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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

lápis, fuzil e rosa



Mais uma vez a ABI acolhe representantes e membros de correntes religiosas, dessa vez unindo a data consagrada à luta contra intolerância ao candente e tristíssimo tema dos massacres parisienses e também nigerianos. Muitos muçulmanos a caráter, e não partiram deles as críticas ao Charlie Hebdo que alguns emitiram, embora condenando a matança.
Chegara eu a comentar com um dos cheiks que o semanário tinha inclusive simpatias pela causa palestina, informação que ele já possuía. Simpatias não incondicionais, mas o que é incondicional na vida? Não se pode exigir que religiosos que jamais haviam ouvido mencionar a publicação meçam liberdade de imprensa com a mesma vara da sociedade francesa, em grande parte não-praticante e amante do sarcasmo e da auto-ironia. A grande maioria dos que desfilaram nas passeatas nunca terá aberto um exemplar; não era disso que se tratava.

E sim se vamos permitir que selvagens armados ditem a conduta dos jornalistas (de onde vêm as armas? uma bandeira do Charlie- primeira versão era exatamente, Deixemos de fabricá-las). Vimos as multidões islamicamente barbadas no Paquistão, na Chechênia e alhures vociferando contra a imprensa. Ouvimos as palavras gravadas do assassino do Hyper Kachère:- "Não gostam de nós porque aplicamos a Charia, é isso?"
Sim, é isso. Organizações internacionais de Direitos Humanos continuamente iniciam campanhas contra enforcamentos, flagelações e prisões arbitrárias por exercício da liberdade de expressão, seja em Hong Kong, na Colômbia ou na Arábia Saudita; contra violência contra a mulher, seja em Teerã ou Dehli. Mas essa imisção, se é uma, não mata, não destrói, pelo contrário salva muitas vidas e não visa muçulmanos em particular, apenas governos que desrespeitam o direito pacífico à livre expressão.
Já entre nós, onde entre mortos e feridos salvam-se comparativamente todos, mercê da nossa índole mais pacífica, fundos pentecostais reconstruíram o terreiro de Caxias destruído por incêndio criminoso. Talvez seja o perfume da rosa branca que ganhei lá, mas voltei pensando que esse não-estourar de bombas, essa delicada e frágil coexistência, possa ser a contribuição do Brasil ao mundo nessa hora.

 

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