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terça-feira, 29 de março de 2016

um tiro no peito, um tiro no pé; um tiro na democracia

Pobre Brasil. Pobre Angola.
Lá, permitiram que os 15 de Luanda  (ou pelo menos o da greve de fome, Luaty Beirão; creio que todos mas não afirmo) passassem o Natal em casa. Mas foram presos de novo e condenados sendo que agora totalizam 17; um dos acréscimos é uma moça. As fotos mostram com que elegância receberam o veredito. Um deles com VERITAS impresso na camiseta. Advogados e Anistia apelam, claro. Assinemos tudo que pudermos e torçamos. Gostaríamos de ver o Famoso Cantor que tem estado tão na berlinda por arte e graça da falta de educação alheia, agora se posicionar; tendo ele ido noutros tempos a Angola, quando se queria acreditar, sua crítica teria muito peso.
Lembrando que os livros ofensivos eram todos sobre democracia. Na qual o Camarada deu novo tiro.

Aqui, mais um menino lindo recebeu tiro fatal no peito, dessa vez em Madureira. Guerra de traficantes sendo que os vilões maiores são da Serrinha, tentando tomar morro próximo ocupado por outra facção; e o menino estava no lugar errado. Dói muito ver a Serrinha decididamente entregue ao tráfico; um dos grandes berços do jongo, e do samba cariocas.
Mas é tiro no pé queimar ônibus ou estação. Se uma atitude violenta dessas, embora não se possa aplaudir, até se compreende quando o tiro fatal parte da polícia, depredar a via pública é tiro no pé e agressão injustificável. Sinto muito se o leitor não concordar.
Páscoa sangrenta na Edgard Romero e em Lahore; pobres cristãos do Paquistão; pobre mundo.

quinta-feira, 24 de março de 2016

circuncisão feminina não existe

Circuncisão é um ato praticado exclusivamente nos varões, por motivos  religiosos e/ou de saúde. Assim todos os judeus, todos os muçulmanos e não poucas etnias africanas não-muçulmanas. Deixa a pessoa saudável e apta para a vida. Dos dois lados do Atlântico se pratica em alguns hospitais no recém nascido, por recomendação médica.
Circuncisão feminina não existe, é puritanismo de quem teme as palavras. Existe mutilação genital; como a infibulação: costurar a menina pre-púbere quase inteiramente para que a defloração, e depois os partos se encarreguem da volta ao normal; é acompanhada ou não da excisão do clitóris, segundo a região. Tudo a frio, claro. Mas certas regiões cortam fora tudo o que conseguem, deixando a mulher "lisinha " e quase fechada (até o parto) o que é muito valorizado. Não ficam nem saudáveis nem aptas para a vida, mas a prática não influi na capacidade de gerar filhos: que é a única função delas.
Sendo o governo da Somália um quase não-governo, promessas advindas dele têm escasso valor; ainda assim é um primeiro passo a declaração sobre as mutilações. Que cessarão ali e noutros países quando mudarem as mentalidades. 98% das somalianas sofrem esse processo; já foram 100%.
Aqui mesmo na Baixada Fluminense um energúmenos lutador de jiu-jitsu manteve em cativeiro por dois anos a mulher, argentina, em condições degradantes, ameaçando durante todo o período a vizinhança, e só anteontem graças à filha adolescente a polícia enfim liberou a moça. A família do monstro diz o seguinte, "ele não se metia na nossa vida então a gente não se metia na dele".
Mulheres que na Tunísia denunciam maus-tratos em casa (para a mulher ir à polícia, onde seja, denunciar maus-tratos do marido é que estes tratos foram muito maus mesmo) acabam não conseguindo efetivar a denúncia; ouvem que elas provocaram a reação masculina, ou como num caso recente esbarram num policial amigo do marido.
Mulher nem é pior nem melhor do que homem, mas é sim menos forte fisicamente e em muito lugar socialmente; ou práticas assim deixavam de acontecer. Tanta gente boa morrendo e gente assim fica por aqui pra barbarizar com os mais fracos. Em todos os planos.

sexta-feira, 18 de março de 2016

qué falta de respeto, qué atropello a la razón

"Vivimos revolcaos en un merengue, en el mismo lodo, todos manoseaos" continua o tango Cambalache de Enrique Discépolo (letra e música; nem todo tango é do grande Gardel).
Ambas partes dão nojo, deveras espojando-se num mesmo lodo, num jogo sem compostura. Só cantando, pra não chorar, nem vomitar. Não me parece que as manobras sejam exatamente ilegais a julgar pelo que lemos; mas quanta falta de elegância.
Perdeu-se o fiel da balança, polarizou-se o debate que é ver criança brigando por bala. Ou cachorro brigando por osso. Quem lê o blog sabe que não sou exatamente defensora de um Prefeito que pôs a Limpeza Urbana carioca para cuidar de árvore e desrespeita a população que anda de ônibus (ele anda de helicóptero sem dúvida). Mas tem TODO o direito de expressar as suas opiniões em conversa íntima,e sim, de dizer todos os palavrões que lhe aprouverem. Vergonha maior para quem gravou e para quem vazou a conversa.
Ainda bem que não votei em nenhum desses palhaços... para vereador e deputado ainda se encontram nomes razoáveis. Para os demais cargos venho anulando de forma sistemática. Mas onde estaríamos se todos fizessem assim? Talvez no parlamentarismo.
Que se resgate com urgência a civilidade da sociedade civil em todos os níveis; à rua bater panela não fui nem vou, pois tenho visto quem vai. Entregar democracia na mão dessas pessoas é pôr raposa pra tomar conta de pintinho.
Que possamos deixar de ilustrar os versos que tão bem pintam os governantes e seus adversários:
" Da lo mismo que sea cura,
 colchonero o rey de bastos, 
caradura o polizón" .


quinta-feira, 10 de março de 2016

passagens

Quando alguém se vai dessa vida raramente se deixa de ficar triste. Lá se foram George Martins e Nanã Vasconcellos, esse um pouco antes do seu término natural, mas viveu intensamente. Tive a sorte de ver o trabalho dos dois, várias vezes no caso do brasileiro. Figuraça, que fazia um trabalho socio-musical com crianças e fez música até com risos no lugar de instrumentos.
Mas cumpriram o seu tempo.
Fica-se realmente arrasado é quando alguém é assassinado a frio "porque achavam que era da PM" como estes dias aconteceu; e agora outros bandidos mataram uma pessoa definitivamente do bem, o diretor da editora Vozes, que descia a serra. O religioso recuperara a editora voltada para assuntos teológicos e sociais, que publica também belíssimos livros infantis; o trabalho de Joana Elbein dos Santos está nela, "Os Nagôs e a Morte", apesar de nunca ter sido católica.
Uma editora do bem, um frade do bem; o luto não é só da cidade de Petrópolis nem só da editora Vozes, é de todos nós.

segunda-feira, 7 de março de 2016

da (est)ética

Que coisa feia a Famosa Jornalista ir fazer gastronomia num país em que as pessoas morrem literalmente de fome, e ainda voltar elogiando o "luxo dos banheiros de mármore" que o ditador baixinho norte-coreano deixa existir para enrolar gente que quer ser enrolada.
Que coisa feia o camarada que xingou o Famoso Cantor (e família) de ladrão por ter apoiado o partido agora no governo tentar fugir ao processo alegando que "todos querem o melhor pro país, o Cantor pelo socialismo e ele pelo capitalismo". Deixa ver se entendi, todo socialista é ladrão?
Que coisa feia o ex-presidente fazer cara de choro em público após a entrevista com a PF. Se foi ilegal a forma de conduzi-lo até ela, ele que ponha advogado, mas assuma os erros e por favor tenha hombridade.
Que coisa feia os países do Golfo, entupidos de petrodólares, e que vêm investindo pesado, nos últimos 30 anos, na disseminação de um Islã fundamentalista e intolerante, em países extra-peninsulares onde ele não existia sob esta forma, fingirem que não têm nada com o fluxo de refugiados. Quando é que alguém vai perceber que eles têm muita condição de ajudar na acolhida das pessoas que fogem da guerra?
Agora feio mais que isso tudo junto é o candidato republicano, saído das telinhas sem pretensão pros debates presidenciais dos EUA, declarar que não condenará jamais o Ku Klux Klan. Foi bom: porque agora alguns republicanos por decência ou temor de perder, querem tirá-lo da corrida. Em tempo, o candidato é de origem alemã e suponho que também não condena o nazismo, só que ninguém ainda lembrou de perguntar.
Precisamos todos com urgência de uma Operação Belezura, mas que desça fundo até as raízes.