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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

requiem por uma jurubeba

Pra mim dia da árvore é todo dia; por acaso soube que coincidia com a caminhada pela tolerância religiosa, no dia também dedicado à paz. Pra mim, a idéia de paz também é todo dia e dia 21 é o equinócio chegando.
Onde é que a jurubeba entra nisso?
Bem... no começo eram duas, a jurubeba e a mutamba. Não fui eu que plantei, foi um maravilhoso jardineiro, João Severino, que trabalha no bairro e que por livre e espontânea vontade arborizou quase toda a rua. Eu com uns tempos de bairro notei, e notei também que eram regularmente (de)predadas. Seu João também havia notado. Até avisei nas listas virtuais de que então participava, para chamar uma corrente positiva sobre elas.
Não havia dúvida de que estas duas árvores, importantes aos cultos de influência africana (mutamba é inclusive um nome banto) vinham sendo perseguidas por algum vândalo intolerante. Vandalismo simples quebraria galhos indiscriminadamente por toda a rua. O outro foco do ódio do(s) vândalo(s) é o canteiro da sinagoga. Precisa dizer mais?
Cheguei a pensar num umbandista predador, que los hay... colhendo com brutalidade e sem discernimento (e achando que mesmo assim o banho de folhas lhe faria bem). O volume dos estragos e o caso da sinagoga me convenceram que se tratava realmente de perseguição fanática.
Comecei a cuidá-las, não me peçam detalhes... e as adotei assim que soube do programa da Prefeitura, às vezes criticado por dizerem que desta forma o governo empurra as responsabilidades pro público. Bem, também não foi o governo que as plantou, foi seu João... Nem estou trabalhando pela Prefeitura, trabalho pelas folhas; e pronto. Seu João também adotou várias das que plantou, suas filhas se tornaram suas afilhadas...
Os estragos diminuiram e as árvores cresceram, já com os cuidados e mais com a adoção. Parece que gostaram! Cresceram ao ponto de eu não mais poder retirar galhinhos secos ou parasitas com a mão... agora quem limpa é a chuva.
Há dois anos um carro roubado bateu de frente na jurubeba que se quebrou, e com os nossos cuidados rebrotou. Deve ter ficado porém fragilizada. Por volta do equinócio anterior, há seis meses, comecei a organizar um evento comemorativo de cantos de Umbanda que de fato ocorreu em julho, no Museu Militar em São Cristóvão. Foram necessários ensaios e antes, uma reunião aqui em casa. Nessa noite choveu muito e ventou. Dia seguinte a jurubeba estava quebrada tão rente que até seu João não reclamou quando a limpeza urbana "removeu", como deram pra chamar o corte.
Parques & Jardins prometeu "plantar outra muda da mesma espécie no local". Tomara. Mas fiquei chocada com o acontecido e com a coincidência temporal (sem trocadilho). Até parece o mito de Iansã com Ossãe... mutamba é folha dela, jurubeba é folha dele... E como fica quem carrega energia dos dois?
Trabalho com sinais, não profissionalmente, espiritualmente. É tema do livro Sinais de Vida. Outro dia recebi uma enxurrada de sinais que só fui entender no dia seguinte, quando a repórter ao telefone comentou que domingo era dia da árvore...
Nunca participei de caminhadas pela paz e não penso ir nessa. Trabalho pela tolerância religiosa todos os dias. Para a passeata do dia 21, a minha participação já está definida: estou homenageando a jurubeba, que se tornou amiga e me permitiu até elaborar florais dois anos seguidos;através dela todas as folhas do mundo inteiro; e através das folhas todos os cultos do mundo inteiro que respeitem à natureza e aos demais cultos. Harmonia e luz.

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