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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

os maus exemplos

O Brasil vai provar ao mundo que consegue levar olimpíada a cabo sem as condições básicas.
O mais óbvio é a maltratada Baía de Guanabara; até hoje não houve vontade real de governo algum de limpá-la nem das populações de mantê-la limpa. Há agora, novidade interessantes, barquinhos que catam o lixo maior e as garrafas. Não deveriam ter de existir. Falta cidadania da parte de quem suja. Falta educação que os governos não conseguem transmitir, e como vão conseguir se estão empenhados no que vemos?
Muito pior ainda é a poluição das indústrias e aí mesmo é que falta vontade aos governos de coibir. É dinheiro grosso. (E aí vem a público ex-ministro da ditadura se fazer de vestal como se tivesse participado de um governo impoluto).
A segurança? bom, bem ao lado dos trilhos do Veículo Leve sobe Trilhos tão alardeado pela prefeitura opera quadrilha de menores e maiores. Ficam no quadrilátero entre os fundos do Morro do Castelo, a igreja de Santa Luzia e o VLT. Parece que prenderam os mais velhos; os menores estão à solta, como a lei permite. A lei não deveria permitir que menor ALGUM dormisse na rua, infrator ou não; rua não é lugar de criança. Mas a opção oficial fornecida desde sempre é de meter medo, e sabemos o resultado. Fazer VLT por trabalhoso que seja é bem mais fácil do que achar solução funcional e humanitária.
Outro interessante aspecto da segurança é o terrorismo; depois do sujeito que foi exibir camiseta do EI na mesquita (e ninguém sabe por onde anda, nem se era imigrante ou brasileiro nato) agora há quadrilha de falsos passaportes. Olimpíadas são alvos evidentes, como o passado nos confirma.
E o que vai mesmo nos botar de vilões é um mosquitinho, que recebemos parece que de um pequeno país africano e ninguém sabe entender, que dirá controlar. A olimpíada não é em Cabo Verde, a olimpíada será aqui, e o mosquito chegou antes dos turistas.
Os habitantes da Terra estão se comportando de forma cada vez mais microcefálica; pode ser que esta seja a nossa paga, que este seja o nosso castigo. O controle natural à praga que nos tornamos.



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

vozes longínqüas

Não é livro e pode ser que demore a ser, se vier a ser; nem é filme, romanceado ou documental. Por ora é um projeto que está aberto ao público só na rede, página do projeto Shadd. Mas pode virar exposição, que certamente virá ao Brasil alguma hora: pois é internacional o projeto e o Brasil não podia deixar de ser estudado já que o tema são as vozes (cartas, outros escritos) dos africanos (ou descendentes) que subiram na vida apesar do cativeiro para redigir memórias ou manter correspondência.
Tratam-se apenas das pessoas arrancadas de sua terra; a maioria dos escravizados por outros africanos morreu sem voz em seu continente, a não ser justamente alguns que obtiveram visibilidade do outro lado da Calunga Grande. Inúmeras sombras. Quem lhes haverá de ouvir as palavras, e quem lhes ouviria...
Acontecia deste lado do mar de o escravo ganhar uma questão na justiça e ter as suas palavras reproduzidas nas atas. A mulher a quem o nome homenageia, Mary Ann Shadd, mestiça, foi abolicionista e aí entra o pormenor dos documentos serem geralmente em inglês; é possível que aqueles originalmente em português ou espanhol tenham sido vertidos e só figurem na língua original em forma de fac-símile. Naquela extraordinária caligrafia dos séculos passados, tão legível...
O projeto crescerá a seu tempo e assim a sua divulgação; abolicionistas negros além do admirável Luiz Sá o Brasil teve entre outros os engenheiros Rebouças, principalmente o André; meu caminho cruzou com o negros que desconheciam tanto com a cor de Rebouças como a sua luta, achando que era só um túnel (ou uma avenida, creio, em São Paulo).
Minha tia-trisavó ou algo por aí era abolicionista o que era duplamente mal visto no início por ser mulher.. Luz para ela aonde esteja.
E viva o projeto Shadd que universaliza algo já existente no Brasil em não poucas pesquisas e livros, mas ainda fragmentário: as vozes do cativeiro ou que no cativeiro haviam nascido, transformando estatísticas em pessoas.


domingo, 10 de janeiro de 2016

os bons exemplos

Ser minoria ou pertencer a um grupo humano explorado nunca foi garantia de bons antecedentes nem de boas intenções. Não se pode livrar a cara de quem seja, independente de gênero, cor ou religião, por conta deste particular. Assim, estão sendo punidos os refugiados que na Alemanha atacaram, e em alguns casos estupraram mulheres que encontraram em seu caminho. O infeliz que invadiu delegacia parisiense, faca na mão aos gritos de Allahu Akbar! no aniversário do massacre no jornal Charlie Hebdo fora refugiado também, por coincidência na Alemanha.
Agora a nossa PF, tentando identificar o gracioso que arrancando a camisa em mesquita carioca exibiu bandeira do EI enquanto o imã pregava a não-violência, acabou chegando noutro freqüentador do mesmo local. O que foi contratado por uma das principais universidades do Rio, por conta do currículo, apesar de ter sido expulso da França pelos seus contatos e declarações de intenção.
E isto ilustra problema ético com que conviveremos a partir de agora; vai além da ética, passa pela auto-preservação. Podia ou não podia ter sido contratado o professor de física? Quando expulso pela França, devia ou não devia ter este país monitorado para onde ele seguia? Agora que todos sabem quem é, deve ser deixado em monitorada paz, já que no Brasil não cometeu delito algum até o momento?
A iniciativa na França de convidar para chazinhos da paz na mesquita (seguindo exemplo de imãs ingleses interessados na boa convivência) visa desarmar a desconfiança. Que fatos como esses mencionados acima só poderão favorecer.
Após décadas de bons exemplos de convivência vindos da Saara carioca, teremos de aceitar que nos dias de hoje, até no Rio de Janeiro, a confiança sera sempre um tantinho desconfiada. E é pena.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Na terça dia 5 de janeiro manifestou-se no Globo psicóloga colombiana contra legalização de drogas começando pela maconha. Visava mais a proteção do indivíduo e também a contenção da violência. Nós que recentemente ouvimos a palestra de um sociólogo luso, premiado pelos resultados obtidos na terrinha justamente pela legalização geral, ficamos al mare.
Em pelo menos algumas coisas a moça tem razão; nas outras não posso entrar no mérito. Tem razão quando lembra que a Holanda é do tamanho aproximado do Piauí; e o tamanho do Brasil foi um dos motivos que impediriam a boa aplicação aqui do modelo colombiano, segundo especialistas do país vizinho quando há pouco anos receberam delegação tupiniquim interessada em saber como lutavam contra o tráfico. Outro motivo era que lá quem vai preso fica preso -ou assim afirmavam- sem padrinho que pudesse valer...
A luta da Colômbia é contra o tráfico. A luta em Portugal era contra a violência e degeneração social; o especialista português recomendou começar a legalizar exatamente pelo crack. Assusta e muito; mas lá obtiveram resultados. Inclusive, baixou o consumo!
Mais uma vez: dimensões territoriais tão díspares poderiam influir no êxito aqui do que deu certo lá. Mesmo em Portugal afirmou o moço que há restrições. Acima de tanto exigem que o usuário faça tratamento; acima de mais outro tanto, vai preso por tráfico.
Que soluções funcionariam no Brasil não temos idéia. Responsabilizar o usuário para que deixe de fortalecer o tráfico e mostrar leniência com gente que planta a sua erva para uso próprio pode ser um caminho.
Voltando à questão da imensa superfície nacional, talvez o caminho, qualquer que seja ele, passe por estados e até municípios interessados; não se cura sociedade doente com decreto federal.

sábado, 2 de janeiro de 2016

jesus na manjedoura ou no estádio?

Logo antes do Natal, quando imperavam Bons Velhinhos e Meninos Jesus pelas ruas (a ordem dos fatores retrata, apenas, a difusão das imagens pelos lojistas) publicou-se uma notícia sobre exorcismos na Polônia.
O papa Francisco reconheceu a Associação Mundial de Exorcismo e nada temos contra nem a dita cuja nem muito menos o papa; mas sim contra os excessos que vêm imperando notadamente na Polônia, país freneticamente praticante, e em vários pontos da África.
Autores africanos já relataram diversas vezes a pratica de se culpar uma criança por males que assolam a comunidade, acusá-la de bruxaria, e simplesmente organizar a sua morte pública. Isso foi denunciado nos Camarões e em Angola, onde Agualusa inseriu em seu mais recente romance as notinhas de jornais de seu arquivo. Lá em Luanda o fenômeno é urbano e a execução é pelo fogo. Não há motivo para se supor que estejam a salvo da barbaridade os países entre estes dois. Ilegal, sim, mas acalma os ânimos que não se voltam assim contra os que governam.
E um especialista ugandense em demonologia, convidado pelos bispos poloneses, lotou seguidamente o estádio de Varsóvia (evento "Jesus no Estádio") e se os resultados trouxessem paz... Mas casos de mortes e ferimentos graves vêm acontecendo como decorrência de exorcismos "caseiros".
Um padre polonês recomenda o uso do terço também contra partidos políticos "tomados por Satã". Está no seu papel de padre, talvez, e terço só é letal se usado para enforcar; mais preocupante é o uso da expressão escolhida. É responsabilidade de todos estes religiosos europeus e africanos moderar o vocabulário e mais ainda moderar os ânimos, ajudando os seus rebanhos a desenvolver o discernimento e a autocrítica. Muito mais fácil acusar o próximo de todos os males e sacramentar a acusação com o nome de Satã.
Acreditemos ou não nele ou no exorcismo, não podemos ficar indiferentes; ou podemos vir a ser os próximos exorcizados.