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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

vozes longínqüas

Não é livro e pode ser que demore a ser, se vier a ser; nem é filme, romanceado ou documental. Por ora é um projeto que está aberto ao público só na rede, página do projeto Shadd. Mas pode virar exposição, que certamente virá ao Brasil alguma hora: pois é internacional o projeto e o Brasil não podia deixar de ser estudado já que o tema são as vozes (cartas, outros escritos) dos africanos (ou descendentes) que subiram na vida apesar do cativeiro para redigir memórias ou manter correspondência.
Tratam-se apenas das pessoas arrancadas de sua terra; a maioria dos escravizados por outros africanos morreu sem voz em seu continente, a não ser justamente alguns que obtiveram visibilidade do outro lado da Calunga Grande. Inúmeras sombras. Quem lhes haverá de ouvir as palavras, e quem lhes ouviria...
Acontecia deste lado do mar de o escravo ganhar uma questão na justiça e ter as suas palavras reproduzidas nas atas. A mulher a quem o nome homenageia, Mary Ann Shadd, mestiça, foi abolicionista e aí entra o pormenor dos documentos serem geralmente em inglês; é possível que aqueles originalmente em português ou espanhol tenham sido vertidos e só figurem na língua original em forma de fac-símile. Naquela extraordinária caligrafia dos séculos passados, tão legível...
O projeto crescerá a seu tempo e assim a sua divulgação; abolicionistas negros além do admirável Luiz Sá o Brasil teve entre outros os engenheiros Rebouças, principalmente o André; meu caminho cruzou com o negros que desconheciam tanto com a cor de Rebouças como a sua luta, achando que era só um túnel (ou uma avenida, creio, em São Paulo).
Minha tia-trisavó ou algo por aí era abolicionista o que era duplamente mal visto no início por ser mulher.. Luz para ela aonde esteja.
E viva o projeto Shadd que universaliza algo já existente no Brasil em não poucas pesquisas e livros, mas ainda fragmentário: as vozes do cativeiro ou que no cativeiro haviam nascido, transformando estatísticas em pessoas.


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