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terça-feira, 30 de agosto de 2011

prefeito, venha conhecer a horta...

Não se pode só criticar a Prefeitura do Rio, primeiro seria um tédio, depois não seria justo. A Secretaria de Cultura organiza algumas coisas legais, por exemplo. Há vida inteligente. Quanto ao meio-ambiente, li que estão usando agora biomantas de fibra de coco nas encostas; há entulho aplicado em terraplenagem (uma velha técnica: o Aterro do Flamengo é resultante da demolição do Morro do Castelo), e bem original, o reaproveitamento do asfalto. Dura três vezes mais, com juros (chega a dez anos) do que o convencional, é quatro vezes mais barato, polui menos e reaproveita asfalto de raspagens em 15% ; exige temperatura mais baixa (esse aliás é o segredo!!) o que polui menos. Tem mais, coisas que deveriam ter sido feitas há muito mais tempo, e usadas em todo o território: Clínicas da Família todas reaproveitam água da chuva, em descargas, regas e emergências. Prova que em todo lugar há gente que quer fazer e faz!
Mas o prefeito parece ter cisma, fobia de objetos verticais. Arranca fradinhos e gradis, e árvores. Muitas árvores. Já se falou disso aqui, mas é que perto da minha casa arrancaram mais algumas. Sou contra a "compensação", acho que se deve sim plantar muito pé de pau em Brás de Pina e Meriti mas SEM cortar outras noutro bairro por isso. Cortou, replanta ali mesmo e na mesma hora: em Brás de Pina como no Cosme Velho, onde uma amendoeira SEM doença alguma foi cortada, uma mangueira saudável chegou a ser ameaçada e foi salva graças à ação dos moradores, e uma figueira que atrapalhava estaciomamento removida. Que amendoeira não se planta mais em cidade, todos sabem. Só sobrevive em praça... como esta estava. Bela, saudável, não interferindo em nada com a ssuas raízes. Podemos entender que cortem árvores doentes, vá lá, ou cujas raízes derrubem prédios: o inaceitável é cimentar a cicatriz. Como estavam fazendo. Prefeito, embuta os fios de luz, deixe as copas em paz, e traga a Comlurb de volta aos seus serviços tradicionais que as ruas estão imundas!!!!!
Mas eu ganhei uma espécie de compensação verde. Não da Prefeitura, não. Meu filho, que já vinha dando mostra de grande interesse por plantas medicinais (bem gente, ele está no nível alecrim-manjericão por enquanto, deixa o menino) desenvolveu um nítido dedo verde e até, bom sinal, já foi escolhido por uma solanácea que nasceu sozinha por lá. Qual, o tempo dirá.. Erva-moura, batata, jurubeba, tudo é possivel...

domingo, 21 de agosto de 2011

chalmugra e sapucainha

Lepra, ou hanseníase que é o termo mais recente (de Hansen, médico norueguês que identificou na década de 1870 a bactéria causadora; não foi o primeiro estudioso mas ciência é isso, vale-se de trabalhos anteriores. Hansen, no afã de associar o micro-organismo à doença, tentou infectar a enfermeiros e pacientes também, não obtendo felizmente êxito nesse quesito e sim uma ação, que compreensivelmente alguém moveu contra ele!) lepra em suma é tema que desde a saga alto-medieval de Tristâo e Isolda volta e meia fascina aos escritores (vejam Vargas Llosa em "A Casa Verde"). No caso dos amantes acima, Isolda tem de jurar que foi fiel ao seu esposo o rei Marcos; não lembro se era ordália completa, com água fervente ou barra incandescente, ou se o não ser fulminada pela ira divina valia prova. O castigo seria normalmente perecer na fogueira; mas num requinte de perversidade o rei decide entregá-la à colônia de leprosos ali perto para que lhes sirva de objeto sexual.
Isolda se livra! Como? jurando que nunca houve além de Marcos, outro homem entre as suas pernas a não ser o campôneo nas costas de quem atravessou o rio. E este, claro, era o disfarçado Tristão.
Pois se na Europa por muitos séculos não existiu mesmo remédio algum para a lepra, no subcontinente indiano e no Brasil havia. No nosso caso, não tão difundido que evitasse a existência da colônia descrita por Vargas Llosa, na fronteira amazônica. Trata-se lá, da chalmugra e aqui, da sapucainha, ou chalmugra brasileira; cujo uso tópico da pasta das sementes ou do óleo cura males da pele e em particular a lepra. Há quem a considere melhor do que a chalmugra, notadamente para tratar de doentes locais; há quem tenha achado tal preferência mero ufanismo do Estado Novo. Até hoje os médicos brasileiros não se acertaram quanto a este ponto. Em ambos casos, a observação de animais ingerindo folhas e sementes levou ao uso empírico coroado de sucesso.
Aqui fica a homenagem aos curadores ancestrais, aos médicos pesquisadores, aos animais que abriram o caminho; e estando como estamos ainda em agosto: mais uma vez, Ah toto!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

flor de pitanga, curadores e licantropia

Tão pouco valorizada é a leitura no nosso país que consegui um livro de contos brasileiros clássicos, em perfeito estado, linda peça de colecionador, por dois ou três reais, não me lembro, ano passado num bazar onde qualquer livro valia menos que qualquer peça de roupa puída.
O texto do carioca Gastão Cruls, médico sanitarista e escritor, "emérito estudioso das coisas do Além", diz o prefácio, foi escolhido no seu derradeiro volume de contos, "História puxa História". Os trabalhos que nos deixou sobre a flora, fauna e costumes da Amazônia eu confesso que não li... ainda! e farei de tudo para encontrar agora. O mais elogiado, o romance "A Amazônia Misteriosa" inspirou um filme nos anos 1970 com a temática do lobisomem.
E ao redor dos lobisomens gira o conto da antologia, em que para fugir da sua sina o narrador se vale dos conhecimentos de Mãe Felisberta rezadeira amiga das ervas, que ela cultiva e com que conversa. Infelizmente Cruls não nos revela o nome de nenhuma! nem reproduz as orações. Refere a existência dos remédios e meizinhas todos feitos de plantas do quintal da Mãe e sempre preparados por ela, e nos deixa na saudade (mais um motivo para ler a obra toda de Cruls). Gostaria de pensar que uma das ervas fosse folha ou flor da pitangueira, que sempre se enfeita para a festa de Omolu. Mas não creio, o conto é ambientado na Quaresma. Porém não contando os pormenores do milagre, conta sim o nome do santo; São Roque é quem a rezadeira invoca para amenizar o destino do narrador.
São Roque, sincretizado com Obaluaiê (literalmente o Senhor do Mundo e orixá da cura e da medicina) é que tem a sua festa a 16 de agosto. Uma pesquisa rápida pelos caminhos virtuais (com destaque para as fotos de Marcelo Reis na Bahia) revela que São Lázaro, o mais associado ao orixá no RJ, tem a sua festa nas mais variadas datas (como São Benedito e talvez como outros) todas no PRIMEIRO semestre porém. Defende os fiéis contra doenças contagiosas e em particular a peste, que contraiu e de que se curou; e um cão, trazendo-lhe pão todos os dias, permitiu que não morresse de fome durante o isolamento. Por causa desse cão é que São Roque curador também cura licantropia...
Salve os curadores, médicos e rezadores, sem esquecer os terapeutas holísticos; salve pesquisadores e fotógrafos, os cães e as ervas, salve o 16 de agosto: Obaluaiê me dê o seu chapéu, a peste anda no mundo, olha as estrelas lá no céu. Ah to to!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

de bichos e dutos

Leio que na região de Mauá onde asfaltaram a estrada de terra, motivo de antiga polêmica, construíram sete zoopassagens, ou bichodutos, aproveitando trilhas escolhidas pelos animais. Isso é um mínimo, creio. Será também necessário fiscalizar sempre, acredito, para evitar que essas "passagens para pedestres" tenham destino igual às do Rio, em que só as que contam com segurança permanente não são evitadas pela população. Não sou entusiasta do asfalto, mesmo assim. Porta aberta para a degradação. Querem viver no verde mas o verde como paisagem, montados em automóvel, computador, banda larga e tudo mais.
Leio também que enviarão ao cosmos missões conjuntas de limpeza espacial, para recolher o lixo que o ser humano atira no espaço há décadas. Antes tarde do que nunca... Mas não esqueçam de levar a faxina para os oceanos, outro lugar onde o lixo fica longe dos olhos e dos corações. Atenção: afundar propositalmente estruturas de cimento ou metal que não apresentem contaminação é recurso adotado por biólogos e oceanógrafos para estimular o crescimento de mexilhões, a vinda de peixes e tal. Não é isso que vem ocorrendo nos mares de países africanos como a Somália, países onde os poderosos ocupam-se unicamente de permanecer no poder e outros de arrancá-los dali em benefício próprio. A Somália é o mais castigado por apresentar maior carência de poder público. Ali países europeus e asiáticos vêm despejando de lixo hospitalar a lixo nuclear passando por todo tipo de dejeto que assim não precisam tratar. Os mesmos países PESCAM desenfreada e ilegalmente ali; principalmente atum. Atum esse que nada nas águas contaminadas pelos dejetos.
Pense nisso quando lhe falarem de piratas na Somália. E pense nisso quando pensar em comer atum.