Bem-vindo ao Blog do Caminho das Folhas.

domingo, 23 de janeiro de 2011

de abraços e chuvas

O calor racha miolos e asfalto, sinto-me culpada por desejar a chuva (mas um jornalista escreveu outro dia que não é a chuva que deve ir pra cadeia), por não ter escrito uma linha sobre a catástrofe deste ano (o Marcos Palmeira, que tem sítio ecologicamente sustentável na região, já fez isso muito bem), e o que me vem á mente e gruda que nem chiclete são considerações sobre os abraços. Tá, Eduardo Galeano também já escreveu sobre abraços, mas os meus são bem pão pão, queijo queijo e nada simbólicos.
Dia 31, eu virei a meia-noite (a suposta meia-noite. É horário de verão...) sozinha porque não queria que os primeiros abraços do ano fossem com pessoas nada próximas. Fui pro mar e lá fiquei. Pois na semana passada, antes da Lua cheia, entre segunda e sábado, veio uma enxurrada de abraços, de família, de paqueras antigos e novos, em suma, me pergunto se tanto abraço teria havido sem a minha atitude radical.
Às vezes é preciso saber rejeitar algo que a vida oferece porque realmente nos desmerece aceitar (tanto que o paquera novo rodou porque olfactivamente não encaixou), e há outros momentos em que se precisa aceitar o que fica aquém do pretendido porque é o que dá para colher. Como distinguir?
Além do seu eu superior, consulte, observe os sinais. Veja se as suas plantas, a sua pele, os seus animais aplaudem a sua decisão. E quando se fala de pele não é apenas o que os fabricantes de sabonete chamam a "cútis"; não apenas o estado da epiderme, mas a sensação que por ela passa. Se uma pessoa lhe faz trincar os dentes, você não deve abraçá-la... por irresistível que ela se ache. Se uma situação lhe cai mal, não fique. Na aurora dos tempos usávamos infinitamente mais o nosso sexto sentido; cuide bem do seu porque não se sabe em que ponto a curva se fecha e o antes pode virar agora; a seguir derretendo o mundo como estamos fazendo, pode ser para já.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Jonas usando chapéu

Reclamar adianta, mentalizar também: de tanto eu reclamar acabaram destocando o tronco seco na esquina e plantando ali algo que ainda não identifiquei mas não é oiti, nada contra mas já há muitos... De tanto eu incomodar pedindo licença para plantar Thevetia peruviana acabaram plantando duas, quase no Largo do Machado. Parabéns ao Rio que ganhou dois pés de árvore tão bonita. (Sim, querer licença para plantar coisa que seja é pedir demais principalmente a governantes que querem mas é cortar para “compensar” plantando noutro local... Separei algumas sementes pro meu herói, sr João Severino, que arborizou toda a Estellita Lins. E antes disso tinha levado outras pra encosta aqui perto, breve irei ver como estão.)
Thevetia não serve para remédio e suas flores até onde sei não inspiraram floral. Vendo as flores de jurubeba branca (Solanum asperolanatum) senti a compulsão de elaborar uma essência que sempre uso (e depois descobri que no Nordeste outros preparam também) já as lindíssimas flores em tons de fogo da árvore amazonense ainda não me falaram n´alma. Talvez por ficarem distantes daqui todos os pés existentes, em termos de transporte para essência floral. Vingando algum aqui pertinho, quem sabe? O “meu” se mantém pequeno e falastrão, sem flores nem frutos.
Outro nome dela (às vezes há mais de um nome científico, e demora até um ser o “oficial”) é Crysophyllum lucumifolia. Bem, lúcuma é uma árvore frutífera amazonense, que nunca vi mas agora imagino como sejam as folhas, estreitas e lisinhas; e no Caribe existem outros tipos de Crysophyllum/Thevetia; o nosso, pelo menos, de frutos eminentemente impróprios para o consumo.
Mas fortes! Servem de proteção e talismã para muitas linhas diferentes. Pelo nome popular usado se tem uma ideia de onde vem a pessoa: do Rio à Bahia, chapéu-de-napoleão; São Paulo para baixo usa o nume tupi aguaí; ignoro os nomes que a Amazônia usa, afinal veio de lá; e o Nordeste usa o nome masculino Jonas.
Eu hein?! Pensei das primeiras vezes, um nome tão sem graça para planta tão feminina, se a moda pega vão batizar de Zé, Waldomiro... Me ocorreu depois que o caroço do fruto, pardo e deitado dentro do fruto barrigudo de forma vagamente pisciforme, pode sim lembrar o Jonas engolido pela baleia. Um sistema de referências menos políticas e mais bíblicas do que “chapéu de napoleão”. Meses atrás fique triste ao visitar os de Botafogo, um dos três estava doentinho. Outro dia se recuperara e já havia mais três novinhos e floridos, uma colônia de aguaí. Agora é o da Cobal que está tristinho, que em 2011 se recupere e dissemine muitos rebentos maravilhosos de se ver!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

só agora começou

Quem trabalha com astrologia ou magia sabe, ciclos não iniciam em final de Lua. Portanto o ano novo só pensou em começar mesmo na terça-feira, dia da Lua Preta. (E para quem trabalha com Feng Shui tradicional a virada é no Ano Novo chinês, não por alguma deferência à nação inventora da técnica, mas porque o ano Novo deles não começa quando começa à toa.)
Mesmo sabendo disso todos preferem passar a data alegres e em boa companhia. Nem sempre se consegue. E a fase da Lua influi com certeza. A virada minha ano passado (alguém lembra do luão quase cheio?) foi uma das minhas Cinco Melhores. Desse ano foi como a maioria, na base do mais ou menos. Não se compara a uma das Três Piores (não vou contar) porém como diversas viradas minhas e de todos, tendeu como definiu o grande Vanzolini pra “um pouco mais menos do que mais”. (Tive, mais uma vez como todos, diversas outras um pouco mais mais do que menos, fiquem tranquilos.) Na hora H preferi entrar o ano honestamente sozinha com os pés dentro d´água; as pessoas com quem teria visto a meia-noite romper (mais um parêntese? mais um: meia-noite de verdade é uma hora depois, gente, se estamos no horário de verão...) essas pessoas, dizia, acabaram não podendo descer e me despedi das outras minutos antes. “Na base do mais ou menos” não deixa ninguém muito animado por mais que se saiba astrologia. Mas no último dia da Lua precisei ajudar uma pessoa que na rua passava por uma crise nervosa e claro, vem aquela coisa que tem gente passando pior do que a gente. A pessoa inclusive escreveu para agradecer o que foi simpático e confortador.
Agora virada ruim mesmo passou a psicóloga que se trancou na mala do carro alheio e passou ali três dias (os que faltavam praquela lunação terminar, por sinal). Hoje é o primeiro dia da Lua e bola pra frente...