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domingo, 13 de junho de 2010

Boa noite Compadre!

Aroeira merece uma crônica só para ela e esse ano, a dinâmica dos fatos fez que essa homenagem há muito devida coincidisse com o dia dos Compadres. Aroeira, grande curadora, nasce em inúmeras variedades (se os biólogos não mudaram as classificações de novo e resolveram que agora são duas ou três) e os nomes populares, como se sabe, nem sempre dão conta. De um modo geral, toda aroeira cura mas algumas dão também alergia quando se chega no pé. Essas são de um modo ainda mais geral as aroeiras-brancas. As vermelhas são as que dão as sementes consumidas em forma de iguaria com o nome enganador de pimenta rosa. Recomendo uso moderadíssimo da mesma a menos que saiba quem colheu e como; há uns anos no Estado do Rio as aroeiras resolveram não florir em protesto contra a colheita absurda, predadora e mal-feita.
Porque uma das maravilhas dessa arvorezinha é ser solidária às suas irmãs. E de toda forma semente é bom evitar na medida do possível, porque representa a vida da planta.
Nos cultos afro-brasileiros, aroeira pertence a Ossãe, Omolu e Exu segundo a hora do dia. Suas folhas geralmente nascem em cada galhinho trazendo o número desses orixás. Ocasionalmente, principalmente perto da festa de São João podem trazer o número de Xangô mas até onde sei não é por nenhuma casa ou linha a ele também consagrada. Primeiro, porque tal número é a exceção e não a regra. Depois, porque Ossãe e Omolu-Obaluaiê são orixás da cura, o que não é o caso de Xangô.
Me conta a minha prima antropóloga uma história linda sobre o que deduzo ser uma das aroeiras-brancas. Chamada em Santa Catarina de “aroeira de bugre” empola quem passa por baixo. É preciso respeito ao passar por ela, e cumprimentá-la ao avesso dizendo de tarde – Bom dia compadre pau-de-bugre!- e assim por diante. Observe-se o uso do termo “compadre” e o tema da hora do dia. Um padre recém-chegado à cidade de Lajes decretou que era coisa dos infernos e mandou cortar muitos galhos para montar os arcos de uma procissão. As priminhas da antropóloga, que eram pagens na procissão, empolaram só de passar por baixo. Outra forma de se prevenir, dizem, é que um homem urine na raiz, contanto que se ache um varão disposto a tanto. Não há registro se a proteção assim lograda seria só para ele, só pra os seus ou para quem passasse ali, nem por quanto tempo...
Cuide das que tiver em seu caminho, plante as que puder, aprenda a reconhecer a folha e fique longe da prática do consumo da semente. Deixe-as para os pássaros que são grandes apreciadores e ao contrário de você ao consumi-la estão fazendo um bem, disseminando e reproduzindo! E em todas as horas do dia, em todos os dias do ano, salve a aroeira e salve os Compadres! e a Comadre também.

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