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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

flor de pitanga, curadores e licantropia

Tão pouco valorizada é a leitura no nosso país que consegui um livro de contos brasileiros clássicos, em perfeito estado, linda peça de colecionador, por dois ou três reais, não me lembro, ano passado num bazar onde qualquer livro valia menos que qualquer peça de roupa puída.
O texto do carioca Gastão Cruls, médico sanitarista e escritor, "emérito estudioso das coisas do Além", diz o prefácio, foi escolhido no seu derradeiro volume de contos, "História puxa História". Os trabalhos que nos deixou sobre a flora, fauna e costumes da Amazônia eu confesso que não li... ainda! e farei de tudo para encontrar agora. O mais elogiado, o romance "A Amazônia Misteriosa" inspirou um filme nos anos 1970 com a temática do lobisomem.
E ao redor dos lobisomens gira o conto da antologia, em que para fugir da sua sina o narrador se vale dos conhecimentos de Mãe Felisberta rezadeira amiga das ervas, que ela cultiva e com que conversa. Infelizmente Cruls não nos revela o nome de nenhuma! nem reproduz as orações. Refere a existência dos remédios e meizinhas todos feitos de plantas do quintal da Mãe e sempre preparados por ela, e nos deixa na saudade (mais um motivo para ler a obra toda de Cruls). Gostaria de pensar que uma das ervas fosse folha ou flor da pitangueira, que sempre se enfeita para a festa de Omolu. Mas não creio, o conto é ambientado na Quaresma. Porém não contando os pormenores do milagre, conta sim o nome do santo; São Roque é quem a rezadeira invoca para amenizar o destino do narrador.
São Roque, sincretizado com Obaluaiê (literalmente o Senhor do Mundo e orixá da cura e da medicina) é que tem a sua festa a 16 de agosto. Uma pesquisa rápida pelos caminhos virtuais (com destaque para as fotos de Marcelo Reis na Bahia) revela que São Lázaro, o mais associado ao orixá no RJ, tem a sua festa nas mais variadas datas (como São Benedito e talvez como outros) todas no PRIMEIRO semestre porém. Defende os fiéis contra doenças contagiosas e em particular a peste, que contraiu e de que se curou; e um cão, trazendo-lhe pão todos os dias, permitiu que não morresse de fome durante o isolamento. Por causa desse cão é que São Roque curador também cura licantropia...
Salve os curadores, médicos e rezadores, sem esquecer os terapeutas holísticos; salve pesquisadores e fotógrafos, os cães e as ervas, salve o 16 de agosto: Obaluaiê me dê o seu chapéu, a peste anda no mundo, olha as estrelas lá no céu. Ah to to!

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