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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

angola de dumont a sharp

Não é preciso gostar de rap para se indignar com a acusação que pesa contra o angolano Luaty Beltrão e 14 outros presentes numa discussão do livro de Gene Sharp, "Da Ditadura à Democracia". Os quinze foram acusados de fomentar golpe de estado, desarmados como estavam; e não-violentos, pois a Anistia Internacional, cujo símbolo ( vela acesa cercada de arame farpado) vemos nos cartazes das ruas de Lisboa, não costuma se ocupar de vítimas violentas.
O MPLA está no poder desde a independência. Angola enfrenta, e não resolve, a desigualdade social brutal e a violência civil; um conhecido declarou ao regressar da terra de seus ancestrais pelo ano 2000 "eu era comunista até ir à Angola!". Ainda bem que escolheu Angola, seja dito, pra se livrar das ilusões. Fosse na Coréia do Norte talvez não voltasse pra nos contar...
Mas ser melhor do que o vizinho péssimo, ou o péssimo distante, não é suficiente. Luaty, por falar mais alto, foi espancado e entrou em greve de fome há mais de mês; as prisões ocorreram em junho e os intelectuais se queixam que fora a Anistia ninguém se preocupa com os quinze.
"L´Afrique Noire est Mal Partie" dizia  René Dumont (o livro foi reeditado há pouco e ainda se considera atual), sim, começou com o pé esquerdo. Se Dumont não podia prever nem a bandeira negra do EI nas muralhas de Timbuktu nem as monstrosidades de Bokassa, Idi Amin e outros Mobutus; infelizmente acertou no geral das previsões. Num continente que peleja por livrar-se das lutas étnicas e de clãs, dizem que o Botswana é não um paraíso, mas sim um oásis, de baixo nível de corrupção e alto nível de escolaridade, sem presos políticos. Por que tanta insegurança no governo angolano? quem discorda ou simplesmente discute idéias é perigoso subversivo? Por que pautar-se pelo vizinho errado?
Há lugar para o rap na terra dos cantos mais tradicionais de Elias dya Kimuezu; há lugar pra todas as línguas nacionais, patrimônio tão rico, ao lado do português; tem de haver lugar já, nas ruas de Luanda e do país inteiro para a discussão e a verdadeira democracia. Socialismo não se faz com frases e decretos, muito menos com calabouços.


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