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domingo, 30 de agosto de 2015

era a lua

"E quando nós saímos era a Lua" escreveu Rubem Braga no seu soneto "Soneto". Não o procurem naquele volume das cem melhores crônicas; o grande jornalista e imenso cronista reuniu "toda a [sua] obra poética", constando de quatro  poemas, mas que poemas! nas páginas finais do livro "O Conde e o Passarinho".
E assim aconteceu conosco, ao sair, e ao entrar também, em um sarau de poesia em Belford Roxo na noite de sábado.
Como [não] sabiam que vínhamos chamaram um bloco tradicionalíssimo de... Folia de Reis! Folia de Reis em agosto? Foi o seguinte: deplorando que ninguém por ali soubesse sequer o que é Folia de reis, e aproveitando que agosto é o mês oficial da Cultura Popular, os organizadores do sarau convenceram os integrantes (de sete a setenta anos) a fazer uma exceção e se apresentarem nessa data e naquele lugar; normalmente o bloco circula por outros municípios da Baixada.
E entre os poetas apresentou-se um rapaz que se dizia o primeiro declamador de rap do estado; não é preciso gostar do gênero para reconhecer boas idéias, bons conselhos e bom ritmo.
Depois de tantas boas surpresas só resta recomendar o livro, agora reeditado sem adaptações na linguagem, do escravo cubano que era poeta, Juan Francisco Manzano.
Sim, poesia numa hora dessas. Vale sempre.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

que a terra se possa molhar

Semana dedicada a Omolu Orixá da terra... orixá que gosta do seco. 
Mesmo se nos mitos "ele veio do mar". Talvez por isso mesmo. Orixá da terra, do sol a pino; uma de suas ervas nem floresce quase entre nós, por haver  normalmente umidade em excesso no ar para florir: é o aloés bíblico, conhecido entre nós como babosa.
Existem inúmeras variedades de aloés, no nosso país basicamente duas, a enorme que os feirantes vendem e a menor, inclusive mais medicinal ainda, e desprovida do ácido amarelo da outra. Trata queimaduras instantaneamente e cicatriza limpando os cortes. Há entre as ervas de Omolu uma que exatamente como a babosa, era usada no Brasil pelas lavadeiras no lugar do sabão, engordurado e malcheiroso que era: o melão de são-caetano, conhecido como "erva das lavadeiras". Não nascendo o melãozinho muito perto do rio, as moças arrancavam umas ramas e lá iam elas lavar, como Cora Coralina cantou em " Poemas dos Becos de Goiás": 
rodilha de pano, trouxa de roupa, pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Mas para haver rios é preciso haver chuva. Se nos dias de outro orixá, sua mãe nos mitos, a grande Nanã, choveu contrariando as previsões, agora é necessário que a seca cesse.
Até melãozinho de são-caetano precisa d´água. 
Que dirá os seus filhos, meu senhor!
Ah to to.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

o que a estátua lia

Há uns anos tentaram implementar a prática de celebrar no duplamente trágico 11 de setembro a inteligência em vez da estupidez, deixando na rua algum livro. (Tenho um primo que faz isso rotineiramente quando acaba de ler).
Não vingou. Uns não sabem muito bem a respeito do golpe chileno, outros talvez o aprovassem, poucos têm livros sobrando e bom, no segundo ano já se via que não ia adiante. A Biblioteca Nacional porém volta e meia organiza trocas e doações de livros e uma acontecerá por estes dias.
Por este ou outro motivo, Manuel Bandeira ganhara ontem um segundo volume em sua mesa de trabalho.
 A estátua de Bandeira é uma das melhores que o Rio tem (precisamos de mais humor nas estátuas, vejam os países europeus, inclusive Rússia. Vamos parar de homenagear todo mundo que um dia viveu ou não haverá mais calçada). O poeta está de frente para a igreja de Santa Luzia, defronte à Academia, mas se voltou para conversar com o transeunte; na mesa de bronze temos livro de bronze, cafezinho de bronze, e bronze de bronze.
Vi tremular alguma coisa no vento do Castelo, e não é que ele lia um ensaio sobre literatura inglesa?
Bandeira e a cidade merecem. Obrigada ao anônimo que deixou, e ao outro anônimo que já deve ter levado embora para casa.
Menos burrice no mundo!