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sábado, 9 de março de 2019

as datas

Nem é que eu guarde ou valorize muito a data; dia da Mulher é todo dia mas viva quem festeja!
 Nesta semana da Mulher, no Brasil, além de outras que ficaram anônimas, duas mulheres foram mortas pelo marido, longe das cidades grandes do Sul. Mas uma foi em Fortaleza, pera aí. E a outra no Estado do Rio, nenhuma delas em perdido sertão.
A de Barra Mansa, grávida, ainda chegou a denunciar o marido no hospital, ele foi preso e... solto.
A de Fortaleza levou tiro na cabeça com a arma oficial do marido. Esse foi detido, foi solto ao lhe verem a patente, mas prevaleceu o bom senso e tornou a ser preso.

Fico perplexa ao ler a declaração da ministra Goiabinha, segundo a qual se acharem menina igual a menino vão achar que menina também é pra apanhar. Ministra, também não quero que menino apanhe como a senhora está pensando, não aceito surras diferenciadas por gênero.
Não vi graça nenhuma (se foi gracejo, pode não ter sido) na afirmação presidencial declarando o seu ministério o mais equilibrado que já houve em termos de gênero porque só tem duas mulheres mas cada uma vale por dez homens.

E vai completando um ano o crime ainda sem solução que vitimou a vereadora Marielle Franco. Durante a apuração, ventou frio, trovejou e caiu chuva fina; sem estar acompanhando a votação percebi que ganhara a Mangueira, com a sua homenagem a ela.
Um dos primeiros-filhos postou que a escola era dominada por bicheiros, traficantes e milicianos. O carnavalesco na hora respondeu,
- Cara, que mundo pequeno! que coincidência! dizem a mesma coisa do teu irmão.

sexta-feira, 8 de março de 2019

sobrevivências

Só sei mesmo o que ela me contou. Foi pouco e o resto foi dedução.
Então em algum momento do início do século passado, tendo conseguido fugir dos pogroms na Polônia e na Rússia, e possivelmente pelo intermédio do casamenteiro, casaram-se em Paris dois sobreviventes da intolerância; não tiveram filho varão mas sim duas meninas que crescendo entraram para a indústria do couro, tido como mais limpa (um pouco) do que o ofício de sapateiro remendão que era do pai.
Mas veio a invasão alemã da França e vieram as leis discriminatórias. Além da estrela amarela que elas tinham de usar, todos os judeus não franceses deviam ser deportados. Essa parte ela não contava, mas se o casal e a tia sobreviveram é porque não apenas os vizinhos católicos não denunciaram como as duas moças alimentaram os três com as próprias e minguadas rações. Rações de tempo de guerra para duas pessoas e essas judias, para que cinco comessem.
Em 1942 foram avisadas pela vizinha mais chegada que era para se esconder imediatamente, num corredor embutido atrás de armário que já estava preparado. Pois acabava de começar a "rafle du Vel´d´Hiv´", Vélodrome d´Hiver, demolido depois da guerra por ter servido de depósito transitório de judeus franceses rumo aos campos de extermínio.
Até Paris ser liberada em maio de 44 pelas tropas norte-americanas, os cinco viveram ali dentro, sem dúvida colaborando com muito remendo em sapato alheio, e sem que nenhum outro vizinho denunciasse a presença deles. A coragem dos moradores da Escada X do prédio da rua de Ménilmontant, ladeira tradicional em bairro popular, protegeu a família por cerca de dois anos e pormenores práticos podem ser intuídos.
Depois da guerra foi casada por breve tempo com outro sobrevivente, que fugira a pé da Bessarábia deixando para trás a vida antiga. O ditador da Romênia tinha simpatias pro-nazistas e o moço imaginava sem dúvida que a Zona Livre francesa o acolheria. Ao chegar no que já fora anexado igualmente, onde vigiam agora as mesmas leis que em Paris, após peripécias que ela não queria saber de contar embora devia ter ouvido, teve a sorte de ser achado primeiro pela Resistência francesa e não pelos nazistas. Como todo judeu culto da Europa central, falava francês fluente.
Se caísse seria fuzilado como resistente em vez de ser deportado. Mas não caiu e casou-se com a moça do armário meses depois do fim da guerra.
Essa moça, agora anciã, deixando filho e netos, acaba de fechar os olhos, como o ex-cidadão romeno também fechou há tempos. Sobreviventes.
Salve a resistência de quem preferiu a vida.



sobrevivências

nnn

segunda-feira, 4 de março de 2019

itinerâncias

A jornalista e professora emérita de Bolle tem sido atacada, denuncia, nas redes onde possui contatos por agressores sempre homens brancos de classe media que têm a ver com o mercado financeiro. Muitos lhe fizeram ameaças veladas ou explícitas, pela sua posição crítica ao atual governo.
Acrescenta ela que de alguns recebeu solidariedade; e que por outro lado, é impossível usar rede social sem deixar rastros, e rastros foram deixados e ela comprou a briga.
 Parabéns a ela.

O filho mais velho do presidente, investigado por alguma (outra, não ligada àquele senhor careca)  irregularidade financeira, declarou que não tinha conhecimento do assunto pois nunca vira notícias do andamento do seu caso. Mas seguindo o rastro viram que ele acessara 66 vezes o portal do usuário ou seja, perfeito conhecimento tinha.

E o preclaro edil de São Sebastião do Rio e Janeiro nos explica que quer tornar todos os assentos dos ônibus "especiais".
Como é que é, senhor?  Contradição em termos. Se são TODOS, então nenhum é especial. Senhor Prefeito, poupe aos cofres públicos o ônus de vestir todos os assentos de amarelinho. Voltamos à estaca zero, demos a volta completa, o que induz o deixar o assento para gravidezes visíveis ou idade indiscutível é a educação e pronto. Proibir o grosso da população de sentar é ridículo e não vai funcionar.

Por fim, que o Igarapé tenha um bom caminho escondido sob as ramagens que nutre como lhe é próprio e longe das rampas brasilienses. Longa vida a essa fundamental itinerância.