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quarta-feira, 24 de junho de 2015

chuvas e ventos- e torneiras

Quando o dia de São João, sincretizado com Xangô, cai numa quarta-feira, pode acontecer e acontece mesmo com freqüência, como hoje, que Iansã também fale. Também é dona do dia da semana.
São vibrações compatíveis e afins, ambas têm a ver com o raio e o trovão. Mas a chuva e o vento são dela, e neste dia 24 de junho estão nos abençoando.
É bom nos lembrarmos aqui no Rio da seca dos mananciais no início do ano; bom lembrarmos todos, e mais em SP, que por ali ninguém conseguiu, segundo os jornais, fazer economia d´água.
Bom lembrar aos nossos governantes que no começo do ano, diante da ameaça das torneiras secarem, decidiram e prometeram construir plantas para dessalinizar água do mar, e outras instalações  e medidas visando a mesma coisa.
Você ouviu falar de alguma obra, ou pelo menos captação de recursos, nesse sentido? Não. Sò vemos políticos brigando. E sem dúvida gastando água para melhor lavar a roupa suja...
Por isso talvez Iansã esteja tão brava (eu amo a chuva. Mas reparo que estão violentos os ventos desa vez). Quando outra saia justa acontecer, ouviremos mais promessas? Que Xangô e Iansã nos livrem delas e dos que desrespeitam a vida, a água, os mananciais, e a vegetação que os faz viver.
Cauô Cabiecile!
Eparrei Oya´!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

eu visto o branco da paz, e você?

Esta frase foi postada pela família da menina apedrejada por ser do candomblé; queremos todos crer que evangelismo seja paz e amor, mas que os pastores controlem melhor os seus rebanhos então. Toda solidariedade com a família de Kaylane.
Porém não escrevo para repetir o que os irmãos de branco, com razão, estão dizendo sobre o acontecimento. Escrevo, ia escrever, para falar de cor e de censura, de patrulha ideológica. Li com assombro e horror que um coletivo nomeado em homenagem à saudosa Carolina de Jesus atacou um discurso inteiro, tachando-o de racista, por usar a palavra denegrir. O que ainda é o de menos. Atitudes extremas existem. Existiram, existirão. Assombro mesmo é a docente "corrigir" o seu discurso, retraindo-se com medo; e isso foi outro dia, creio que na UERJ.
Negro e branco são CORES antes de definir grupos de pessoas; no nosso país é particularmente complicada tal definição. A política não tem de mandar no vernáculo a esse ponto. Há expressões ofensivas, sem a menor dúvida, que pessoas de bom gosto evitam pensar, quanto mais dizer. Mas "denegrir", francamente. 
A cor branca tradicionalmente representa a pureza pelo simples motivo do sujo nela se ver muito. Daí lírios brancos, rosas brancas, trajes de comungantes e véus de noiva; a palavra "candidato" que nos vem dos romanos indica que o mesmo se apresentava puro e branco feito o lírio. Creio que vestia branco para a ocasião. Se o gajo era de fato impoluto, isso era outra questão....
Dizer que a "situação esta preta" nada tem a ver com racismo; o juiz egípcio al-Shaban citado no Globo do dia 17 de junho, menciona a "noite negra que durou um ano" e assolou o seu país. O juiz será ou não bom juiz e boa pessoa; não é nem deixa de ser por usar as palavras "noite negra".
E assim por diante.
Os piratas usavam bandeira preta não porque "black is beautiful" e sim para  assustar; o mesmo faz o famigerado E.I., em Timbuktu, na Nigéria e na Síria (conseguem até usar nela caracteres árabes feios, o que exige esforço). Branco, não por racismo mas pelo motivo citado, é nas religiões de matriz africana, no bwiti, e no Haiti a cor da pureza, que vestimos às sextas em homenagem a Oxalá ou Olorun.
É preciso pensar um pouco antes de falar, e no caso da docente, antes de calar. Para que não caia no vazio a frase da família em Vila da Penha, "Eu visto o branco da paz, e você?"

segunda-feira, 8 de junho de 2015

o estado é laico

Espero ter interpretado errado a noticia; ou que estivesse incompleta. Mas ver que membros de religiões afro-brasileiras, todos chefes de terreiros, vão discutir com algum político o ensino religioso não é animador. É outro retrocesso, em cima do primeiro, anos atrás, que foi introduzir tal ensino num estado supostamente laico.
Não há o que discutir, é só rejeitar e exigir que acabe.
Da última vez que olhei ainda éramos todos contra este absurdo. E seguirei sendo, sem receio de que me imponham penalidades de silêncio como em outras religiões: não temos ninguém acima de nós para nos mandar calar.
Além da laicidade do estado, convém não esquecer da muito fraca distribuição de professores na rede pública, que enfrenta ainda problemas de segurança, provenham estes dos traficantes, como em geral provêm, ou mesmo dos alunos, como não raro ocorre. E ainda há o pequeno pormenor da formação dos professores...  de seus salários....  da escolha das matérias...
Ainda temos analfabetos funcionais (entre eles muitos de nossos médiuns). Ainda temos níveis altíssimos de incultura (idem, idem, acrescidos de advogados, médicos, informaticistas, técnicos de toda espécie e... professores).
Cidadania é também cultura. E o estado precisa achar pontos comuns entre os alunos da sua rede; jamais promover as diferenças. Usar os minguados caraminguás para resolver problemas candentes que já enfrenta. Não inventar novos.
Que na semana de Santo Antônio Exu não aceite que em seu nome se assinem contra-sensos.
Laroiê Exu.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

porta de livraria

Como uma bomba veio a notícia que a Da Vinci ia fechar. Ou vai. Livraria que fideliza clientes, que tem ainda clientes à antiga, de encomendarem livros de filosofia e literatura da Europa, que fez parte do panorama cultural desde que foi inaugurado o edifício Marquês de Herval, com a sua fachada modernista e a sua espiral levando ao sub-solo, onde fica a livraria: que acabou chamando outras duas, sendo uma delas livraria-sebo, provavelmente o melhor sebo da cidade.
Até os anos 1960 inclusive ainda existia o conceito de "conversa em porta de livraria", tradição muito forte nas primeiras décadas do século passado, já existente no tempo de Machado. Era onde diariamente os intelectuais se encontravam. O jornalista e diplomata Antônio Olinto teve uma coluna com este título por anos num grande diário carioca. A Da Vinci, nascendo perto do fim desse período e não abrindo direto para a rua, não sendo tampouco livraria-editora, talvez tenha congregado menos gente às suas portas, mas sim muito amigo dos livros frente às suas prateleiras. Sobreviveu incólume à ditadura, até agora nas mãos fortes da viúva e da filha do fundador.
Agora todos acorremos pesarosos comprar um livro, levar o nosso abraço e desejar que se encontre uma solução. Que talvez haja. Ouvimos falar de conversas e propostas; como disse um freqüentador desolado,- Tanta gente inventa movimento pra tanta besteira, pra salvar a livraria bem merecia criar um...