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domingo, 10 de outubro de 2010

feng shui na era pre-vitoriana?

Mais Feng Shui de onde menos se espera: Charles Dickens, tão pouco lido no Brasil, onde tem muita gente achando que aquele mágico da televisão nasceu com o nome que usava... Ocorre que volta e meia releio certos autores, tudo que possuo deles. Machado é um, Cortázar e Naipaul são outros, e Dickens é outro ainda. Desta vez fui anotando o que me chamara a atenção anos atrás. Acrescento que para o caso é pouco relevante que você leia Dickens ou não: basta observar as coincidências.
Fiquei assombrada- sem trocadilho, como o que segue poderia sugerir – com as que vi entre usos e crenças ali registrados apesar da diferença espaço-temporal(Dickens morreu aos 57 anos, em 1870). Em Dombey and Son, um mordomo insiste que casas de esquina trazem má sorte. Ora, essa é uma das recomendações do Feng Shui, antes de pensar na harmonia do espaço interno (eu acho uma pena, adoro quartos com janelas em “ângulo reto”, outra coisa que mandam evitar se possível, mas também nunca morei em um...)
Isso é pouco? Tem mais. Tomem-se Barnaby Rudge e Bleak House (creio que não estão traduzidos. Curiosidade: em B.H. Dickens encena um óbito por combustão espontânea, forma de morte ainda não esclarecida de forma satisfatória – satisfatória para os sobreviventes, é claro): abundam menções de velas que ardem mal quando a situação pesa. Ora, isso é comprovável, se alguém trabalha com velas saberá confirmar. No tempo de Dickens eram de cera ou sebo, as nossas são por ora de parafina (mas se a escalada do preço das velas se mantiver, em breve voltaremos à lamparina) e no entanto já reagiam da mesma forma. Gotejam, formam o que os ingleses chamavam de “mortalhas”, e havia instrumentinhos para limpar o pavio, evitando isso. Mas o pavio, acrescento eu e deixa implícito Dickens, não se suja quando a energia produzida e recebida está limpa. A descrição mais pavorosa e detalhada de vela “suja” é a que ilumina a descoberta do corpo de um opiômano. Na mesma casa em que depois.. ni-na-não, vão vocês ler.
O mais surpreendente porém e ver um personagem de Barnaby Rudge “dar pro santo” antes de beber, jogando no chão e murmurando algo que para minha infelicidade o autor não registrou, e talvez nunca tenha conseguido saber. Já vi senegaleses fazerem isso, o que não surpreende, haja visto as influências africanas na nossa cultura; inglês é o único registro que conheço, prova de que sou bem ignorante.
Caminho das folhas, o blog que cita os clássicos.

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