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sábado, 9 de agosto de 2008

peças afro-brasileiras apreendidas- cadê?

Quando descobri onde estavam as peças apreendidas pela polícia no tempo em que era proibido o exercício dos batuques, telefonei para o Museu da Polícia Civil e perguntei se podiam ser visitadas; responderam que sim. Não era bem assim, o rapaz não estaria de má fé mas estava desinformado. Um senhor muito simpático, educado e culto me mostrou duas mesas enceradas e pouco mais, explicando que era necessário, para ver a coleção do meu interesse, escrever carta justificando pesquisa. Embora esclarecendo que discordava de tal princípio escrevi e não obtive resposta alguma. Dois ou três meses depois voltei por lá e outro senhor gentil e simpático abriu a carta, e mostrou-me então inúmeras peças fascinantes como bolas de cristal e mapas de leitura de mão, apreendidos pela mesma época... mas não a coleção de atabaques e outros objetos ligados aos cultos de matriz africana.
Desde então ouço as mais variadas desculpas. Como disse, não concordo que apenas pesquisadores tenham acesso às peças. E vai ficando claro que estes pesquisadores não podem ser umbandistas, devem ser jornalistas ou antropólogos. Por quê?
Existe, sei, uma corrente na Umbanda que deseja retirar as peças de lá para formar um museu. Não creio que a solução seja ideal, e não estou sozinha nisso. Pois por um lado, as peças são do tempo dos batuques; pertencem portanto a todos os que se reconhecem em alguma religião de matriz africana - ainda que com outras raízes mais, como a Umbanda, que as tem entre as culturas indígenas e européias também.
Por outro lado, pertencem a todos os brasileiros. Estão mais a salvo de agressões -como as que vimos há poucos meses- no espaço neutro do Museu da Polícia; a violência que levou à apreensão faz parte de nossa História. Ninguém acha que a última Polé (forca) usada no país deva ficar na casa dos descendentes do último condenado. Está no Museu Histórico Nacional, e ali está muito bem.
É certo que ao contrário da Polé, as peças pertenciam aos que as fabricaram, e acima destes às Vibrações. Mas os terreiros ou bruxos, como dizia João do Rio, de quem foram tomadas não existem mais. A apreensão faz indissociavelmente parte de sua história e o fato pertence a todos nós.
Visitando o Museu da Polícia nota-se que o imóvel, belíssimo, está em mau estado por falta de dinheiro. O Governo pouco tem ajudado, parece. Vale uma sugestão: cobrem um preço simbólico de entrada, para manutenção do patrimônio ali guardado, e franqueiem esta entrada a todos.
Não é justo impedir o acesso a um Mais Velho, como sucedeu ao que me acompanhou, porque não é antropólogo. Não é justo manter a população longe de sua História- todas as tendências que formam a população.
Não é concebível que tendo sido penalizados uma vez, com a apreensão das peças e as humilhações impostas a quem as portavam, os que formam o mundo afro-brasileiro continuem sendo punidos. Pela transparência: harmonia e luz.

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