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terça-feira, 29 de novembro de 2011

de bandeiras e píncaros

Manuel Bandeira freqüentava macumba. Em particular a da Tia Ciata.
E daí? Daí nada, só que esquecera a informação (em "Macunaíma") e topo com ela hoje que tinha um texto alinhavado sobre ele.
Estava relendo "Belo belo" e me chamou a atenção o lamento, "tenho tudo que não quero; não tenho nada que quero; não quero óculos nem tosse nem obrigação de voto". Depois o poeta lista aquilo que quer e não tem, ares puros, água virgem, rosa crescendo em píncaros, beleza e saúde enfim.
Na verdade tinha muito mais do que só óculos, sendo dono de invejável feíúra física, e a "tosse" era a da tuberculose que perseguia o poeta de "Pneumotorax", aquele em que o médico declara que a única coisa a fazer é "tocar um tango argentino".
Pelo lado das coisas positivas, não listadas no poema, conquistou muitíssimo mais do que se podia pensar ao ler os versos; reconhecimento em vida, amigos muitos, elogios, publicações; e hoje, na calçada da Academia Brasileira, uma das mais interessantes estátuas do Rio de Janeiro (o poeta em tamanho natural à sua mesa de trabalho. Cafezinho de bronze, pena de bronze, livro de bronze, e bronze de bronze.)
Sim, os píncaros salubres, incompatíveis com a permanência no Rio. Realismo na vida prática também... E o barracão da Tia Assiata pela descrição do amigo, lotado de gente suarenta e de fumaças, não devia fazer bem nenhum a esse órgão. Como tantos de nós, Bandeira queria estar em dois lugares ao mesmo tempo e foi optando pelo que era mais accessível. Valeu a força da inércia. Como tantos de nós, ao opor seus males e seus sonhos, minimizou seus defeitos; e esqueceu, ou fingiu esquecer-se, das suas bênçãos.
E o pulmão? pois se era do pulmão que ia falar... acabou incompatível com a Praça Onze e a memória daqueles batuques. Estes e aquele ficam para outro dia.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

babados

Na Bíblia menciona-se o perfume do aloés, um dos mais requistados parece na época (ou talvez um dos únicos disponíveis?) Aloés é babosa, simplesmente, 'Aloe vera' e variantes. O perfume será sem dúvida o da flor porque babosa não tem cheiro. E a flor não é tão comum, embora muito bonita. Só em fotografias vejo florescer.
Em compensação ao romper a folha da babosa graúda sente-se cheiro de alho e cebola. A planta afinal é uma liliácea como esses dois temperos. A babosa miúda além de não "babar" não tem esse cheiro. E é a mais indicada para usar direto na pele pois o seu gel se liquefaz e não contem depósito avermelhado; dizem que é também a mais forte para ajudar no tratamento de tumores internos.
Quem lê espanhol volta e meia se sobressalta com "jardins em que rastejam as babosas", trata-se no caso de lesmas. A planta ganhou esse nome porque a graúda de fato "baba" uma vez aberta; mais uma vez, a miúda não... E é a que dá facilmente para plantar e cuidar num peitoril de janela!
Excelente para queimaduras; em emergência colha-se quando precisar,mas podendo optar colher de manhã cedo para pele e cabelo, e à meia-noite, concordam todas as linhas, para limpeza de doenças; porque está mais concentrado o seu poder. Apesar de tão inócua de aparência babosa é forte!
Pouca rega, viu? sendo tão molhada por dentro, e de pele tão fina (a miúda mais ainda) é sensibilíssima a excesso de umidade. Se depois de muita chuva as raízes, entupindo o vaso- que precisa ser de barro- mantiverem água presa ali dentro, escoe logo.
Até porque se não escoar o que mais pode acontecer? Exatamente. AQUEEEELE mosquito pernilongo pode vir fazer visita. Então babosa saudável é babosa com terra só umida... e boa sorte com uma das melhores plantas que há.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

sua banda caiu no angome

O meu livro UMBANDA GIRA! serviu de base para uma entrevista que a Rádio Melodias de Terreiro fez comigo essa semana. Sendo nos dias que precedem a comemoração dos 103 anos oficiais, me sinto duplamente honrada pela sincronicidade.
Digo sempre "oficiais" porque participo da opinião que já exisitia então o que nós chamamos hoje de Umbanda, mas com o nome de macumba ou batuque. Podia ser mais africana do que cardecista, mas não entrarei aqui na briguinha entre as várias correntes até porque ela tende a desaparecer, por conta do bom senso (todos vestimos branco) e da frente comum perante as agressões. Por conta, talvez acima de tudo, das tênues fronteiras entre tal e tal linha, existe um sombreado onde elas se sobrepõem que muda de tom e sotaque mas nos envolve a quase todos: a Umbanda é de todos nós.
Seja como for, no CCBB anos atrás uma exposição sobre o Rio Antigo trazia o desenho (aumentado para o tamanho natural) de uma moça branca de cabelos soltos "dançando em rito africano" dizia a legenda, recebendo Seu Marabô, acrescentaria eu; e isso era pelos anos 1880-90.
Ao mesmo tempo que lamentamos a demolição da casa onde começou oficialmente a Umbanda, ao mesmo tempo que esperamos que após as obras em curso o Museu da Polícia passe a franuear o acesso às coleções afro-brasileiras, notamos um pouco mais de harmonia entre Umbanda e candomblé. Vejo meu livro ser levado para eventos na Bahia apesar da pecha que se ouvia "Umbanda não vende por lá"; vejo-me receber convites de irmãos da corrente vizinha, e talvez o que mais tenha gostado tenha sido receber convite para uma Feijoada dos Pretos Velhos no Treze de Maio este ano, organizada entre outros pelo Movimento Palmares na área do Valongo; e não recebi uma só mensagem dizendo coisas como "Preto Velho nada, viva Zumbi!"
Viva também Zumbi, os Velhos e as Crianças...
E a feijoada estava uma delícia.
Saravá Umbanda!
ps- "angome" ou angoma é o tambor sagrado, como no jongo. Salve a mistura de influencias!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

replantio já!

Há umas semanas sete mulheres pintamos a sombra das árvores cortadas no baixo Cosme Velho. De ALGUMAS das árvores cortadas em todo caso. A idéia começou com um artista mineiro que simplesmente riscava com um pedaço de gesso, fotografava e punha na rede. Linda iniciativa.
No Rio decidimos pintar, talvez porque no grupo havia várias artistas plásticas ou afins. Junto a um dos locais deixamos as palavras REPLANTIO JÁ!
Desde que conheço essas vizinhas chamo a atenção para a necessidade de fazer algo pelo famoso "Campinho" de que tanto já falei aqui e pelo qual contactei várias vezes a Secretaria de Meio Ambiente. Sugeria eu às moças uma limpeza, nos moldes da que já fiz sozinha há uns anos e que acabou resultando na placa que a então Prefeitura instalou. Quatro jardineiros do município e ao mesmo tempo da comunidade cuidavam da área, além de várias adjacentes (inclusive um maravilhoso pomar que serpenteia pelas curvas da pedra, pois o campinho é servidão para o Dona Marta que tem esta subida menos conhecida por Laranjeiras.) Para quem chegou agora, a matinha em volta do campo de futebol é propriedade particular mas zona non aedificandi, e a responsabilidade de zelar pela encosta cabe à Prefeitura. Mas há vários anos está abandonada.
Ou talvez coubesse. Será que mudaram a lei? pois a limpeza foi até feita por alguém, removendo os montes de árvores mortas (cadáveres insepultos estes que me levaram a tanto reclamar junto à Secretaria em 2010) para... construir uma casa, no local de outra anteriormente embargada pela Secretaria de Meio Ambiente, com o agravante que a primeira casa botou abaixo seis pés de "sabiá" e esta nova acabou com o que havia ainda de mata por trás da construção em ruínas. Teme-se que do lado oposto da área aberta se faça o mesmo, e se assim continuar nem futebol se jogará mais ali. Aroeiras que foram cortadas criminosamente, se replantadas, ficariam coladas ao muro da casa.
Mais respeito com a vegetação; replantio já!