Bem-vindo ao Blog do Caminho das Folhas.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

vivendo e aprendendo mais

Uma revista de editora muito conhecida ligou pra Pallas querendo dicas de Umbanda pro ano novo. Tipo receitas. A Pallas gentilmente pensou em mim. Expliquei logo que não se trabalha assim quando se quer ser sério, e muito menos o “cavalo” do guia sem o guia montado nele, e menos ainda em publicações como revistas. Até no terreiro, onde o guia incorporado no seu cavalo muitas vezes faz trabalhos para por exemplo “aproximar ente querido que se foi”, o famoso “trago a pessoa amada de volta”, ate lá (além de não falar em “3 dias”) muitos filhos-de-branco questionam a prática e observam que remendos assim, quando funcionam não duram.
Portanto dei ao rapaz dicas sem cara de receita pronta de bolo, que são contrárias à minha filosofia. E muito me alugou a paciência o jornalista a quem tive de explicar por exemplo o que eram espigas de trigo. Ficamos que me mandaria a revista, e antes disso o texto pronto pra eu aprovar. Nunca mais que mandava e comecei a insistir, avisando que não recomendaria a matéria sem primeiro ver. Mandou já com desculpas “pelo atraso e porque tivera de reduzir o tamanho” o que significou que saíram cinco “receitas prontas de bolo”, só a quinta minha, mutilada pra ficar com cara de receita pronta, e meu nome em primeiro (sem dúvida por sentido de equílibrio do rapaz, até louvável, mas não havia mais como acertar, àquela altura. Era errar ou errar. Uma imensa falta de respeito.)
A reação inicial foi mandá-lo tirar meu nome dali, depois decidi aceitar a promoção grátis ao meu livro UMBANDA GIRA! mas, sendo uma situação de errar ou errar, já me rendeu frutos no sentido de um cidadão desesperado me escrever para que lhe traga a pessoa amada (não exige que seja em três dias porém...)
Que no ano que vai entrar possamos, eu em primeiro porque vejo que preciso muito, aprender a desconfiar mais, a não projetar desejos e imagens em cima de uma descrição vaga, a questionar para definir com exatidão. Que os que desejam a “pessoa amada” de volta aprendam a crescer e a compreender que existem outras pessoas no mundo e quem se foi, foi porque quis. Que os postes da cidade deixem de exibir essa lamentável promessa que humilha a quem pede.
E que todos aprendamos com os nossos erros, porque errar faz parte e a vida não tem rascunho. Harmonia e luz em 2011!

sábado, 11 de dezembro de 2010

de garoas e maravilhas

Leio que São Paulo não é mais a terra da garoa. Da chuva, sim, mas que não tem garoado ultimamente, e devido às mudanças climáticas. A garoa, que tive a honra de ver pessoalmente da primeira vez que estive lá, não é exclusividade paulistana, como a origem quechua do termo indica. Era igualmente típica de Lima, por exemplo, e sem dúvida em inúmeros outros lugares dos quais ficam não poucos, provavelmente, no Brasil. E espero que em todos eles se mantenha impávida. Morrer a garoa porém num local qualquer é um pouco como ter morrido uma espécie biológica num lugar qualquer, ainda que se mantenha forte noutros. Um pequeno grande luto que fomos buscar para nós.
Quando o Brasl se preocupar menos em comprar telefones celulares e automóveis (e em trocá-los pelos do ano) e mais com plantio e replantio pode ser que ela regresse à esquina da rua Ipiranga com a Avenida São João.
E falando de plantar, nasceram maravilhas novas para o dia de Santa Bárbara na minha jardineira. Quando morreu há poucos meses a antiga, que levava dois anos comigo, sabia que viria alguma nova mas nasceram três. Maravilha para quem não sabe também é chamada de bonina ou jalapa. O nome científico Mirabilis jalapa, mirabilis como coisa maravilhosa, que se deve admirar, jalapa como a região mexicana de onde dizem que provém, expressa o que qualquer um diz descobrindo uma belo dia a delicada trombeta rosa choque: - Que maravilha!
E ainda serve para fazer florais.
Serviu de lição também pois nasceram juntas e a mais forte veio crespa, avermelhada na folha como pinhão-roxo, e sem vestígio das articulações características da planta. Pensei que fossem duas maravilhas e um pé de pinhão. As outras duas já vieram lisinhas e tenras, com parte da haste rosa-choque pra não haver dúvidas. É comum ouvirmos por ai que folha quando brota é preciso esperar para ter certeza do que é, e às vezes esperar dar flor, o que neste caso não foi necessário: já a planta maior alisou todas as folhas que perderam o tom vermelho e exibem a forma quase triangular característica (a haste segue verde e lisa), a segunda se mantém modesta e a terceira sucumbiu à seleção natural... E se alguém ficou com pena do pinhão, rebrotaram ambos os antigos, cada um em seu lugar. Que possam dar caminho.
Fica uma breve homenagem à garoa, Poema Quechua, de Eu Comi a Lua:
Chácara: garoa, charque/ Garoa: charque, chácara/ Charque: chácara, garoa.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

eparrei

No Ceará, onde nasceu minha avó, existe um rio, o Jaguaribe, que conduz um vento muito especial, o Aracati.
Todos já vimos edifícios com esse nome, agora existe um documentário, “Aracaty” e essas homenagen todas não são demais, já que esse vento não é uma aragenzinha qualquer, é um vento com hora marcada que refresca os ribeirinhos do Jaguaribe. Vem subindo o vale de noite, antes da hora de dormir, e as pessoas reunidas à sua espera aproveitam a queda de temperatura. Quando vão dormir, o friozinho do vento embala os sonhos.
Esse vento, já se vê, depende da água para existir e para viajar. A água por sua vez é interdependente da vegetação, qualquer criança sabe disso hoje. Mais árvores, mais matos, mais chuva. Além de gerar água as folhas limpam a atmosfera. Repetindo o que aqui já se disse, a folha conhecida como espada de Santa-Bárbara, e a sua variação espada-de-São-Jorge, esta sem o debrum amarelo e mais reta, em alguns lugares chamada de língua-de-sogra, está no portal da NASA, onde recomendam seu plantio para limpar e despoluir o ar.
Plante-a onde morar, e mantenha-a saudável sempre.
Esta é a homenagem do portal caminhodasfolhas a Oyá, senhora dos ventos e das chuvas, que canta no trovão e ama tanto a água como a chama do fogo. Salve a senhora dos nove céus, salve Iansan; um grande eparrei, mãe querida, não deixe que nos falte nem a água, nem o respeito à chuva e ao vento que a traz.