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domingo, 26 de julho de 2009

quenguelê

Interessante a Umbanda ter sido declarada há poucos dias patrimônio imaterial do Brasil.
Não me arrisco a dizer se é bom ou ruim para a Umbanda; interessante é sim, e no mínimo justo, se o acarajé, o maracatu, e o candomblé também foram. A exemplo desses espero que ela não se plastifique ou congele; que siga como o vento, mutável e fluida (e fluida tem o ritmo de "muita" e " surda", gente; as pessoas estão com a mania de inventar um acento onde não há e falar "fluída" como "vestida" ou "puída").
Acima das inúmeras diferenças de terreiro a terreiro, linha a linha , pessoa a pessoa, salve nosso denominador comum, a grande vibração mágica com cheiro de rosa e guiné, onde todas as influências étnicas e religiosas deixaram sua marca.
Não há terreiro de Umbanda que não cante para Xangô em algum momento do período de inverno. Curiosamente, apesar da festa de São Jerônimo cair em setembro e São João Batista em junho, no Rio a maioria das casas canta Xangô em julho mesmo. Cauô!
Dependendo da linha, algumas casas dão menor importância a Nanã. Linha a gente respeita, cada um tem a sua. Triste é ouvir gente associar Nanã à velhice de cada um e por isso temê-la. Quem a orixá escolheu a carrega desde o berço. Tenho fotos lindas de uma moça de vinte anos recebendo sua Mãe.
Orixá da Terra, a virtude de Nanã é a sabedoria. Seria bom demais se todo filho ou afilhado dela dispusse da virtude. Esta se vai merecendo. A frieza emocional que é marca desses filhos pode até ser um caminho. Lenta, ela traz lentidão nos processos, inclusive - alegria! - no de envelhecimento. O corpo físico de quem lhe pertence costuma ter mais magnetismo do que graça; sempre algo lembra a Terra, a forma física mais pesada, alguma parte do corpo como que puxada para baixo, pernas curtas aproximando o tronco do solo.
Outro motivo que faz temer a Nanã é que a sua vibração acompanha aos que fazem a passagem, E isso é motivo de pavor? Deveria ser de gratidão e confiança.
Hoje é dia de Santana, a sua festa em todo o Brasil. Que ela nos possa orientar hoje e sempre, e conduzir a todos nós a bom porto no final da viagem, de forma suave e segura. Salve Cacurucaia....

quinta-feira, 16 de julho de 2009

a tristeza é sem-hora

Paradoxo: um dos mais lindos sambas, e bota lindo nisso, é de um não-sambista. Grande Caetano.
E a tristeza? não se confunda com depressão. Esta é doença, deve ser tratada; obviamente não sou eu que vou lhe recomendar prozacs e sim florais, ioga e outros.
A tristeza normalmente tem causa (quando não tem é que canalisamos alguma coisa alheia, outro capítulo). Estudos sobre suicídio (*) provam que não acontecem durante guerras, em situações muito adversas de morte onipresente. Também a morte de um ser querido não é um fator importante. Nossa mente funciona de forma estranha... Há sim, os doentes terminais, há um punhado de varões que sai de cena porque "perdeu a face", como alguns empresários, alguns políticos orientais (os daqui agüentam qualquer vergonha) mas a maioria por angústias internas.
Muitos de nós já achamos sem sentido a existência, em tal ou tal momento, nos achando infelicíssimos, e até éramos. Aì ouvimos falar de outra pessoa muito pior, não digo nem nos jornais que isso pode deprimir mais, digo na vida. Quase todas as mulheres reclamam do péssimo material humano que se encontra por aí em termos de parceiros, e é pior para as românticas que gostariam de "casar de novo" (pois é linda, é contigo rss). Eu há poucos meses dispensei uma figura em perfeito estado físico e mental por razões pessoais... Claro que isso me entristeceu, e pior é lembrar dos defeitos de outros energúmenos.. Sou anormal, todos os homens tortos vêm para mim...
Aí o marido de uma conhecida foge com o cunhado delinqüente e o dinheiro todo, e ainda diz que não pagará um centavo de pensão para sustentar a filha pois o novo amor lhe ensinou mutretas... Lembro de outro, que fugiu com a secretária, levando todo o numerário da editora que tinha com a mulher, evidentemente afundando a empresa... Casais bonitos e que na véspera ainda fariam inveja a qualquer um, ou uma...
A moral da história não é "aceite qualquer coisa ou qualquer um". Pelo contrário, quanto mais seletiva sou, com menos defeitos de fabricação chegam os parceiros, de uma noite ou muitas. A moral é que temos que aceitar os ossos que vêm para roer no banquete da vida. Porque a gente pode achar um absurdo mais esse osso pintar pra gente, mas a vizinha pode ter quebrado os dentes no dela. Ela, você, a gente, agüentando firme a direção do vento muda e surgem novas bocas, novos sorrisos, e vitórias e alegrias.
* entre outros, recomendo o trabalho do dr Erwin Stengel.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

des-culpe

Quem disse que uma lâmpada quebrada não consegue iluminar? Pois uma me trouxe muita luz. Há meses instalei uma num foco onde fica de cabeça para baixo. Dei uns passos e ela se espatifou no chão. Como vocês, deduzi que tinha atarraxado mal. Nem capaz de atarraxar uma lâmpada eu sou...
Essa pequena culpa eu conscientemente esquecera no dia seguinte, mas sabia de forma semi-consciente que não esquecera, já que nunca mais me animara a tocar no foco. Afinal, eu era incompetente!
Outro dia um amigo me ajudando com algumas coisas da casa pediu um foco móvel de luz e descobriu a base metálica presa lá dentro (já tirou, obrigada, e a lâmpada nova está lá bonitinha). Ou seja, a incompetência foi 100% do fabricante.
Ou seja, assuma as suas culpas mas nunca assuma como seus os erros dos outros. E tem gente perita nessa arte. Tem gente também que não só vive culpando aos outros por suas próprias falhas como chamando a si culpas de ainda outras pessoas- porque se acostumaram a ver o mundo assim, em termos de culpa.
Os florais podem ajudar nisso. Não vão cegar ninguém para os próprios erros; vão ajudar a definir e assumir. Na linha de Minas tem essência para quem se sente perpetuamente culpado, e para quem vive projetando a culpa nos outros. Pode ser a mesma pessoa!
Acho uma tendência perigosa movimentos se organizarem em cima da culpa alheia, principalmente herdada. Neste país e neste mundo se formos criar divisões entre pessoas pautados pela culpa acabaremos por não falar mais com ninguém. Nem vamos nos alongar sobre os 21 anos de ditadura miltar. Vamos olhar no espelho: quase todos somos mestiços. Vamos apresentar contas a metade de nossos ancestrais? Teríamos que saber a qual. Quem tem nas veias sangue europeu nem se fala, sangue negro teria de se voltar contra os avós brancos e também os africanos que capturaram e negociaram vidas humanas do outro lado do oceano. Quem tem sangue indígena - quase todos nós- vai xingar os avós caboclos que diziam que índio bom era índio morto? Minha avó me legou sangue índio e a ouvi dizer isso, é muito triste e muito feio e nem por isso deixa de ser minha avó.
Mas, como tinha todo esse sangue indígena, não sentia a culpa do corpo e do prazer que as amigas reprimidas do Sul sentiam. Contava como os casais iam no Marajó tomar banho de rio à noite, o homem vestido vigiava enquanto a mulher se banhava, depois ela se vestia e entrava ele n´água. As amigas achavam terrível. Quem tava vendo era o marido, explicava. Mas lhe vendo nua, Lydinha! tornavam as velhinhas escandalizadas. Ela dava de ombros.
Pelo menos essa culpa ela não chamou a si indevidamente- nem culpou o marido por mandá-la entrar no rio. Vamos todos nadar com mais critério.