com um Chapéu, do grande doutor Sachs, que o “artista autista” (a última das 24 histórias) tenha escolhido desenhar um dente-de-leão durante um passeio, tendo muitas flores para escolher. O dr Sachs comenta que decididamente “essa era a sua planta e para mostrar o seu sentimento, ele quis desenhá-la” e incluiu o desenho no capítulo, o primeiro desenho, ressalta, que o paciente fazia inspirado na vida real e não noutro desenho. Sachs o considera digno dos “herbários medievais, meticuloso, botanicamente exato”.
O que diria Sachs conhecendo o Tarraxacum de Minas, o que faria José se tomasse a essência, só podemos intuir.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

na rua do riachuelo, quem diria

Há uns anos, deslocaram de alguns metros um dos pontos de ônibus da rua do Riachuelo. Parece nada, mas salvou da degradação total o antigo chafariz do tempo d´el-Rey, quando nem sei se a rua já se chamava Matacavalos e em todo caso Machado não era nascido, nem a sua personagem Capitu. Agora voltaram a crescer plantas saudáveis na terra um dia desepejada por alguém no seu bojo de pedra, há muitíssimo tempo sem receber baldes coletores d´água, e sumiram os anúncios grudados na sua cantaria.
O motivo não foi preservação do patrimônio... e sim especulação imobiliária. Pois o ponto agora fica na altura das grades de um prédio novo, de tijolos vermelhos. Não entrou no lugar de nada preservável, acho que havia um caixotinho cinqüentista em mau estado ali. Também parece nada... mas eu sou admiradora do pouco que se vê do edifício.
No Feng Shui existe, e isto acima de qualquer escola, o conceito de SHAR, a energia negativa gerada por vias retilíneas ao excesso. Como a Presidente Vargas ou a Princesa Isabel, no Rio. Por si só as ruas tendem a seguir ou curvas de nível ou o desenho de rios, o que impede que sejam de todo retas, quando não lhes imprime curvas violentas como a rua das Laranjeiras. Isto é desejável. Ilhas para o trânsito, pracinhas, canteiros amenizam o “shar”. Corredores longos e retos em prédios e casas também possuem shar.
Pois o arquiteto ou arquiteta do tal prédio deve ter noções desta arte chinesa. Quem espera o ônibus na calçada tem a impressão de olhar para uma rua, não uma portaria. Uma rua antiga, acrescento, e os tijolinhos aumentam a sensação. Canteiros diversos, curvas, chão de pedra portuguesa, suave declive bem aproveitado, à esquerda o ângulo (ia dizer a ESQUINA) de um bloco, ao fundo à direita a portaria que parece uma casinha da rua, casinha de outra esquina, esquinas não regulares como em cidades antigas.
Para completar, uma pirâmide de pedra ou bronze de cerca de 40 cm de altura num dos canteiros. Primeiro imaginei que a arte do arquiteto chegasse ao conhecimento de linhas Ley e que a pirâmide fosse uma cura, como ensina Marco Pogacnik. Depois vi que eram DUAS pirâmides e que era, talvez, apenas enfeite. Talvez. Possivelmente estão ali por um terceiro motivo, quebrar a refração dos ângulos, e é com esta interpretação que fico. Os ângulos incidiriam sobre os pedestres naquela calçada, entre os quais não poucas vezes estou.
Se você conhece a pessoa responsável pela obra da rua do Riachuelo, transmita a minha eterna admiração.