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sexta-feira, 19 de novembro de 2021

o "aí" da questão

 Na véspera do dia da Consciência Negra, que como o da Árvore e tantos, é todo dia, lemos que um funcionário negro do Porto não consegue se ver livre de uma acusação que o descreve como "frio e perigoso" apesar de já por três vezes a Defensoria ter demonstrado que de fato era negro com o cabelo raspado, mas sem outra semelhança com a descrição do criminoso. Há inúmeros negros de cabelo raspado, inúmeros brancos ou mestiços idem, e se este for o único quesito vamos muito mal. "In dubio pro societate" repete a acusação; princípio esse bastante controvertido nos meios jurídicos. O que aconteceu com "in dubio pro reo"?

Há poucos dias uma garota de catorze anos foi vítima de injúrias e ofensas vindas de um colega da mesma idade, que não aceitava compartilhar a mesma sala de aula com uma negra. Aos catorze anos é possível que mude, mas e os que lhe ensinaram?

O enrolado caso de discriminação racial em SC é ainda mais estranho. Compreende-se que os jogadores do time faltoso tenham divulgado uma nota afirmando que a maioria deles vem a ser afrodescendente e que a punição prejudicava o time todo mas não punia o culpado da ofensa; compreende-se que não quisessem perder três pontos e assim ver o time rebaixado. Compreende-se mas não se aceita que sejam frequentes casos de injúrias contra esse mesmo jogador: ele usa os seus cachos longos e soltos, orgulhosamente, e isso racistas cariocas têm dificuldade de aceitar, quanto mais racistas catarinenses. Não se compreende que um dirigente tenha sugerido que o valor da multa fosse entregue a determinada (e com certeza mui louvável) casa de caridade, porque se deixassem o jogador escolher ia acabar indo pra  "esse Movimento Negro aí".

Além da petulância de querer tutelar o pensamento do desportista ofendido como se sozinho fosse incapaz, impressiona-me o "aí" no fim da oração. Onde será que já ouvimos isso? Será o cacoete uma tatuagem verbal, um selo da extrema-direita por assim dizer? Ou o distinto senhor incorpora sem     querer a  forma de se expressar, relaxada no mau sentido, do seu mentor? Triste país.




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