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quarta-feira, 17 de junho de 2015

eu visto o branco da paz, e você?

Esta frase foi postada pela família da menina apedrejada por ser do candomblé; queremos todos crer que evangelismo seja paz e amor, mas que os pastores controlem melhor os seus rebanhos então. Toda solidariedade com a família de Kaylane.
Porém não escrevo para repetir o que os irmãos de branco, com razão, estão dizendo sobre o acontecimento. Escrevo, ia escrever, para falar de cor e de censura, de patrulha ideológica. Li com assombro e horror que um coletivo nomeado em homenagem à saudosa Carolina de Jesus atacou um discurso inteiro, tachando-o de racista, por usar a palavra denegrir. O que ainda é o de menos. Atitudes extremas existem. Existiram, existirão. Assombro mesmo é a docente "corrigir" o seu discurso, retraindo-se com medo; e isso foi outro dia, creio que na UERJ.
Negro e branco são CORES antes de definir grupos de pessoas; no nosso país é particularmente complicada tal definição. A política não tem de mandar no vernáculo a esse ponto. Há expressões ofensivas, sem a menor dúvida, que pessoas de bom gosto evitam pensar, quanto mais dizer. Mas "denegrir", francamente. 
A cor branca tradicionalmente representa a pureza pelo simples motivo do sujo nela se ver muito. Daí lírios brancos, rosas brancas, trajes de comungantes e véus de noiva; a palavra "candidato" que nos vem dos romanos indica que o mesmo se apresentava puro e branco feito o lírio. Creio que vestia branco para a ocasião. Se o gajo era de fato impoluto, isso era outra questão....
Dizer que a "situação esta preta" nada tem a ver com racismo; o juiz egípcio al-Shaban citado no Globo do dia 17 de junho, menciona a "noite negra que durou um ano" e assolou o seu país. O juiz será ou não bom juiz e boa pessoa; não é nem deixa de ser por usar as palavras "noite negra".
E assim por diante.
Os piratas usavam bandeira preta não porque "black is beautiful" e sim para  assustar; o mesmo faz o famigerado E.I., em Timbuktu, na Nigéria e na Síria (conseguem até usar nela caracteres árabes feios, o que exige esforço). Branco, não por racismo mas pelo motivo citado, é nas religiões de matriz africana, no bwiti, e no Haiti a cor da pureza, que vestimos às sextas em homenagem a Oxalá ou Olorun.
É preciso pensar um pouco antes de falar, e no caso da docente, antes de calar. Para que não caia no vazio a frase da família em Vila da Penha, "Eu visto o branco da paz, e você?"

2 comentários:

Helion disse...

Ufa, até que enfim consigo ler algo razoável sobre essa história do "denegrir".

Helion

Helion disse...

Retificando: o "razoável" parece que desvaloriza. Gostei muito do texto. Beijo.