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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

milho, chuva, rubem braga e i ching

"Um pé de milho sozinho, em um canteiro, espremido, junto do portão, em uma esquina de rua - não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas - mas na glória de seu crescimento, tal como o vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, as crinas ao vento - e em outra madrugada parecia um galo cantando."
Assim falou Rubem Braga, o maior poeta-em-prosa do Brasil (Um Pé de Milho, 1945.) O volume de crônicas do mesmo nome foi publicado pela editora Sabiá nos anos sessenta e ainda se acha noutras edições.
O milho além de fornecer o alimento básico a milhões de indivíduos ainda tem "cabelos" que servem de remédio, notadamente para o rim.
Mas para quem trabalha com o oráculo do I Ching, é automático desenhar-se na leitura um hexagrama. O hexagrama (de hexa, "seis" em grego) é o conjunto, invariavelmente de seis linhas, desenhado no jogo e formado de dois trigramas. O jogo se desenha de baixo para cima, como as construções dos seres humanos. O trigrama inferior é portanto o primeiro.
Cada trigrama corresponde, o que permite a interpretação do mago, a uma parte do corpo, a uma posição dentro de uma família teórica, a uma direção, uma época do ano, a um Elemento, a uma qualidade, e a um animal, para manter breve a lista.
Ora, o grande Rubem mencionou "cavalo" e "galo".
Primeiro o Cavalo. Trigrama inferior. Céu (porque o Céu nos cavalga, e à Terra). Galo, superior. Vento (porque o canto do galo viaja longe nos ventos).
O conjunto forma o hexagrama mais conhecido entre nós como Poder de Domar do Pequeno, também podendo ser lido Pequeno Acúmulo ou Pequeno Obstáculo. É o 59, também conhecido por nono hexagrama na seqüência tardia.
Qual seria o Julgamento? Fala de nuvens que se acumulam mas ainda não choveu. Há um obstáculo, portanto, mas o texto indica o caminho: a pessoa de bem se deve orientar pelo aperfeiçoamento, literatura e a virtude.
Se, como Érico Veríssimo, não pusermos a virtude "no meio das pernas das pessoas", veremos que o grande Braga não fez outra coisa da vida...
Fica o recado para todos nós: enquanto não vem a desejada chuva, a desejada bênção, resta a cada um se orientar pelo aperfeiçoamento próprio, com a suavidade e penetração do Vento. Só assim ajudaremos a chuva a nos ajudar!

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