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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

a mente que não deixa mentir

Recentemente quis se tratar comigo um conhecido que explicou estar muito mal da cabeça. Chegando ele, ficou claro que era também físico o mal. Tanto que defumei tudo com moxa após a sua partida, de tanto que estava encatarrado e rouco.
Assustou-se quando abri um envólucro de agulhas pois pretendia receber só uma receita de florais. O seu estado físico exigia tratamento imediato no plano físico, e diante do seu pavor inseri apenas 3 agulhas, na orelha, um ponto no pé para aterrar (aterrar no bom sentido...) e na mão, o ponto que qualquer pessoa que tenha tido uma aula de do-in informal conhece. O famoso IG4, quarto ponto do (canal de energia do) Intestino Grosso, em chinês e salvo engano “Vale do Encontro”. Todos os pontos têm nome; ao lado do nariz é “Bem-vindos os Aromas” mas o meu predileto nessa área é o ponto da Bexiga logo abaixo da batata da perna que se chama, apropriadamente, “Sustentando a Montanha”.
Enquanto isso conversava com ele, que explicava ter ficado traumatizado com a sessão mui doída que recebera certo dia de um chinês. - Está doendo? -Não! Só quando entrou a do pé.- O que me assombrou não foi ele se dominar, afinal se espera fortaleza mental de um praticante de artes marciais... foi ver a agulha da mão, lá no tal vale do encontro do polegar com os dedos, ereta e alegre, e não arriou em momento algum.
Ora, nesse ponto a agulha deita devagar ou correndo até quando a garganta não está doendo. Qualquer desequilíbrio nas vias respiratórias ou no intestino, qualquer queda de energia, lá vai ela arriando; nem por isso deixa de tratar. Serelepe, a agulha me olhava e o dono da mão fungava e tossia. Ao ouvir a série de fatos que o traziam até mim para receber florais ficou transparente a situação: profundamente angustiado por uma vida dupla e mentiras contadas diariamente a pessoas diferentes, ele deixara a garganta, onde está o chacra da comunicação, fragilizada. E desejara para si algo que lhe permitisse sentir pena de si, e obrigasse as outras partes a sentir muita, e com motivos. Seu organismo extremamente forte criara do nada um resfriado monstro, mas o IG4 dizia “foi tudo mentira, uma mentira que se tornou verdade.” Praticantes de artes marciais não costumam fumar, bebem muita água, comem equibradamente... e nisso tudo o moço leva nota dez.
Quando quis por primeira vez conhecer a acupuntura era uma pirralha adolescente, lendo Maria Antonietta Macchiocchi, jornalista que voltava da China, onde vira gente comendo salada de frutas, anestesiada com acupuntura, enquanto sofriam cirurgias no cérebro. O seu esposo porém, descrente das agulhas, não reagiu bem a uma sessão e precisou aguentar a crise renal até chegar a uma cidade maior onde recebesse medicação ocidental. Ou seja, a mente tem o seu papel no tratamento; e como se vê pelo caso do rapaz, não gosta de mentiras...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

o amor na bandeira

Feriado, proclamação da República, e o jornal traz um novo movimento para mudar o dístico da bandeira. Ela é querida e visualmente muito eficiente, mas há algo errado no que vem escrito... Já havia um movimento para “trazer o Amor de volta pra Bandeira”, desse sei que faz parte o Macalé. Esse agora quer pôr só “Amor” no lugar de tudo mais, “porque pelo Amor chegaremos à Ordem e ao Progresso”.
Quando um deles passar na minha porta eu me filio; sempre achei escandaloso que chutassem pra escanteio o que no lema positivista era a base de tudo. Ou seja, eles eram positivistas ma non troppo... esse negócio de amor não lhes pareceu coisa de macho, e deu no que deu.
Cuide do amor em você. Não é preciso estar apaixonado para tanto. Se estiver, muito que bem- e há quem diga que a paixão leva à insensatez nos atos. Amor porém nem precisa ser entre os membros de um casal. Se você é membro de um casal e vivem no amor, que ótimo. Se você é solteiro... não é verdade que só em par se é feliz, ninguém precisa estar apaixonado pra beijar na boca, e amor vai muito além do amor de um casal. Ame-se e para tanto seja amável, ame as plantas, os animais, ame o lado bom das pessoas inclusive o seu – ajude a despertar se estiver adormecido.
Cuide do coração, da mente e da língua, que a medicina chinesa vê como um broto do coração. Se estiver sempre suja, ou sempre tremendo, ou fendilhada ou mordida, algo não vai bem. Com certeza a acupuntura não recomenda perfurações nem aí, nem em lugar nenhum. Pense muito antes de enxertar um pedaço de metal na sua!
15 de novembro é também o aniversário da Umbanda que cumpre hoje 102 anos oficiais. Se você tem alguma religião, viva-a com amor, e respeite a dos demais. Em suma, vamos tentar botar mais amor nessa Bandeira.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

nossa mente e as grutas

Em uma de suas crônicas, publicadas agora em livro, Fernando Reinach relata ter se sentido excepcionalmente bem, como se pudesse viver o resto de seus dias ali, em dois lugares um tanto estranhos, porque eram grutas em sítios arqueológicos, um no Arizona e o outro no sul da França.
O que ele notou que os locais tinham em comum era a vista despejada (muito mais verdejante no caso da França) com rio ou riacho não muito longe e alguma vegetação. Descobriu tempos depois que a biofilia revela o desejo ancestral da mente humana de habitar locais assim: encostados em montanha íngreme e dominando a paisagem, por óbvios motivos de segurança; tendo água perto dali, e controlando ali de cima o acesso à mesma; com vegetação por perto, fonte de recursos naturais. A nossa mente ainda deseja, sabiamente, a mesma coisa, e o jornalista sentiu-se em casa nas grutas sem entender o porquê.
O Feng Shui não diz outra coisa. Nas cidades é quase impossível e até fora delas é difícil: mas a localização privilegiada, desejável entre todas, é a que se encontra encostada à montanha, no começo da subida, e de frente para a água doce. Ao ponto que nos cálculos das escolas tradicionais usar-se os termos “montanha e água” como sinônimos de “fundos e frente” respectivamente, e isso em documento antigos, antes de se falar na bem-vinda ciência da biofilia.
Para quem mora em casa então, por ter toda a energia do lugar concentrada sobre si, vale mais do que nunca a recomendação de, na impossibilidade de criar uma montanha do nada para encostar a casa, pelo menos evitar dar as costas à água. Quando a água era rio, o risco era evidente, inimigos podiam chegar em silêncio pelo rio. E ainda poderiam, o que causa desconforto subconsciente. Quando é piscina, ainda assim pode causar males diversos. (E piscina? Que coisa mais antiética nos dias de hoje! Melhor uma horta no lugar...)
Contudo, esta localização privilegiada é quase impossível; para acertar os desvios energéticos nocivos à saúde, às finanças ou às emoções, existe o trabalho dos consultores. E até numa casa que reproduza as condições acima, a regência anual haverá de cair regularmente em energias destrutivas... nada que a bússola não consiga ajeitar.