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terça-feira, 6 de novembro de 2018

a mão que toca um violão

Primeira estrofe de Viola Enluarada, disponível no disco de Marcos Valle, Dori e Edu Lobo, nas lojas, e na rede.



A mão que toca um violão 
se for preciso faz a guerra,
mata o mundo, fere a terra
A voz que canta uma canção
se for preciso canta um hino
Louva a morte.


sábado, 3 de novembro de 2018

palavras ao vento

Alarma muito (entre muitas coisas alarmantes) o pendor do presidente eleito para dizer e desdizer, continuamente. Há jornalista dizendo tratar-se de estratégia pensada. Assim é mais difícil cobrar.
Acima de tudo o que alarma são os seguidores, que fazem o mesmo. O exemplo vem de cima, claro. No dia da eleição o dito cujo declara querer "governar para todos os brasileiros"  ou coisa assim; depois vai pra rede social e berra, Perderam, otários!!
Dos facínoras eleitos que quebraram placas homenageando a Marielle  parece que só um é dotado de fala. Esse afirmou que deseja ver elucidado o crime, e só pensa boas coisas da vereadora assassinada. Muito bem. Aí, ele também, vai pra rede social e apontando os pedaços da placa (isso foi no repeteco, na Serra, diante do governador eleito que "não notou")  berra Vamos acabar com o PSOL, fora vermelhos! Agora é Ele!
E o mackenzista que se filmou indo votar, lá em seus confins catarinenses, portando pistola e se declarando armado também com faca, pra matar "a negraiada que ele visse de camisa vermelha. Vai tudo morrer, é capitão, porra." Suspenso e enfrentando processo, se desculpa e afirma que NÃO é racista nem violento.
Fala sério.
Agora começa-se a entender por que chamam de "mito". Faz sentido. Acho que foi em Fortaleza, no dia da eleição, esse preferiu não deixar margem à dúvida e fuzilou o motorista do carro vizinho por causa do adesivo 13.
Deu na Época que está nas bancas, e aproveitem pra apreciar o cartaz exibido pelo superfilho 02 ou 03, não sei. Diz assim, Eu juro que vou pacificamente te matar! e é enfeitado por dois fuzis. Ao lado um amiguinho barbudo  segura um fuzil de verdade. Se vier ao RJ com o brinquedinho, o novo governador abate, hem!



quarta-feira, 31 de outubro de 2018

água e sal

Sem dúvida para agradecer a atenção, Israel promete financiar uma usina de dessalinização de água do mar, no Nordeste. Isso será louvável se der certo.
Não decorre daí admiração alguma pelo futuro governo eleito nem pelas políticas de Israel. Mas minha gente por favor, não financiem não, ergam a coisa vocês mesmos ou fiscalizem. Eles não conhecem político nordestino e sua capacidade pra embolsar dinheiro público. Político brasileiro em geral, vide a Baía de Guanabara que duas vezes recebeu verba internacional e o que se limpa nela parece, principalmente, fruto de ações pequenas (mas boas) que retiram plásticos e sofás velhos.
E fiscalizem onde a tal água dessalinizada haverá de ir, ou encherá piscinas particulares, sempre azuis em qualquer seca.
Construir outras como "ele" quer seria ótimo, dentro das restrições acima; mas atentemos para o fato de Israel possuir extensão comparativamente mínima, e receber doações internacionais desde a sua criação. Recebia de determinados governos, talvez receba ainda, e vêm doações particulares, que não se criticam, mas isto não corresponde à realidade aqui.
Este cuidado com á água surpreende até em quem vai e vem, não diz coisa com coisa, e volta atrás na promessa (sim, prometeu, futuro chefe da casa civil, se vier a se empossar) de não fundir Agricultura com Meio Ambiente. Como anteontem declarava que todas as promessas às bancadas seriam cumpridas, não surpreende tanto ler isto hoje. Mas não pode ocorrer.
No mais, repeito o que venho dizendo por aí, a vida humana a História prova que é substituível, inclusive a minha. Mata-se gente, depois nasce um monte de gente, até gente demais. Cultura? Corta-se verba, mas a cultura segue brotando espontânea e sempre existem indivíduos que cuidam de saberes e conhecimentos.
Meio Ambiente? meu Deus. Aí não tem jeito. Prioridade máxima.

domingo, 21 de outubro de 2018

tribunais most rem a sua cara!

Digam a que vieram, como pede hoje no Jotabê o ex-ministro do STF Gilson Dipp, cobrando clareza e presteza ao TSE.
A esse respeito, o bezerro mais velho do Boi-sonado declarou, vi ao entrar na rede, que "basta um soldado raso e um cabo pra fechar um tribunal".
Vi também que FHC já protestou.

Vamos falar sério. Depois, um cronista em dois do "Globo" nos diz que falar de fascismo é exagerado e cita  firulas históricas, a origem de "fascio" e sei lá mais o quê.
Exagero algum.

E (além da igreja pichada em Nova Friburgo outro dia) a garota que teve uma suástica tatuada na barriga, a faca, por três malfeitores  sulistas, não conseguiu registrara a queixa como queria porque o delegado entendeu que era uma BRINCADEIRA e o que estava entalhado na barriga dela era o símbolo solar, que o símbolo nazista, e roubado pelos nazistas, girava na direção oposta.
 Então eu vou lá e entalho o símbolo da paz, ou um coração , na barriga do delegado, e foi uma brincadeira?

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

na rio branco 20 anos atrás


Além do crescimento da intolerância e da violência no país, lamenta-se a morte sob tortura de um opositor na Venezuela do senhor Maduro (pois que caia então) e a do grande jornalista Kashoggi no seu consulado em Istambul.
No melhor dos casos "um interrogatório que deu errado" como diz agora o governo saudita. Interrogar?! quem ia buscar um documento após se informar por telefone!?  Kashoggi foi diversas vezes traduzido e publicado no "Globo".
Mas suscita uma versão de sorriso o que saiu com foto e tudo, no JB de vinte anos atrás, que reproduz hoje Hildegard Angel, filha de quem se sabe e que já escrevia na versão antiga do diário:
em agosto de 1998, o candidato da bala à Presidência agrediu uma mulher pelas costas quando era deputado!
Ele não negou a agressão mas disse que a agredida é quem tinha começado a discutir com uma correligionária dele, que apenas lhe tomou as dores.
Bonito, certo?
Tem mais.


A mulher se dirigiu ao IML mas não pôde realizar o exame de corpo de delito porque certamente alertado pelo deputado, o funcionário fechara mais cedo naquele dia...

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

"cem flores", você sabe o que foi?

Um período breve na China de Mao em que diziam, Que cem flores desabrochem.
Atividades culturais e liberdade da imprensa eram estimuladas.

Aí quando todos já sabiam quem era quem deslancharam a Revolução Cultural que matou milhares.
Muitos de nós nasceram ou pelo menos cresceram  em democracia. Estamos acostumados  dizer o que pensamos. Nos bairros as pessoas já evitam falar muito com quem não conhecem bem. Esse é o primeiro efeito.

Bem, o "Economist" voltou a publicar que o candidato da bala representa um risco. Obrigada "Economist"! E o que é mais surpreendente, Mme Le Pen lascou pau no mesmo moço porque em alguma postagem ele a citou  como a uma política semelhante a ele.
Mme Le Pen criticou com fúria as posições misóginas e ainda declarou que de extrema-direita será ele, ela não, o que não deixa de surpreender. Mas enfim, temos então a Le Pen .. à esquerda do boi sonado.
Que nos valha a Virgem de Aparecida cujo dia cai hoje!

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

primeiro, tiraram o Amor de nossa bandeira..

Primeiro tiraram o amor, melhor dizendo não deixaram que nascesse com ele. Você deveria saber essa história de cor e salteado e se não sabe pergunte ao Macalé que é especialista.
Depois... eles vêm tirando o verde (e o amarelo e até o azul; só o Cruzeiro do Sul segue incólume).
Agora se apropriaram da bandeira toda.
A bandeira é nossa, de cada um de nós e não de uma facção.
Quero minha bandeira de volta!

terça-feira, 2 de outubro de 2018

companheira, me ajude que eu não posso andar só...


Alhos e bugalhos não se podem comparar, laranjas e melancias também não.  Até na minha família há os que equiparam um candidato radical ao outro.
Gente, foram 21 anos de ditadura militar. Matar é pior do que roubar. E o governo que matou também teve os seus larápios. Estas são as eleições dos mal informados, dos que olham apenas a telinha. Mas há os que leem jornais. Não é racional, nos moldes e proporções que estamos vendo, o ódio ao partido que tem o principal representante  atrás das grades; e em quem pelo menos no primeiro turno espero não ter de votar.
Isso se houver mais de um turno.
Não anulem o seu voto, manifestem-se a favor da sociedade civil e contra o ódio.

A frase lá em cima foi ouvida na passeata das mulheres, de múltiplas tendências. E vale repeti-la.
Companheira, me ajude que eu não posso andar só; eu sozinha ando bem mas com você ando melhor.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

hoje tem alegria?

Não sei ainda mas vou descobrir se a escola municipal fechou hoje, dia de São Cosme e Damião, por conta própria ou se foi orientação do preclaro prefeito.
No primeiro caso pode até haver motivo válido (ou não) como tubulação estourada por exemplo.
Como afinal essa parte da oferenda é acima de tudo para os santos, meti os dois sacos de celofane enfeitados com fita rosa e azul pelo lado direito das grades e Doce, Beijada!.
Sempre dei os doces em caixas, duas ou três e esse ano recebi a orientação de  escolher doces (bala de coco, pé de moleque e tal) que resistissem bem a essa embalagem.
Sei que há uma lei nova mas não sei se está já efetivada; meti os doces pela grade na Hora Aberta, antes das seis.
Não contava era com a escola fechada. Os que estão embalados individualmente talvez resistam às formigas, mas se elas devorarem tudo ou se chover, o problema não é meu que não ia prová-los.
É do preconceito que leva a considerar doces como demoníacos!
E mais uma vez Doce, Beijada!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

as fotos, os agrotóxicos os e os deputados federais

Um grande laboratório fabricante de aspirinas e também de agrotóxicos alugou em Brasília, por uma noite, o restaurante mais badalado da classe política. Muito bem. Só que pediu que fossem removidas todas as fotos de políticos vivos e mortos, gesto não, talvez, dos mais elegantes, 200 fotos incluindo todo tipo de gente, vários deles até gozando de boa fama como o dr Ulysses e Juscelino.
A classe política se revoltou. Três deputados alvoroçados, um pernambucano, um paulista e o terceiro carioca vieram correndo encontrar a reportagem do JB.
O JB, que por sinal deu mais ênfase ao pedido do laboratório e às fotos, não publicou nem o partido deles e se absteve de comentários. E as declarações que fizeram prescindem deles.
Aí vão.
Não receberão mais os lobistas da multinacional que os procuram sempre para pedir favores e defender os interesses do laboratório. Saiu sem aspas.
Aspeados: " Foi uma afronta. Vou pra tribuna esculhambar essa gente. Na hora de matar as pessoas com seus ´produtos laranja´ eles nos procuram. Deixa a [multinacional] comigo".

Só lembrem que a alternativa a eles é ainda pior. Aos deputados, claro. Eu não tomo nem aspirina há anos e anos.

sábado, 8 de setembro de 2018

miami não!

Pois muito bem, recupera-se o candidato esfaqueado e já consciente até pediu ao seu vice escolhido que moderasse o tom. Pois esse apontara o dedo para o PT declarando que não achava, sabia, que era coisa desse partido.
O que é absurdo. Atentados assim, a faca, desde sempre existem e não poupam nem os que, como Henrique IV da França, não só não incitavam à violência mas desejavam que cada francês pudesse "pôr uma galinha pra cozinhar todo domingo" o que supõe não apenas a galinha, mas a casa, a panela e lenha para o fogão. Monarca da conciliação entre católicos e protestantes, cuja oposição fizera correr muito sangue, Henrique nem por isso escapou à faca de um louco, e não tendo a sorte de estar perto de um hospital do século XXI, morreu em horas.
Todos os jornalistas e representantes de partidos já disseram todas as coisas óbvias, desejando pronto restabelecimento e afirmando que a violência não é solução. Vários, no meio da coluna, lembraram a ironia dos fatos, citando declarações do candidato, as recentes, sobre "metralhar a petralha" e as mais antigas sobre a colega que não merecia ser estuprada por ele. Não creio que proceda sua declaração de que "nunca fez mal a ninguém". Certamente ao agressor, pessoalmente, nunca fez; o agressor é desequilibrado, e só.
O ministro Jungmann havia avisado aos candidatos, e a esse em particular, do risco de posicionar-se em locais altos e mais ainda se deixar erguer por partidários. Aconteceu. Ficamos todos imersos na incerteza  mais angustiante, e em nada ajuda ver os partidários erguerem cartaz dizendo em ingreis, gente, "In [o candidato] we trust".
Era só o que faltava. E você sabia  que uma igreja evangélica da Barra, a freqüentada por evangélicos colunáveis, tem categorias com nomes em ingreis? "Seeds" são os infantes, "winners" os adolescentes. E tal.
Miami não!

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

falei das flores

"Há soldados armados, amados ou não..."
Há também generais e generais. Respeitamos muito o general Villas Bôas e  estimamos sinceramente as melhoras (não leu ele próprio, por motivo de saúde, o discurso no dia do Soldado).
Mas quanto à queixa de que a sociedade não põe no mesmo plano as mortes dos soldados da intervenção e certas outras de grande repercussão, precisamos discordar. Não há mesmo comparação.
Lamentamos imensamente a violência de um modo geral, da qual a sociedade civil é sim responsável em grande parte; lamentamos as mortes de soldados e também de policiais derrubados por fuzis de bandidos, que muitas vezes algum colega insensato e corrupto fez chegar até ali; mas não há de fato comparação.
O general não quis citar nomes mas no contexto a referência era clara. Para início de conversa farda é uniforme, confere? uniformiza aos que a envergam. É esse o seu propósito e um civil costuma ter identidade mais nítida. Depois não se pode comparar o sentimento suscitado pelo assassínio frio e premeditado de -por exemplo- uma vereadora batalhando pelos desvalidos, e a morte em combate de um soldado. O soldado assumiu o risco lá atrás.
No mais, nas críticas ao pouco empenho dos governos locais e ao pouco caso da sociedade como um todo, o general Villas Bôas tinha razão.
Que floresçam rosas na boca dos fuzis e também nas campas dos que caíram.

domingo, 26 de agosto de 2018

coexistindo

Recentemente um grande ator brasileiro declarou que precisamos com urgência aprender a discordar ouvindo as razões do outro (palavras neste sentido). Pois iraquianos que nunca ouviram falar do querido Fagundes tiraram de letra. Em Mossul, tão sofrida pelas violências da guerra e da política, muçulmanos fizeram uma vaquinha e chamaram um antigo amigo judeu radicado em Londres desde 1970, e com quem mantiveram contato por essas décadas, para rever a sinagoga que garoto ele freqüentara já que havia resistido aos bombardeios.
E ainda acrescentaram, esses amigos, que "judeus e cristãos fazem muita falta; sem eles não há diversidade, o que é fundamental para ensinar coexistência".
Recomendaria o desenho animado "O Gato do Rabino", dificilíssimo de se assistir por aqui, como ilustração dessa coexistência. E cito o ditado egípcio, Sê amigo do cristão mas só comas com o judeu.
Aqui como se tem dito e redito, pois infelizmente é verdade, coexiste-se cada vez pior. As redes sociais além de ajudarem a nos espionar servem de bordão para bater nos dissidentes da maioria burra, tanto a criatura que postou fotos onde a consideraram "feia" como a atriz que foi demonizada por portar "defeito de cor".
E o país está clivado (de mil maneiras, sul e norte, evangélicos e não-evangélicos, literatos e semi-analfabetos, et coetera ad nauseam) ; com outubro pela frente ou aprendemos a coexistir ou será melhor pedir abrigo na Venezuela, levando de cambulhão os imigrantes que afinal votaram quase todos no gajo. Quem sabe, unindo forças, o que está Maduro não cai? E no caminho para a fronteira, aprenderemos, ainda que no soco, a coexistir.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

as sete encruzilhadas do frei

Quando dizemos "chegamos a uma encruzilhada" o mais das vezes a expressão não corresponde ao que queremos dizer; encruzilhada tem pelo menos três caminhos, aquele pelo que viemos e mais dois.  Ou três, e aí a forma de cruz é perfeita (são as encruzas fêmea e macho na Umbanda).
Mesmo a de três (trata-se na verdade  de uma bifurcação em ângulo reto) oferece diversas opções. Voltar, ficar parado na confluência, ou seguir por lá ou por cá.  E mais uma opção na encruzilhada de quatro; nenhuma portanto significa escolher entre DUAS coisas apenas.
Temos na Umbanda o Caboclo das Sete Encruzilhadas, termo mais associado  aos Compadres, Caboclo esse da linha de Oxóssi e por um curioso caminho também ligado a Obaluaiê, cujo dia este ano cai numa quinta, dia dedicado a Oxóssi; e me mandam falar um pouco dele aqui. E de suas encruzilhadas.
Esse Caboclo foi em vida um frade jesuíta de origem italiana, não um indígena apesar de ter tentado catequizá-los no Maranhão. Não parece ter sido longa, se existiu, a sua permanência no Morro do Castelo no Rio, como sugere o excelente documentário sobre o Morro, recentemente mencionado aqui. Dos sertões maranhenses voltou para Lisboa onde a vida o fixara, e o resto é História. Sua fama de taumaturgo, sua insistência em atribuir o Terremoto ao castigo divino, suas amizades com influentes inimigos da Coroa o condenaram à fogueira já bem idoso, o derradeiro sentenciado a ela, em 1761.
Malagrida deparou-se de cara com a encruzilhada do que fazer com a sua vida, e optou por ser frade. Foram vindo as outras, entre as quais falar ou calar (ele falou)  e a última foi abjurar, fingir que abjurava ou aceitar que dissessem que abjurava os erros imputados, pois foi garroteado antes de morrer, pena suavizada em relação a "ir a morrer vivo" como se dizia. O garrote luso era de couro e aplicado com o réu já amarrado (em tudo diferente da horrenda invenção espanhola que era castigo em si).
O Caboclo chamou a si essa alma pela ligação com a nossa terra e seus primeiros donos, e isso vai bem na linha de Oxóssi. O dom de taumaturgo e o fogo abriram uma porta de comunicação com Obaluaiê. Esse Caboclo tem grande poder de cura para moléstias da pele, mandadas ou não. Sete chacras são as suas encruzas, mas chegou a hora de calar e homenagear esses dois grandes orixás, o frei Malagrida e o Caboclo.
Salve o 16 de agosto, salve a quinta-feira. Salve o Caboclo da Sete Encruzilhadas.
A toto, Okê Arô.


sexta-feira, 10 de agosto de 2018

a lei no bolso

E olha que não ligo para Dias Internacionais da Mulher... (li que a Escandinávia leva a sério o festejo, regado a álcool a noite inteira enquanto os homens olham as crianças).
Mas se fosse preciso, as páginas policiais dos últimos dias nos lembram o que já sabemos, muita mulher morre porque é mulher. Não se trata de assalto, explosão, bala perdida (mas encaixa em casos de terrorismo de um tipo infelizmente tornado comum no Velho Mundo). Vimos mais uma vez estes dias que o flagelo atinge mulher de pedreiro e advogada, sulista e nortista, judia e cristã, e é perfeitamente igualitário na cor de agressor e de vítima.
A maioria dos homens e mulheres a favor da lei de 2015 não acha que todo varão seja estuprador só por ser varão. Naturalmente o representante da bancada da bala que concorre ao cargo máximo, eu não escrevo palavrão, perguntou às mulheres o que preferem, "a lei do feminicídio no bolso ou a pistola na bolsa". Nem parece que ele num assalto teve de entregar a sua para o assaltante, e era então um homem jovem e forte com preparo físico superior à imensa maioria das mulheres.
Morrem meninas de 16 anos e menos, morrem mães na frente dos filhos; e mulheres casadas de novo que tentavam reconstruir a vida, até o agressor brotar da calçada. De todas as cores e religiões e de todas as regiões e faixas sociais. Desde sempre.
Uma lei não corrige modo de pensar de ninguém. Mas saber que a pena será agravada, e aumenta de um terço mais se o crime se der em presença de filho, ajudará a coibir e em todo caso é o mínimo a se fazer pela vítima.
Elza Soares defendendo a mulher que apanha em casa canta " Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim".  A lei defende as que não tiveram tempo ou coragem, como na canção, de dizer "Cadê meu celular?" e ligar pra polícia.

domingo, 5 de agosto de 2018

as calçadas de paraty

Não estou aqui para quebrar lanças pela Festa Literária de Paraty, até porque, conhecendo alguns dos que vão, observo que muitos ou buscam o lugar da moda ou querem falar o mais alto possível; pouco lêem e às vezes acho que o nome deveria ser trocado. Festival Organizado de Debatedores, quem sabe? não, esse talvez não dê certo.
Mas se não freqüento a FLIP gosto muito da cidade e reconheço que não é amigável aos cadeirantes. Nenhum sítio histórico é. Nenhum foi pensado para cadeirante e não menos porque não existiam cadeiras para eles; então não posso concordar com o jornalista que levou um tetraplégico à cidade, conhecendo-a: parece que com intenção de criar caso e de reclamar que a prefeitura não ajeita as calçadas (o que seria proibido no quadro do tombamento).
Mas sim, a festa perde uma oportunidade de deixar de ser barreira e tornar-se porta aberta: bastaria para a duração do evento instalar calçadas e rampas reutilizáveis nos principais acessos.
Macchu Picchu, Huayna Picchu e as torres de Notre-Dame não comportariam esta solução. Paraty comporta. Para a duração do evento anual.
Vivam as cidades tombadas, e viva a qualidade de vida dos cadeirantes, que possam deixar de sê-lo como alguns já vêm deixando.

domingo, 29 de julho de 2018

montando o "Desmonte"

Esse tem de ser visto. A pequena sala em Botafogo vem lotando dias à frente, mercê da venda virtual, mas eu consegui ver no Catete com um amigo, na salinha "protegida por Nossa Senhora da Glória"  emoldurado por música ao vivo e Lua cheia.
Inúmeros motivos para ver "O Desmonte do Monte", além do óbvio de ser a nossa História. A pesquisa séria. A riquíssima iconografia, usando Debret, Rugendas, Eckhout, fotografias dos séculos XIX e XX, mapas e o escambau. Os documentos sonoros provindos do Museu da Imagem e do Som.
A trilha sonora que além dos previsíveis e bem-vindos choros de Callado e Chiquinha inclui o "Canto das Crianças Guaranis", um clássico lançado na década passada e...a narração de Helena Ignez, com voz de mulher de trinta anos.
Por mais informado que você seja, provável que descubra algum detalhe. Não sabia eu de um pormenor crucial,: o prefeito Sampaio que por duas décadas insistiu no criminoso desmonte do morro do Castelo, era simplesmente sócio da companhia de demolição que por fim o executou.
Como sabemos, o único vestígio tombado do Morro do Castelo é um pedaço amputado da Ladeira da Misericórdia, em pé-de-moleque, ligando hoje o nada ao lugar algum. E menos mal que alguém teve dor na consciência na última hora. Aconteceu com o Chafariz do Moura do qual sobrou uma placa e com o Mercado Municipal do qual nos resta uma das torres, o Albamar; o segundo mercado, o art-nouveau. Do mais antigo, colonial, só restam gravuras e descrições, e o nome da rua.
Mas, e isso não está no filme, do OUTRO lado temos vestígios também, na área apropriadamente conhecida por "Castelo". Havia outras subidas por aquele lado, ainda visíveis mas como não houve tombamento quem sabe o que sobrará ao término da construção do que estão erguendo por ali?
Os desabrigados do Castelo não foram realojados, não existia a prática e se tivesse existido, teriam sido jogados para uma Vila Kennedy "avant la lettre". Receberam uns tostões e rua! Quando passar pela avenida rumo ao Fórum e Candelária, separe uns instantes para pensar neles.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

que a terra se molhe com a bênção dos céus

Saluba Nanã.
Nanã nos dá a sabedoria de enxergar o que há de positivo em aspectos nossos de que temos medo. Nos exige e nos faz detalhistas.
Nos ensina a diferença imensa entre terra que a chuva molha e terra que temos de regar.
Mostra através de seu manacá cheiroso que sempre há veios de força, superação, sedução e axé possíveis ao longo do ano.
E rege animais e pássaros de aspecto mais discreto, como as rolinhas cor de barro. E alguns desses cantam e encantam.
Os peixes do fundo do mar lhe pertencem, e seja este protegido da cobiça humana.
Que a terra se molhe com a bênção do céu, e Saluba, Nanã.

sábado, 7 de julho de 2018

que a bolha estoure logo

Que o bico do beija-flor
reduza essa inflada bolha
a um miolo multicor
que ele possa vir sugar;
 todo racismo é abismo
toda clivagem é voragem
todo Brasil é mestiço
todo mestiço é Brasil

Que a bolha estoure logo.

terça-feira, 26 de junho de 2018

ianga ke tipoi, ianga

Agora a macumbeira aqui magoou, e se irritou feio.
No meu querido Circo Voador não. E nem em lugar nenhum. Nem contra ninguém de qualquer cor ou origem.
Não estava lá nessa noite, mas aprecio o maravilhoso trabalho dos ou da DJ, sempre voltado para a produção de todos os rincões brasileiros; nessa noite era uma moça, segundo a coluna do Ancelmo. E decidiu pôr pra tocar "Axé de Ianga/ Pai Maior", que bombou pouco antes do ano 2000 e para os que não ligam o nome à melodia tem o refrão, "Ianga ke tipoi iangá, didianga me".
Sou fascinada pela estrutura das línguas bantas mas os parcos conhecimentos nunca me alcançaram para entender o verso nem achei tradução. O que vem ao caso é a reação de outra moça na platéia, que armou barraco porque a DJ "era branca e não podia tocar essa música".
Querida, pode  tocar, cantar, divulgar e o que mais lhe der na gana, eu também e cada um de nós, brasileiros ou não, podemos. RA-CIS-TA!
Acabo de rever "Ianga" , pela Dona Ivone no bar Pìrajá e pelo Jongo da Serrinha (na Caixa, pelo jeito) este com a presença de músicos negros e brancos como Luiz Felipe de Lima, do candomblé, e a própria Dona Ivone. Que saudades da roda do Gallotti dos tempos do Sobrenatural. Que existe e Deus o proteja, mas sem a roda mágica; composta e freqüentada por gente de todos os tons e procedências. Lá por 1998 "Axé de Ianga" era o carro-chefe; antes fora a chiba de Nei Lopes, que a maluca vai dizer que não podia ter sido tocada.
É proibido agora gostar de Dona Ivone? é preciso ser negro. e de matiz tolerado pela patrulha? Ficou suspeito ser de qualquer outra cor num país de mestiços? Muito além de Dona Ivone, ficou ruim ser da Umbanda, ser mestiço, ser ruivo ou louro ou japonês?
Os ancestrais de muitos "brancos" brasileiros não tiveram culpa alguma da escravidão porque chegaram depois ds Abolição. Os ancestrais de muitos "negros" tiveram, porque venderam os seus
contra-parentes e desafetos aos portugueses (os muçulmanos tendiam a arrebatar mais do que comprar, mas compravam também, na outra costa); porque em terras africanas grassava a escravidão, talvez sem "tronco" mas com sacrifícios humanos; porque tão logo eram alforriados aqui, compravam escravo.
Não é mais patrulha, agora é racismo declarado; virá de uma minoria mas será bom rever os objetivos. Até porque estamos na iminência de ver o cargo máximo da nação ocupado por um sujeito que declarou que nos quilombos os homens nem servem mais pra reproduzir. Deveríamos estar TODOS na rua sem "alas de cor"  exigindo que seja julgado AGORA, como exige o calendário, pelo crime de ameaça e injúria que cometeu contra a deputada.
Que os Pretos Velhos tão citados em "Pai Maior" nos possam valer. Que Xangô nos dê justiça.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Salve a pedreira. Antigamente, e talvez ainda seja assim da Bahia pra cima,  o dia 24 de junho, que celebra o solstício, era comemorado nos terreiros também com cerimônias de porte específicas para Exu.
Exu, claro, sempre é louvado antes de qualquer trabalho, até em festa da Beijada, mas eram comemorações grandes para ele, vinculadas ao dia de São João, que até os nossos dias é a maior festa do interior baiano, unindo católicos, majoritários, e os eventuais filhos de terreiro.
No Rio a tradição em algum momento se perdeu, mas está lembrada nos versos do ponto dos Compadres:
- A bananeira que eu plantei à meia-noite, e só deu cacho na noite de João...

Pois salve a pedreira, a bananeira, as pedreiras onde crescem bananeiras e salve acima de tudo a justiça tão lenta em alguns casos, deixando impunes mandantes e pistoleiros, roubadores da vida alheia...
Cauô Cabiecile, fulmine!


domingo, 17 de junho de 2018

notícia simpática e outra que poderá vir a ser

A simpática é que um determinado pastor evangélico, bem novo por sinal, quer despertar os seus  colegas e correligionários para a "pluralidade de vozes" brasileira. Em vez de quebrar imagem e gravar musiquinha louvando quem quebrou, (sigam o meu olhar, cariocas, é ele mesmo!) uma iniciativa de respeito ao próximo já começada pela pastora que ajudou a reconstruir o que os seus fiéis haviam quebrado, creio que em Nova Iguaçu.
Pormenores nos jornais que noticiaram ontem 16 de junho.

A que pode vir a ser simpática mas por ora inquieta apenas, e também carioca, é que existe uma fazenda linda e em bom estado, primeira feitoria do Brasil, na Ilha do Governador, Morro do Cabaceiro. A construção não está tombada e após denúncia, o INEPAC, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural abriu processo de tombamento, que precisamos desejar acelerado para conter e reverter as obras indevidas que ameaçam a construção.

Notícias como  estas, com potencial para serem boas vêm sendo raras onde seja então aplaudo, porque na Copa arrisca não haver muita vontade de aplaudir...

domingo, 10 de junho de 2018

algo de podre no reino da Dinamarca. Só da Dinamarca?

Acontece de a gente apoiar uma causa, às vezes contra ventos e marés, para mais adiante vê-la seguir estranhos caminhos. Sempre participei das campanhas da Anistia Internacional, já do tempo em que as cartas eram manuscritas. Agora ficou mais fácil, é um clique, em compensação assino a página de 3 países e ainda há a Avaaz, a ForceChange e outras. Mas nem por isso concordo com a posição da filial tupiniquim de só pedir justiça para crimes da Polícia Militar, sem pedi-la para os cometidos contra os seus membros, dizimados por bandidos nas ruas. Cidadania para todos.
No tempo em que morava fora participava de boicotes ao apartheid sul-africano através da rejeição às laranjas do Transvaal entre outros. De volta aos pagos deparei-me com os brinquedos das lojas e a minha filha foi por longos anos uma das poucas, talvez a única, que possuía Barbies negras e morenas porque as pedi ao meu pai que servia fora. Nessa época, da Abertura, floriram bonecos de pano negros e brancos e bebês de borracha e plástico idem, que ainda se vendem. Mas Barbies não.
Agora porém numa onda cada vez mais patrulhadora, de que tivemos exemplo com o burríssimo ataque ao filme "Vazante", atacam de forma covarde uma atriz porque aceitou um papel sem ter a pele no matiz desejado pela patrulha.
Já foi dito o bastante, o pai da moça é negro. Mas se ela tem sobrenome e cara de italiana, e daí? Escolheu-a em vida a homenageada, e a sua família. E tem mais. Eu que vou pouco a teatro, assisti a duas peças de Shakespeare em que o protagonista era negro. Uma pelo menos era nacional. Não vi ninguém do "colorismo" dizer que dinamarquês no palco não podia ser negro. Talento é talento, e a cor não determina.
 Se Fabiana Cozza, que cumpre compromisso em Cuba, país mestiço como o nosso onde a terão apoiado, imagino, voltar atrás e encarnar a Dona Ivone farei questão de ir assistir. Senão nem as melhores críticas..
Tenho lido as declarações de negros e brancos lamentando essa desistência e essa patrulha. O sambista historiador. A jornalista perita em fotografia. Esse e aquele. Ninguém foi mais contundente do que o cronista que diz ter 17 leitores e meio: " A ira, o preconceito e o racismo demitiram Fabiana Cozza."
Um pouco de bom senso por favor.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

xícara de café

A editora Pallas publicou em seu blog, pela ocasião do Treze de Maio, um conto  avulso meu sobre um incidente sem-esquecido  da família, de antes da Abolição.
Tratei-o como uma história policial, o que na verdade é.
A Pallas me diz que o conto ficará acessível sempre por lá, ilustrado oportunamente com um desenho do Debret; e como dele gosto particularmente espero que entrem lá e o leiam!
Abraços

segunda-feira, 7 de maio de 2018

flotes e balas

Existe um livro muito bem pesquisado da Companhia das Letras sobre Abolição ("Flores, votos e balas").
Traz luz para certos aspectos.
Ao contrário do que se poderia imaginar, a maioria dos abolicionistas  de classe alta, negros e brancos, custou a libertar os próprios escravos. O próprio Rebouças, cobrado pela consciência e por alunos (que também os tinham, em casa de papai)  os foi alforriando uma a um; os derradeiros, três ou quatro, já meses depois do Ventre Livre. Pelo menos todos eles chegaram à Abolição sem cativos.
E nunca será demais dizer, o grande Luiz Sá nunca os teve e se recusava a considerar a idéia. Infelizmente morreu relativamente cedo, de tanto brigar na Justiça usando a lei contra ela mesma a favor dos escravos, e assim libertou muitos. (Luiz Sá é aquele mestiço que foi criado na casa-grande pelo pai português e por este pai vendido para saldar dívidas de jogo; e que prosperou graças ao apoio de rapazes de sua idade, filhos dos amos, e que se tornaram amigos).
Outro ponto esclarecedor é a resistência dos escravagistas no interior, muito maior do se imaginaria, às vésperas da Abolição. De um delegado fluminense linchado barbaramente em casa, diante de mulher e filha, porque era amigo de abolicionistas e se recusava a condená-los; até outras barbaridades, cometidas contra os escravos  (ilegalmente) enquanto "podiam", de pura raiva, por alguns escravagistas. Ilegalmente, porque no papel torturas estavam proibidas havia décadas; se tais relatos chegaram até nós porém, foi que mesmo depois da morte de Sá, ainda houve gente para denunciar.
No livro não consta o nome de minha tia-trisavó, primeira abolicionista mulher no Brasil, por se focar mais a Corte e aquelas províncias que libertaram os cativos antes do Treze de Maio. O que não foi o caso do Pará, onde nasceu e viveu Leonor Porto.
Mas batiza uma rua em São Cristóvão; salve a sua memória e acima de tudo salve os Velhos, no Treze de Maio e o ano inteiro.
Saravá Umbanda!

sexta-feira, 27 de abril de 2018

pajés

Que venham boas vibrações e defesas para os indígenas do Norte do País, longe dos olhos das metrópoles. No Sul os Guaranis revindicam mais e costumam manter as suas Op- Y, Casas de Oração, com chocalhos e cachimbos e o que mais tiver de haver. Geralmente violões também, trazidos pelos jesuítas há séculos e muito bem recebidos. Chamam um de maracá e o outro de maracá-mirim.
Lá pelas regiões amazônicas são outros quinhentos.
Por volta de novembro na reserva dos Matsés no Acre redes cortaram, se a denúncia procede, uma sumaúma de simplesmente cinco mil anos, "por engano". Como e possível que na própria reserva se desmate sem controle? existem etnias pela região que  não permitem a aproximação de madeireiros. E bota "não permitem" nisso. Prestam um serviço ao país. Mas o caso para os Matsés parece ter sido outro. E um crime sem volta se cometeu. A sumaúma não era só deles e muito menos dos madeireiros. Era patrimônio universal.
Um pouco mais ao sul, Rondônia com Mato Grosso, os Suruís se deixaram inteiramente dominar pela agressividade de pastores evangélicos. Ninguém mais falava com o pajé ou ex-pajé, pois um pajé que não produz magia, em quem ninguém mais quer acreditar e cujas ferramentas foram queimadas junto com a resiliência e a combatividade, já se tornou ex-pajé. Para evitar o isolamento total, o pobre homem passou a ir aos cultos em português.
A ditadura expulsava rotineiramente padres católicos (e não raro os baleava ou torturava "por engano", como caiu a sumaúma)  e já é tempo que a democracia controle e remova, pacificamente, os missionários que se mostrarem incapazes de respeitar as diferenças,
Que os espíritos da mata iluminem o pajé suruí. E que ele saiba proteger os espíritos da mata.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

a guerreira e o Guerreiro

Dia 23 de abril chegando.
São Jorge corresponde a Ogun apenas no Sul, lá na Bahia o santo católico equivale a Oxoce e Ogun é São Bento, tão presente nos cantos da capoeira.
Mas peçamos todos ao santo, aos santos, que ajudem a solucionar o tenebroso caso da vereadora assassinada, e do motorista que cumpria junto a ela os seus últimos dias de contrato e tinha emprego novo esperando por ele; que as pistas achadas levem a buscas, apreensões e confissões. Que não sigamos precisando dividir o ar com mandantes e matadores.
Marielle era devota de São Jorge, não sei se de Ogun também porque não a conheci, e nem mesmo votei nela, votei no colega de chapa, a quem conhecia um pouco; ambos votadíssimos.
Não votei nela, só podendo escolher um vereador, não fui ao evento da Lapa,para o qual recebi um convite virtual, e acabaram-se as oportunidades de conhecê-la. Senti a perda como a maioria de nós sentiu e tenho rezado diariamente pelo que chegou a hora de pedir ao santo, caminhos que levem à punição dos culpados e à limpeza que a vítima preconizava.
Caminho de vida ela fez muito bonito, creio, e seguiu fazendo com a sua morte, tornando-se mais visível.
Que se abram as portas para as suas vitórias;
saravá Ogun guerreiro e salve São Jorge padroeiro do Brasil,

segunda-feira, 9 de abril de 2018

na esquina

Na minha esquina tinha uma mangueira,  ainda nova, plantada por morador, cercada com grade de ferro doada e instalada por outro morador, e regada quando estava muito seco por outra moradora que era eu.
Aí uma criatura convenceu a Prefeitura de tirá-la porque "manga mata criança".  Se cair na cabeça, mata. Bum, splaft! Não conheço casos desse calibre mas a Prefeitura se rendeu às razões.
Poste também mata se cair e a rua está cheia deles. Passei por acaso na hora, tiravam a mangueirinha com as raízes (tanto que foi Parques & Jardins que removeu, e não a infame viatura da Comlurb que cortaria) prometeram instalar numa praça e iam pôr um pau-brasil ainda menor no lugar. E depois que fui embora, levaram a grade que não era da Prefeitura e haviam prometido recolocar!

Bom. Ou ruim. Mas todos cuidamos do pau-brasil quando estava seco. Isso durou nem dez dias; a mesma criatura apareceu com mudas de jibóia e (depois que fui embora) uma lona verde, com que cercou o tronco; alergia às jibóias, à lona plástica ou à pessoa, o pau-brasil morreu em dois dias.
Aí começou o histórico de reclamações junto ao 1746 do senhor Prefeito, telefone criado pelo digno antecessor. Quatro protocolos, e nada. Ou por outra sim, refizeram as calçadas ao redor das três árvores do local, INCLUSIVE o falecido pau-brasil. Ficou uma beleza, parabéns sinceros. Mas cadê a árvore nova? E a grade que levaram indevidamente embora?

Hoje soube que um engenheiro esteve no local e não viu necessidade para a remoção. Indignada, abri nova reclamação e ... a atendente inteligente matou a charada,
O moço veio e viu que a árvore não perigava cair na cabeça de ninguém (bum splaft! pra cabeças vazias, árvore é só ceifador de cabeça)  e nada fez.
A gentil atendente explicou que algum colega errara ao digitar "remoção de árvore". Tinha de pôr "troca de árvore recentemente plantada", é OUTRO departamento e mais um protocolo.
 Mandem os seus pensamentos positivos; vamos ver se agora vai!

domingo, 8 de abril de 2018

contente, eu?

Como se pode estar contente? Claro que aquele ex-presidente se roubou devia ser preso; como já estão outros políticos que se criam intocáveis e ainda deveriam ser outros mais, idem idem.
Mas contente?
Contente com um sonho destruído de milhares e milhares? Não foi a condenação que destruiu o sonho, foi o próprio condenado.
Contente com a perspectiva de que, atrás das grades (ou de dentro da sala especial fornecida pelo presídio), se lance candidato novamente?
Contente com o ruído das casernas e com o regozijo daqueles que desde o primeiro dia já criticavam, porque tinham saudade dos tempos de ferro e chumbo?
E contente de ver um seu amigo político e odiador do verde.. se pre-candidatando fagueiro apesar de declarado inelegível? (imagina a hecatombe de árvores em todo o Estado do Rio..)
Contente de ver a classe dos magistrados se mobilizando para que não seja punida a loquaz desembargadora que repetiu os factóides grosseiros, lidos nas redes que escolhe visitar? Um de seus colegas declarou que ela é sempre criticada entre seus pares pela forma de se vestir; não por caluniar aos mortos, ou aos vivos. Contente com as nobres preocupações dos digníssimos juízes?

Só fazendo como a personagem do cartunista hoje no Globo, que não tem certeza se para melhor preparar-se às eleições deve praticar ioga; ou kickboxing.
Sugiro então que nos mantenhamos afiados com artes marciais que agucem ambos aspectos,
aikido por exemplo.
Vamos precisar dos dois.


sexta-feira, 6 de abril de 2018

o mesmo céu

Semanas e semanas de perturbações eletrônicas nada são ao lado do que vivemos na cidade e no país. Ficamos cogitando qual será o candidato menos pior nas eleições vindouras, e cogitamos, mesmo sabendo que no frigir dos ovos haverá apenas dois, e pensar quais esses dois perigam ser, ou pelo menos um destes dois, é pensamento que não deixa dormir à noite.
Até porque deitamos sabendo que uma das melhores vereadoras que o país já se orgulhou ainda tem impunes seus matadores e mandantes. Estão entre nós nas ruas do Rio, sob o mesmo céu, o mesmo sol e a mesma chuva. Sim, há carradas de homenagens por toda parte, mas nem a trazem de volta nem apontam os culpados.
O México será um país belíssimo mas não queremos viver nele. Há corruptos que pulam da ponte ou se enforcam para não ser presos, há outros que mandam matar quem levanta a lebre. No Brasil, a primeira espécie é bem mais rara.
Basta de barbárie.



nem em SP nem em lugar algum!

Verdade que foi no que o Xexéu chamava a "estranha cidade ao sul do país".
Mas onde fosse é inacreditável o que o aluno branco postou ao ver um colega negro na área de fumantes (namorando uma menina branca o que deve ter piorado a coisa na cabecinha).
O agressor foi suspenso três meses, mas precisa ser é expulso além do processo que corre automaticamente quando se dá queixa em distrito policial. Pois claramente o seu lugar não é por enquanto na FGV.
O aluno, a vítima, declarou coisas do tipo "você não me conhece, sou mais antigo que você aqui"  o que nem vem ao caso. Fosse o seu primeiro dia na universidade, ser chamado de "escravo à espera do dono" simplesmente não pode existir.
E dias depois outro aluno com letra de analfabeto (DOIS motivos para também não ficar na FGV: nem em São Paulo, queridos) postou a sua solidariedade ao agressor.
Falta muita cidadania nesse país e a todos os níveis.  (12 de março 2018)

o estado é laico

Dei um bom crédito pro Senhor Prefeito em quem naturalmente não votei para ver se apesar dos antecedentes fazia alguma coisa boa. Me fiz em silêncio de advogado do diabo. (Será oportuno lembrar a respeito dos antecedentes que gravou uma musiquinha anos atrás defendendo o pastor chutador de imagens).

Mas agora precisa ser destituído, e já.
Estamos vendo que aquela tentativa de nomear o filhote foi apenas uma amostra. O MP já investiga os privilégios que a senhora mãe do político recebeu no hospital municipal (queriam não gastar, porém com tratamento diferenciado); os horrores que o ex-prefeito perpetrou junto a Parques e Jardins e Comlurb, referente às árvores, não foram desmanchados ainda por este; pegou pessimamente se queixar do frio para onde ninguém o mandou ir, quando  na cidade que o elegeu houve mortes devidas à chuva concentrada. E ainda chama essas férias européias de viagem de trabalho, pagas dos cofres públicos (sempre esse cuidado imenso com as finanças próprias... O MP também investiga.)
Mas o pior de tudo creio (ele não é obrigado a gostar de carnaval, nem tem culpa da chuva; só é um sem-noção inacreditável) o pior de tudo são os cultos evangélicos organizados na Prefeitura (me dizem que no pilotis, mas onde seja.)
NÃO PODE, Sr Prefeito. Se ainda fossem ecumênicos, com rabino, pais ou mães de santo, padre católico, ainda seria descabido porque ao contrário do que este senhor pensa O ESTADO É LAICO.
Mas não são ecumênicos não, que esperança. 

E me havia escapado mas acabo de ver, organiza cultos evangélicos em diversas escolas públicas usando como pretexto o famigerado ensino religioso, que os evangélicos impuseram.
Destituição já.
Xô Crivella, brocoió xô.

(texto circulado antes do anterior, fevereiro 2018,  e como ele agora inserido no que é o seu lugar correto: o blog caminhodasfolhas)

quantos mais...


De mortui nil nisi bonum. 
Esse refrão do tempo dos romanos foi desrespeitado pelas pessoas que postaram factóides contra a vereadora morta do PSOL. 
Leio que o partido de extrema-direita (eu considero extrema-direita) mbl (não merece maiúsculas) e de cujo inacreditável candidato à presidência  tomei ontem conhecimento da existência pela reportagem da "Época"  foi responsável por muitas dessas mentiras. Uma campanha orquestrada de difamação contra quem já tinha morrido, algo bem mais perverso e tentacular do que as sandices da nobre desembargadora que as leu e repassou.

Cabe outro chavão em latim, Cui prodest? A quem aproveita o crime?
Ambos crimes; o crime de divulgar factóides com propósitos indefensáveis, e o crime de morte.
Bem, não vou escrever o que penso porque gostaria de continuar viva mais um pouco, abençoando passarinho e coisa afim e condizente. Vale ler a matéria da "Época" inteira. 
Quando assassinam pessoa casada, diz que a polícia descobre que em mais da metade dos casos o mandante é o cônjuge.  Quando morre um parlamentar no Brasil...

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

cativeiros

A Líbia é um areal com oásis de fertilidade criados ou não pela mão do homem, onde coexistem (não se pode falar de convivência) três ou quatro tribos inimigas das quais pelo menos duas acolheram alegremente núcleos de matadores do E.I. quando este se expandia. A "revolução" consistiu em matar a pedradas o ditador, que pôs a Líbia no mapa porque na ONU votava consistentemente a favor dos desvalidos, contra o apartheid e tal; e após essa "execução" sem julgamento todos puderam se dedicar ao esporte de brigar entre tribos, o que o ditador não permitia até porque exaltava a sua própria em detrimento das demais.
Mas os líbios descobriram há poucos anos outro passatempo bem rentável, adaptado dos tempos antigos quando iam capturar escravos mais ao sul: apreender os candidatos a refugiados que aparecem no território fugindo de suas próprias guerras. Melhor ainda, trazidos por intermediários que aproveitam a falta de informação, analfabetismo, ausência de políticas públicas e tal para conduzi-los exatamente onde os estão aguardando com ansiedade para trabalhar nas residências e pomares, sem salário algum.
Isso soa familiar porque existe no Brasil, onde dão o injusto nome de "gato" ao intermediário, assim como na China o mesmo sujeito é chamado de "cobra". Só que aqui são quase sempre homens que caem na esparrela, e a Líbia aprecia cativas mulheres que têm mais de um uso. Da Nigéria chegam muitas, fugindo justamente de estupro familiar.
Isso também soa déjà vu, déjà entendu. No Brasil e no mundo, casos escabrosos resistem em lares de TODAS as classes. Não é privilégio da Nigéria, que está longe de ser o pior país africano para se viver. Inclusive para as mulheres; e por aí mesmo se vê o abismo que é preciso preencher com muita cidadania.
Enquanto subsistirem escravos e escravas legais (Mauritânia) ou tolerados pelo mundo, ninguém, como diz Caetano Veloso, ninguém é cidadão.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

vive la france

Intelectuais e artistas francesas se posicionaram, não a favor do assédio, mas contra a forma de que vem sendo tratado nos EUA (e por tabela aqui, onde não parecemos ainda capazes de construir pensamento independente).
Vive la France.
Está ficando ridículo. Evitemos o ridículo. Assobiar na rua pra uma mulher não é crime. Isso é coisa de quem não gosta de homem. E quem de fato não gosta mas se sabe bonita aos olhos masculinos, ora, que agüente, não tira pedaço. Eu também fui assediada algumas vezes por  mulheres com outra preferência sexual e tirei o corpo fora sem ter crise de asma nem ir à polícia.
O Brasil está ficando, nas metrópoles, ridículo, de tanto sectarismo e patrulha ideológica.
Assédio no trabalho, misturado com ameaça ou chantagem, é algo muito diferente- mas ameaça e chantagem já são crimes. O único assedio que me incomodou até hoje, e muito, foi em casa de santo, pela forma inadequada e deselegante; denunciei a quem devia, ao dono da casa que proibiu a entrada ao safado e ao então namorado de quem era supostamente amigo.
Comentei em "Umbanda Gira!" num pé de página e mais não merece o sem-vergonha que talvez já tenha partido ad patres. E embora levantasse ao vê-lo de mesa em que estivesse sentada, explicando o porquê aos presentes, nunca me ocorreu denunciar à polícia que nada tinha que ver com o assunto.
Vive la France! Assino embaixo. Um pouco de bom senso por favor

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

resgatando

Início de ano... a chuva apenas traz notícias alegres.
E também, ler que numa escola pública parisiense uma dupla de professores: um homem, uma mulher; ela judia, ele árabe pelos pais, dão juntos aulas de História das religiões para semear um pouco de paz e entendimento.
Sem isso há alunos muçulmanos que tentam censurar aos berros as aulas de História e impor o vestuário às mulheres que acham que deva ser o adotado.
Mas voltando à dupla, eles descobriram que durante a ocupação nazista um imã fez o que vários católicos fizeram e ajudou judeus a se esconder, fornecendo falsos certificados de religião muçulmana e até escondendo na mesquita várias pessoas. Os muçulmanos eram menos mal vistos pelo nazismo.
Infelizmente o imã foi denunciado ou descoberto, foi deportado e morreu em Auschwitz;  a memória deste herói foi resgatada pela dupla mista, e que o seu exemplo possa guiar.

Muitos padres franceses salvaram judeus, principalmente crianças, fornecendo falso certificados ou ajudando a se esconder; de muçulmanos é exemplo único, pelo menos entre os sacerdotes. Pode ter havido outros heróis anônimos laicos.

Que o ano que entra com chuvas tão refrescantes esfrie os ódios e sectarismos. Na França, no Brasil e em todo lugar.
Laroiê Exu.
Epa Hei Oyá.