de couves e cruzes

 Afinal houve sim quem prestasse solidariedade. Foram moradores de rua, que só tendo o próprio corpo para salvar, ajudaram a salvar os de outros. Porque se ouvem relatos pavorosos de assaltos e arrastões. Uns dizem que não está provado, outros que sim,  que viram vídeo. O fato é que a Serra desmorona ao longo dos anos. é acima de tudo falta de cidadania, e falta de interesse das autoridades.

Ninguém pode nem deve impedir que chova. Mas a chuva não levaria morros a baixo se, problema recorrente no país, não atirassem para a encosta todo tipo de,  lixo. De Niterói à Serra passando pelos morros cariocas. Conhecia gente lá, quero dizer, outros que não os de agora. E diziam conformados, -Aqui ninguém separa o lixo, é muito ruim o serviço.-  E toca de misturar garrafa de vidro e de plástico com casca de laranja. Não os via cobrar das autoridades, e esses eram o que pagavam taxa para o caminhão passar. Os que erguiam casinhas de onde saíam para trabalhar nestas casas maiores atiravam tudo pela janela e formavam micro-favelas em semanas. 

Fim da década de 90, pleno centro de Petrópolis, o ônibus intermunicipal seguia pela rua do canal e do cinema, que me dizem ser do Imperador; dobra à direita e pela janela do lado esquerdo vejo um morrinho baixo com algumas casinhas modestíssimas e no alto uma horta, cultivada por um risonho rapaz de enxada na mão. Eram couves, o morro era baixo, o trânsito lento. Alinhadas atrás das couves, que fertilizavam, algumas cruzezinhas brancas. De anjinhos, enterrados certamente sem registro algum. Imagino que a população aumentou no morrinho, as cruzes não sei, mas acredito que aquela terra fofa toda desceu, junto com as casas. Se faltava cidadania naquele tempo, imagina!!

Seria muito justo que este ano a Família Imperial abrisse mão do seu foro, pelo menos no que diga respeito às propriedades que possui na serra.  Não sei quem teve a ideia mas é de se aplaudir. E é para ontem que as autoridades precisam começar a CUIDAR daquilo, orientando, limpando, ensinando, punindo se for o caso. Sim, dará trabalho, é extenso o espaço. Mas há várias secretarias e municípios de que podem e devem agir. 

Ou desceremos pelo ralo em ritmo mais acelerado.