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sábado, 21 de junho de 2014

bíblico e justo?

Leio que na cidade de Fortaleza querem implantar a leitura da Bíblia nas escolas públicas como parte da cultura geral.
Seria muito bom se não fosse suspeito.
Argumentam que a Bíblia traz conhecimentos de História, geografia e cultura geral. E é a mais pura verdade. No nosso país o volume é tão associado às religiões pentecostais que só os membros destas têm o hábito de o ler. Eu sempre li e sempre recomendei a leitura, pelos exatos motivos alegados no Ceará.
Mas para que a leitura proposta seja sã, imparcial e transparente, escolha-se muito bem quem vai fazê-la.
Sugiro sempre dois docentes por vez, um judeu e um ateu, um professor de História e o outro sacristão, assim por diante. Com muito cuidado para ninguém, católico ou outro, tentar impor não apenas o seu ponto de vista mas dar como certo pontos que a arqueologia refutou há muito; e existem seitas mundo afora que os dão como certos.
Não é viável? Então rodízio de docentes. O rabino hoje, o maçom amanhã, a professora atéia depois de amanhã, o membro da Igreja Batista mês que vem. Que as aulas "de Bíblia" sejam gravadas e os docentes que se excederem, confundindo sala de aula com púlpito, afastados.
Porque se não tomarem cuidado teremos um palco senão para conversões forçadas, pelo menos para lavagens cerebrais, e os que discordemos da prática seremos obrigados a concordar com aqueles que, da Cúria ou de outras linhas, se opuserem com vigor à medida.
Que Xangô cuja festa se celebra estes dias no dê um pouco de justiça, em Fortaleza e em toda parte.
Lembro que no Levítico existe, para ficar num só exemplo, o versículo, "Não deixarás viver a feiticeira." Imagine isso na boca de alguém mal-intencionado.
Cauô Cabiecile, olhe por nós.

terça-feira, 10 de junho de 2014

não é brincadeira, não é caçoada

Tão forte é entre nós a imagem de Santo Antônio que o Dia dos Namorados brasileiro não macaqueou as estranjas (que é em fevereiro; não direi quando senão daqui a pouco vira que nem famigerado halloween) e colou no dia dele. Bem, a Copa tem o suposto poder de deslocar o dia dos namorados... mas não o de Santo Antônio.
Aos pés do convento de Santo Antônio na Carioca, a única peça bonita daquele imenso largo hoje tão feio, os escravos lavavam roupa no tanque colonial e estendiam pra corar até nas pedras do cruzeiro que havai ali. Cavalos bebiam, mulheres de roupa arregaçada até as coxas lavavam dentro d´água (em dia de chuva faziam geralmente barrela).
O Império, esquecendo que modernidade não combinava com escravatura, ergueu depois, ali onde fica a saída do metrô aproximadamente, outro chafariz absolutamente magnífico- imperial!- onde dia e noite na então capital se ouvia sempre gente a lavar, batendo o pano  nas pedras.
A República, que esquecera infinitamente mais do que o Império como escravo e modernidade não podiam dar certo, preferiu ir proibindo de lavar nas ruas e demolir, até antes do chafariz, quase todos os cortiços onde se refugiavam as lavadeiras, que então subiram o morro. Nasciam as favelas (nome de planta abundante no hoje Morro da Providência, como se sabe).  Ali, longe dos olhos e mais ainda do coração, não incomodavam tanto o poder.
E esta hoje metrópole cheia de favelas, onde o poder público tem dificuldade de se impor, que herdamos desta cegueira engravatada e encasacada, é a que recebe a enxurrada de turistas para ver os jogos.
Que Exu abra caminho para políticas públicas cada vez mais sãs, para o fim da intolerância e para a valorização dos patrimônios públicos.
Santo Antônio é ouro fino, arria a bandeira e vamos trabalhar.