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quarta-feira, 11 de maio de 2011

saravá a banda

Os tempos aqui na terra parece que vêm soprando alguma conciliação. Vejo até ex-guerrilheira apertando mão de militar. É saudável os sobreviventes de uma guerra conseguirem viver em paz e até descobrirem alguns objetivos comuns.
Estamos nos preparando para festejar o Treze de Maio, data que deveria simbolizar perdão e redenção. Em alguns círculos tinha virado moda demonizar a Princesa Isabel, em seu tempo igualmente demonizada pelos escravocratas, por insistir em usar as “camélias da liberdade” plantadas no quilombo protegido do Leblon. Ofender a sua memória é falta de conhecimento. Mas os grandes heróis da festa são mesmo os Pretos Velhos. Tenham eles “cavalos” pardos, negros, mestiços, louros ou índios; e tenham eles ainda cavalos, ou como se diz “não venham mais” porque já alcançaram a luz.
Recentemente saiu um trabalho sobre liberdade e escravidão onde fiquei triste de ler que [pesquisando o passado, podemos] “ver como os brancos eram cruéis e desumanos”. Isso nada acrescenta a ninguém. TODO cativeiro, tenho vontade de escrever para o autor, e espero um dia lhe dizer, é cruel e desumano. Assim foram os descendentes dos colonizadores portugueseses, assim foram os negros africanos que venderam os seus irmãos já escravizados por eles, assim foram os mestiços libertos que fizeram comércio de escravos, e assim foram os ciganos que Debret retratou, reproduzindo uma casa-depósito perto do Valongo, o sinistro mercado de escravos no tempo que o Rio tinha um tamanho de um ovo. E cuja restauração prometida, ainda que parcial, festejamos, para que o nome viva na memória. Censurar o passado não costuma dar certo.
Este ano organizam uma caminhada festiva na região, para saudar o Treze de Maio e a importância da herança negra na cultura brasileira. Fui convidada e vou, se Deus quiser e os Compadres ajudarem! Gostei da iniciativa, que ao invés de dizer “Treze de Maio não está com nada, viva o 26 de novembro” entre outras coisas que já precisei ouvir e rebater, estende a mão amigavelmente, relembra, homenageia e a todos respeita.
Afinal, todos nós descendemos de alguma das pessoinhas “cruéis e desumanas” mencionadas acima, e perdoamos a nós mesmos; o perdão precisa ser mútuo e abrangente. A Umbanda saúda os Pretos Velhos em sua maior festa, sáuda o fim de todos os cativeiros, os legais nas fazendas brasileiras ontem, os ilegais nas fazendas brasileiras hoje, no norte do País, na Mauritânia onde a lei já proíbe e contudo persiste; e em muitos países africanos onde o trabalho escravo ilegal e esquecido planta o chocolate que comemos.
Saravá a banda dos Velhos!

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