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quinta-feira, 9 de maio de 2013

relatividades

Leio a biografia "filmada" de Carlos Gomes por Rubem Fonseca.
A ela voltarei outra hora porque é muito instrutiva....
Hoje, às vésperas do Treze de Maio, o que me chama a atenção é o aspecto racial,e como isso afetou o nosso maestro..
Rubem Fonseca o descreve como caboclo, filho de "mulato e cafuza", acobreado e de longos e bastos cabelos negros. Carlos Gomes os alisava, criando assim uma estampa romãntica à la Theophile Gauthier. Quando deixava de os alisar encrespavam e armavam; assim ocorreu ao entrar em depressão com a perda do filho de cinco anos (não sei se algum dos que teve se criou, porque não atingi o fim do livro ainda... Crianças mesmo bem cuidadas e nutridas como eram as suas, eram seres muitíssimo frágeis)
Mas apesar do cabelo armado, que evitava que vissem, foi identificado na Itália como "índio" e os desafetos o xingavam de antropófago... O "Guarani" ajudaria nessa identificação.
Já a esposa italiana o via mais como negro, e apesar da muita paciência que teve, até deixar de ter (e pagar na mesma moeda) com as infidelidades do maestro, um dia culpou  da morte dos filhos o "mau sangue negro" do marido, que lhe fizera crianças "defeituosas".
No Brasil, um dos maiores amigos de Carlos Gomes era o engenheiro abolicionista  negro, André Rebouças. Rebouças era homem brilhante e culto.  E incentivava o amigo a passar uns bons anos pela  Itália,  pois no Brasil só havia "aimorés e botocudos". Até abolicionistas negros naquele tempo  manifestavam preconceito, na maior inocência, pois tudo é relativo...
Fico pensando como esse caboclo tão cheio de música é o retrato do Brasil....
Acrescento que em visita aos pagos, Gomes libertou diversos escravos que comprou para este fim. Mas foram atos soltos; um ano depois os três contemplados foram vistos a mendigar. Pois, como muito bem diz Fonseca, indenizava-se er ao amo, pela perda do bem móvel, e jamais ao ex-cativo,  pela perda da liberdade... Os forros que lograram êxito vinham construindo o seu pecúlio; out tinham mais garra, ou ainda receberem alguma jauda. Airados na rua, estes "do" maestro  só tiveram a sorte de poder dizer, - Sou forro.
O que já era mais do que muita gente aceitava.
E...  mesmo sabendo que  a intenção foi maior que o resultado, salve o Treze de Maio!




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