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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

coletivos

A fala da deputada vitalícia italiana no Parlamento Europeu já teria sido extraordinária se ela não fosse sobrevivente do Holocausto, e sim "apenas" da guerra como de início imaginei. Pesquisando, vi que sofreu ataques recentemente em Milão, e ameaças,  que decerto motivavam aquela fala; e que tem o número de Auschwitz tatuado no braço.

Então me emocionei ainda mais, lembrando da sobrevivência miraculosa da minha sogra, escondida e  alimentada com mais quatro familiares num armário embutido de bairro popular em Paris, rue de Ménilmontant se não me engano. Que os tivessem avisado da leva do Velódrome d´Hiver e ajudado a se esconderem é menos incrível do que o que veio depois, alimentarem cinco pessoas tirando das próprias rações de guerra e conseguido manter a façanha por dois anos e meio. Sabiam muito bem o que lhes esperava se fossem delatados, e ninguém delatou. Muitos devem ter ajudado. Heróis anônimos, ajuda coletiva.

Pois no mesmo dia em que me chegou a fala de Liliana Segre, uma cidadezinha francesa recebeu a herança de um senhor que durante a guerra conseguiu. ele também com a sua família, fugir até ela, senhor esse que acaba de falecer aos 90. Le Chambon-sur-Loire tem longa tradição de ajudar fugitivos políticos e na guerra esconderam não uma família, mas muitas. Não foi a única localidade francesa que salvou crianças judias, muito pelo contrário. Adultos já era mais raro por ser mais difícil, e nessa escala nenhuma outra.

Pessoas como essas ainda existem? espero que sim. São a melhor desculpa que a espécie humana tem a oferecer por ainda estar por aqui. 


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