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sábado, 26 de maio de 2012

sim sinhô

A gente tende a esquecer que ao Brasil chegaram, nos navios negreiros, não apenas praticantes de religiões africanas tradicionais (bem diferentes de Umbanda e candomblé de hoje e algumas de uma violência para nós difícil de imaginar, qualquer que seja o tom de nossa pele) mas também muçulmanos, africanos islamizados; houve até pesquisadore que afirmaram ser o nome de Oxalá derivação da louvação "inch-Allah!". Muitos foram levados para o Recôncavo: foram os hauçás. Aos que ficaram no Rio de Janeiro dava-se geralmente o nome de muçurumis. Muito instruídos e relação aos demais cativos, pois sempre aprendiam a ler para ter acesso ao Alcorão, eram versados também em artes da cura e sabiam trabalhar com ervas. Naturalmente tinham precisado adaptar-se, exatamente como os nigerianos, os bantos e todos os demais, às folhas que encontravam aqui. Umas eram idênticas às que haviam conhecido, outras vinham trazidas d´África pelos próprios cativos ou como encomendas, até pelos mercadores africanos de escravos; algumas os portugueses aclimataram, como o manjericão, e por fim muitas não tinham equivalente e a rica flora local sugeriu alternativas viáveis. Um destes rezadores, que viveu há um século na então capital e foi assiduamente frequentado pelo grande sambista Sinhô, foi pai Assumano Mina do Brasil. O seu sobrado próximo à igreja de Santa Rita não existe mais na Visconde de Itaúna. As janelas ele mantinha fechadas em permanência por conta das ervas, afim de não contaminá-las com as vibrações externas indesejáveis; sem dúvida a igreja vizinha era uma delas. O primeiro cemitério de Pretos Novos já havia sido desativado, em favor do Valongo e depois do morro do Castelo que por então se desmontava. É possível que Assumano soubesse que existira ali quase à sua frente, no atual Largo. O fato é que não permitia abrir janelas. Imaginemos o velho muçulmano, todo de branco, impregnado pelo intenso cheiro de ervas e toda a casa a elas rescendendo. Sinhô não lançava nada sem ir falar com ele. Não deu certo para o músico que faleceu cedo; mas o propósito das consultas eram os sambas. E estes até hoje se cantam!

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