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sábado, 27 de setembro de 2014

Beijada

Umbandistas tendem a confundir ao falar o Dia das Crianças, data comercial puramente, que pessoalmente faço questão de ignorar; e dia das Crianças, dia com d pequeno e Crianças com C maiúsculo, que vem a ser hoje 27 de setembro. Para nós hoje é o dia das Crianças real.
Quando era muito pequena e assolada por pesadelos aterrorizantes, sopraram-me dentro do meu sono uma forma de fugir deles acordando. Consistia em berrar a palavra PÃO!
Não tenho ideia se berrava alto ou só no sonho, mas berrava, e acordava, interrompendo o pesadelo.
 Muito, mas muito depois, soube que quem me ajudava era o meu primeiro guia, Miguelzinho do Pão, que só se deu a conhecer numa das duas ou três noites em que tomei ayahuasca, pra conhecer. O chá trouxe à tona os integrantes da "coroa" que nunca tinham trabalhado em meu corpo, esse menino, o Vovô, o Marinheiro. Pois todos carregam um "casal" de Pretos Velhos, de Exus e de Crianças mas muitos morrem sem conhecer um das metades de cada casal ou dupla.
Minha gratidão pelo Miguelzinho e pelas Crianças em geral, que trabalham muito, é imensa. Precisamos agora de um Miguelzão que nos faça despertar deste pesadelo que vivemos de decapítações, intolerância e depredação.
Para o dia de amanhã nascer bonito, DOCE, BEIJADA!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

pau-de-chuva

Pau-de-chuva é aquele instrumento roliço, fechado nas duas extremidades e contendo areia e cascalho miúdo, fabricado por diversas etnias indigenas no Brasil.
Em algumas serve para interromper tiradas inconvenientes em roda de conversa (não peçam que cite a fonte, não lembro onde ouvi relatar mas foi evento ao vivo há alguns anos, no Rio).
Noutras, e talvez sem prejuízo do outro uso, tem algum vínculo com o elemento que lhe dá nome, fora emprego musical que gente da cidade ou de nação deseje dar.
O meu está perdendo a areia; parei para falar com o indígena que vende artesanato pataxó perto do Largo do Machado. Senti que devia ter feito o contato há bem mais tempo. Mas pau-de-chuva não tinha, e me explicou o porquê.
Os pataxós (o vendedor é guarani, a esposa é pataxó e ele domina os três idiomas, absolutamente não aparentados) não estão podendo fabricar o instrumento, porque a touceira de onde provém o caule roliço está ameaçada de extinção e o Ibama não permite o corte (de onde deduzimos com alegria que os pataxós respeitam a natureza. além do Ibama).
Perguntei se não dava pra fazer com taquaras, respondeu que já tinha sido tentado e não dava certo. relatou ainda que os indígenas pataxós normalmente ao cortar árvore, plantam outra igual, mas que algo deu errado mesmo assim: madeireros? desmatamento?
Bem, veio o Ibama que pelo visto algo faz de útil e todos aguardam que se possa novamente cortar algum pé para fabricar pau-de-chuva.
E até lá é rezar para chover nas cabeceiras do Paraíba do Sul, do São Francisco, do Paraná, e chover logo. Uma boa forma de conseguir chuva é plantando perto dos rios, viu gente....
Felicidades para o vendedor poliglota e que a tal planta vingue formosa e forte e possa trazer muita chuva...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Claro que o delegado não devia ter atirado no tal provocador que o perseguia. Acidentes acontecem e quem anda armado precisa tomar ainda mais cuidado para não provocar algum- como bem sabe o ilustre delegado, que é bacharel em direito como são os da categoria.
Talvez tenha tentado desviar na última hora pois o homem foi pro hospital lúcido e está fora de perigo já. O policial responderá em liberdade.
Agora dez ou doze pessoas em volta de uma só, gritando "vou te pegar, macumbeiro" até eu, se tivesse algo à mão, usava para retaliar. Isso não é nada: na rede virtual as ofensas se acumulam há meses. O pastor que as iniciou declarou ali que "estava enrolado no pescoço [da vítima] e não ia soltar nunca mais nessa vida" ou palvras de igual sentido.
E como se sabe a rede virtual vem sendo usada para multiplicar ofensas à fé de quem não cai nas graças dos pastores.
Então a situação que tínhamos é de meses de provocação e injúrias virtuais, coroadas por cerco vociferante de sujeitos com camisetas pretas onde se lia "Morro pela Bíblia, não morro pela pátria" e diante disso e inteiramente irrelevante se houve ou não cabeçada, e de quem. O lugar dessas pessoas é num palco, fazendo rock metálica, camiseta preta e tudo. E há bandas de rock pauleira muito mais paz e amor do que eles aparentaram ser.
No Levítico se lê que "não deixarás viver o feiticeiro" e muitas outras normas que não se aplicam mais por obsoletas ou ilegais. No Novo Testamento também se lê que sem amor nada somos, mesmo falando a língua dos anjos. E nem sequer é essa que vem falando o grupo de perseguidores de camisa preta.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

desafios

Na fotografia tirada pelo ex-ISIS exibindo os prisioneiros sírios que iam executar se notam vários SEM a clássica mão cruzada atrás da nuca. Como muito bem disse o Che Guevara ao soldadito boliviano que lhe mandava levantar, - Para qué, igual me vas a matar.
E ficou sentado.
 Por que obedecem aos seus algozes as vítimas, ajoelhando, cruzando as maõs, caminhando em grupos? Na ilusão de que possam sobreviver? E isso acontece mesmo às vezes, para um ou outro; não porque foi obediente, mas porque foi esperto e abençoado, fingindo-se de morto e conseguindo fugir depois. De medo de sofrer fim mais cruel ainda? O fato é que dois ou três dos vinte que se viam (foram mais de 200 fuzilados) caminhavam com as mãos do lado, desafiando.
Apostando tudo na ficha restante que era essa apenas, o desafio; e assim celebraram a vida em meio à morte.
Desafiam a destruição e morte também os botos que voltaram a dar cambalhotas perto do cais da Pça XV. Lembro de tê-los visto brincando grudados ao cais ainda nos anos 80, e agora voltaram. Mas nem por isso está boa a situação da Baía, só o fundo próximo a Guapimirim tem ágau mais limpra. Se os botos nadaram onde foram fotografados é porque os esforços de recolher lixo rendem algum fruto. Melhor seria não precisar recolher.
Ninguém foi preso por desvio de fundos nesses anos todos, nem por deixar apodrecer usinas de tratamento de lixo. A Baía continua recebendo lixo e esgoto inclusive de indústrias. Ninguém foi preso por ameaçar de morte o biólogo que de tanto ouvir ameaças foi cuidar da Lagoa Rodrigo de Freitas como alternativa. E os botos hoje são bem menos de cem.
A Olimpíada se traz uma vantagem é essa, pôr os governantes cara a cara com a vergonha.
Águas limpas. Botos crescendo e multiplicando. Vergonha na cara. Disso precisamos; pontuação na competição de 2016 é inteiramente secundário.