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sexta-feira, 29 de abril de 2016

gente não é peão de xadrez

...mas pelo mundo acham que é.
Na Síria, Assad acaba de matar o último dentista e o último pediatra de Alepo e estava focando alvos civis no bombardeio que os matou, a eles e a várias crianças e enfermeiros.
 Já aqui, estão tentando nos fazer crer que o governo que criou o Bolsa -família precisa ficar no poder para sempre ou o benefício acabará. Isso tem nome, sabia? Nome feio daqueles.
Nunca fui contra o Bolsa-família e inclusive o defendi e defenderei; mas não a essas custas. Sou sim contra não o princípio do Minha Casa mas a maneira com que é executado, nas coxas.
Era a oportunidade para o governo recém-eleito preocupar-se com meio-ambiente lá atrás, usar energia solar e sistema de água ecológico, botando por exemplo a água cinza para a descarga.
Como é que é? ah sem dúvida, entregaria menos unidades. E daí? estas vagabundas que entregou, já rachando, não chegam perto da meta também não... O caso é que o partido no poder JAMAIS teve consciência ecológica, acha que é coisa de burguês e um militante me disse isto textualmente. O militante além de antipático era burro, mas era sincero; insinceros são os militantes que chegaram ao poder e que usam a sinceridade do burrinho. E os seus estranhos aliados.
Por isso pergunto, com as moças que foram reclamar na Cinelândia: até quando? até quando vamos ver os nobres Cunha e Bolsonaro se entre-elogiando? como é possível que não esteja preso um, como é possível que não esteja cassado ainda o outro, após as declarações mais de um ano atrás, denunciadas aqui, sobre a honra que seria para determinada parlamentar ser estuprada por ele? Agora é que após os elogios ao mais notório torturador da ditadura é que parece que enfim vão abrir o processo com que acenaram um ano atrás.
Xô facínoras; e que qualquer que seja o governo, gente passe a ser respeitada, e não tratada como peão em tabuleiro.


sábado, 23 de abril de 2016

ogun


Salve ele sempre e nos dê caminho:


" Saravá Ogun, mandinga da gente continua
cadê o despacho pra acabar?
Santo guerreiro da floresta,
se você não vem eu mesma vou vingar."

Ogunhê!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

lacrimosa dies irae


Pedreiros raramente são associados a sensibilidades climáticas; pescadores sim, mas pedreiros... É luta para que ponham máscara. O calor abrasador e fora de época fez dois suspenderem o trabalho. primeiro o ajudante, rapazinho magro e forte, depois o principal, homão enorme. Eu os ouvia aqui do lado reclamarem do calooor, calooor, e ouvi-os avisarem que suspenderiam até vir algum ventinho. E assim foi feito; mas a parca brisa que permitiu a volta deles ao trabalho umas horas depois não vingou. Estamos na boca do inferno, avisos não faltaram e ainda há alienados que acham bom porque dá praia.
Serão cinco semanas sem chuva no Rio na quarta-feira; pior ainda é a temperatura absurda, que após as Águas de Março retrocedeu para padrões inusitados e insuportáveis.
Sigam desperdiçando água; conheci quem por preguiça de abrir e fechar torneira na sua cozinha abria o registro e aí lavava copo, enchia vasilha e tal, para só no fim parar a saída da água e não cansar os dedinhos. Sigam achando que o problema não é seu e que "tem muita água". Sigam dando as costas para o verde.
As Sibilas e as Cassandras estão com a goela seca de tanto prever; mas ninguém previa exatamente isto, mormente após um verão mais do que razoável. Que agora estamos pagando.
Sinto-me dentro do tradicional réquiem, solvet saeclum in favilla. Favilla sendo o nome dado ao borralho quente onde ardem brasas. Não se apagam estas com lágrimas.
Se todos não colaborarem poupando água e aprendendo a atrair chuva, dies irae, dies illa.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

cumprindo o papel

Na Nigéria o Exército fez bonito, expulsando o Boko Haram de muitos lugares, libertando muitas moças capturadas e reduzindo as áreas onde os famigerados implantavam práticas não africanas como apedrejamento; que tampouco é prática muçulmana "stricto sensu"; é um sinistro uso pre-islâmico, atestado no Velho Testamento e adotado com entusiasmo por muitos países islâmicos isso sim, como o Irã, que nem árabe é. Ali os aiatolás têm modernizado o processo de execuções, enforcando a torto e a direito; mulheres também. Aquelas fotos de gente tão simpática, com cara de intelectual, de compadre da gente, moças bonitas e tal, nas mãos de ativistas iranianos em Paris?... tudo gente que foi recentemente enforcada.
Voltando à Nigéria, aplauda-se o exército que cumpriu o seu papel, que é este e nenhum outro, daquele ou deste lado do oceano... Mas aí acabam os festejos. Pois apesar de libertadas as moças, razoavelmente limpas e bem alimentadas nas fotografias, são refugiadas em seu país: a guerra destruiu famílias e casas, e muitas não têm para onde ir. Pesa-lhes a desconfiança e o desprezo de todos- inclusive do Exército, que as alimenta e acolhe- por terem vivido com o Boko Haram. Algumas trouxeram filhos nos braços; meninas de oito anos para cima eram estupradas, e como o modus operandi há anos é o mesmo por ali, a descrição que elas dão do cativeiro bate milimetricamente com a que  Leonora Miano, dos Camarões, relata em seu livro publicado em português pela Pallas, "Contornos do Dia que Vem Vindo". Miano não descrevia islâmicos mas sim grupelhos terroristas sem religião explícita e claro, sempre se terrorizam as mulheres primeiro para ter a quem estuprar.
Não é que a vida esteja imitando a arte, é que a vida por ali tem sido muito ruim mesmo. Não que esteja boa na maioria das regiões daquele sofrido continente.
Talvez demorem muito a melhorar de vida as refugiadas, muçulmanas ou não, que saíram das garras dos extremistas hauçás na Nigéria; talvez piore antes de melhorar. Mas podemos rezar pelas crianças que conceberam deles:  que possam crescer numa África melhor.


domingo, 3 de abril de 2016

com exeção de todos os demais

Tudo sempre pode piorar; mas acontece às vezes de ficar tão ruim que até melhora. Então tomara que seja assim em Angola. E se muitos de nós assinarmos, entrando no portal da Anistia por todos os nossos endereços e todas as vezes que nos depararmos com alguma petição, moveremos talvez não o mundo, mas as portas de alguma cadeia. Toda hora acontece.
Pois lá piorou mais um pouquinho. Manuel Chivonde Nito Alves, ativista de Direitos Humanos e um dos 15 de Luanda que são agora 17, não gostou de ver o juiz desrespeitando o seu pai, dele Chivonde. Foi logo ameaçado de se complicar mais. Declarou que pouco lhe importava de perder a vida, que o julgamento era palhaçada mesmo. Imediatamente foi posto à parte para novo julgamento e periga levar pena maior do que a máxima dos 17 que vem a ser nada escassos oito anos. Fora as delícias do cárcere luandês.
Denunciar o governo angolano, que ainda exibe os louros desbotados do tempo da independência como se hoje os pudesse merecer, é ajudar a todos que lá lutam por uma real democracia.
Democracia que aqui, ali e lá se for democracia será parecida. "O pior de todos os sistemas com exceção de todos os demais" disse Churchill e nisso tinha razão. Em país democrático com freqüência há corrupção e roubalheira, e têm de ser denunciadas. Corrigidas na medida do possível. Trabalho de formiguinha, sim.
Faltam países democráticos na África de norte a sul; alguns países se desfazem de tal forma que democracia nem é a questão primordial. Torno a citar o Botswana com um raro exemplo apesar dos problemas que enfrenta; e por isso choca mais ainda que um salão de Caxias, RJ, cujo nome fantasia é exatamente esse, tenha exigido de uma funcionária negra alisar o cabelo para se "adequar ao padrão estético" da casa. A casa, se bem lembro, perdeu há pouco na Justiça.
Viva a democracia.